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Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 19h54.
Desde que a Turquia iniciou o processo de secularização, na década de 30, o país não vive um momento tão crucial em sua história. Naquela ocasião, por decisão do ditador Mustafá Kemal Ataturk, o alfabeto foi ocidentalizado, as mulheres ganharam direitos inéditos para os padrões muçulmanos e o capitalismo floresceu (hoje há 5 000 multinacionais instaladas no país). A continuação desse proces so, no entanto, está em risco.
Em dezembro, a União Européia vai decidir se a Turquia poderá fazer parte do poderoso bloco econômico ou se terá de ficar de fora. Além de definir o futuro do capitalismo no país, a resposta ganhou dimensão internacional por causa do atual contexto político. Se a Turquia tiver seu pedido negado, analistas temem que o país se transforme num caldeirão para o radicalismo religioso e para o terrorismo (um ambiente pouco favorável aos negócios). Se for aceita no grupo, esses especialistas dizem que a Turquia pode tornar-se uma referência democrática para outros países muçulmanos.
Mesmo entre os adversários da adesão, reconhece-se que a Turquia fez a sua parte para entrar no bloco europeu. O primeiro-ministro Recep Erdogan, um ex-radical islâmico, é o maior entusiasta da adesão e vem tomando uma série de atitudes que reforçaram a opção turca por um estado secular e democrático.
Na parte política, o poder do Exército foi reduzido, o Judiciário reformulado e o novo Código Penal, que abole a pena de morte, foi aprovado no final de setembro. Na economia, Erdogan abandonou velhas crenças para implementar conceitos como responsabilidade fiscal e superávit primário. Resultado: o PIB cresceu à média de 8,4% nos últimos dois anos e a inflação está sob controle, na casa dos 13% ao ano.
Apesar do esforço, não há garantias de que os turcos serão aceitos na União Européia. Os adversários da adesão -- partidos e governos mais nacionalistas -- têm uma série de argumentos para justificar essa posição. Alguns dizem que a entrada da Turquia provocará um fluxo de migração dentro do bloco e uma revoada de empresas atrás de mão-de-obra mais barata (o país seria o maior da União Européia em população, com 71 milhões de habitantes).
Mas o maior problema é mesmo o islamismo. A Europa é um clube de países cristãos com várias legendas políticas carregando essa bandeira. O discurso da democracia cristã é que o deslocamento de grupos terroristas pela Europa será facilitado caso os turcos sejam membros do grupo. É uma posição que apavora a população. Resta saber o que vai prevalecer na decisão final. O medo ou o mérito.