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Boa Vida | A cor mais quente

Viva o rosé, que passou de pária entre os vinhos a estrela das tardes ensolaradas

Vinho rosé: até meados do século 20, houve um boom de vendas de rosés docinhos, baratos e de baixa qualidade, capazes de conquistar o paladar de consumidores emergentes (MarkSwallow/Getty Images)

Vinho rosé: até meados do século 20, houve um boom de vendas de rosés docinhos, baratos e de baixa qualidade, capazes de conquistar o paladar de consumidores emergentes (MarkSwallow/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 05h28.

Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 10h48.

“Quando cheguei ao Brasil, mais de dez anos atrás, só havia dois vinhos rosés na carta do restaurante Fasano”, diz o italiano Massimo Leoncini, que foi wine manager do grupo por quase uma década e hoje é sommelier executivo da importadora Grand Cru. “Fui para o Rio de Janeiro ajudar a montar o Fasano Al Mare. Como a culinária lá é baseada em peixes, eu disse que precisava ter vários rosés na carta. ‘Esquece, não funciona’, me responderam. Não acreditei e comecei a consultar diretamente os clientes. Ninguém queria saber de rosé. Na época, existia até o preconceito estúpido de dizer que era coisa de gay.”

Coisas da década passada. Hoje, o consumo de rosé está am alta. No Brasil, a importação de vinhos desse tipo passou de 1 milhão de litros, em 2014, para 5 milhões, em 2018, segundo a Ideal Consulting. Isso representa um crescimento de 278%.

“Não é moda”, diz o argentino Mariano Levy, sócio-fundador da Grand Cru. “O aumento no consumo de rosé vem acontecendo há alguns anos.” Ou seja, o consumidor está descobrindo as qualidades do rosé, um vinho leve, fresco e apropriado às tardes ensolaradas de primavera — e mais fácil de harmonizar do que o tinto.

Talvez fosse melhor dizer que esse consumidor está redescobrindo essas qualidades, pois os rosés já fizeram muito sucesso no passado. Achados arqueológicos indicam que boa parte dos vinhos produzidos na Antiguidade eram rosados. Os lavradores plantavam, colhiam e vinificavam as uvas brancas com as tintas. Não que não existissem brancos e tintos. Gregos e romanos já produziam ambos. Mas os taninos dos tintos costumavam ser muito rústicos e não eram tão apreciados. Isso dava uma vantagem aos rosés.

Com o tempo, brancos e tintos foram sendo aprimorados. Mas o rosé sempre teve seu lugar na história. Até que, em meados do século 20, houve um boom de vendas de rosés docinhos, baratos e de baixa qualidade, capazes de conquistar o paladar de consumidores emergentes. Porém, conforme as pessoas foram aprimorando o paladar, rosés passaram a ser tachados como bebida para quem não entende de vinho.

Um forte trabalho de marketing da Vins de Provence, associação de produtores da Provença, no sudeste da França, virou o jogo no começo desta década. O grupo organizou ações de educação, promoveu degustações e entrou com forte presença nas feiras de vinho pelo mundo.

Especializada na produção de rosés claros, leves e frescos, a ensolarada região, destino de férias do jet set europeu, conseguiu renovar a imagem do rosé como vinho de balada. “Começaram a distribuir baldes de gelo cheios de rosé da Provença pelos clubes de Saint-Tropez”, diz Leoncini. “Aí, pegou.” Com uma ajuda das recém-nascidas redes sociais, é bom lembrar.

A cor clara, a mistura exuberante, mas equilibrada, de frutas, flores e ervas no nariz, o paladar limpo e o preço pouco popular criaram um padrão de elegância que conquistou gente endinheirada mundo afora. Brad Pitt e Angelina Jolie, quando eram casados, compraram uma propriedade na região e começaram a produzir seu Miraval Côtes de Provence Rosé.

Nos Hamptons, onde milionários nova-iorquinos têm casa de praia, bebia-se tanto rosé da Provença que o vinho ganhou o apelido de água dos Hamptons. Em 2018, isso virou uma marca: Diving into Hampton Water, um rosé que não é da Provença, é do Languedoc, região também no sul da França. Uma grande sacada de Jesse Bongiovi, filho do músico Jon Bon Jovi, que decidiu produzir um vinho no estilo da Provença, mas em uma região com maior capacidade de produção.

Não foram os únicos a ter essa ideia. Nem os primeiros. Muita gente se inspirou na Provença e vem produzindo rosés clarinhos, delicados, já há alguns anos. Até a comunicação visual é parecida, com rótulos claros, com fundo branco.

Podemos dizer que, com isso, a qualidade média dos vinhos rosés subiu? Sim, no caso dos vinhos de entrada, especialmente no Novo Mundo, onde muitas vezes os rosés eram desequilibrados, muito pesados, feitos pelo método de sangria (uma prensagem que tira só parte do suco da uva e deixa o resto fermentando em contato com as cascas), com o objetivo de produzir tintos mais concentrados.

“Isso não quer dizer que todo rosé mais escuro e concentrado seja ruim”, diz o sommelier Diego Arrebola, sócio da consultoria EntreCopos. “Nem que todo rosé estilo da Provença seja bom. Aliás, não podemos nem mesmo dizer que todos os rosés da Provença sejam bons. A cor do vinho e o método utilizado para produzi-lo não são o que importa. O que realmente conta é o cuidado do produtor, sua habilidade.”

E o terroir, é claro. “Na França inteira sempre foram feitos bons rosés”, diz o conde francês Geoffroy de la Croix, dono da importadora De la Croix, em São Paulo. “Na Provença e no sul do país, de forma geral, são produzidos rosés muito sedutores, bastante frutados e florais. Mas, como é uma região quente, pode acontecer de faltar acidez. Em regiões mais frias, como Bordeaux ou norte do Rhône, o problema é o oposto: podem faltar aromas, o vinho ser menos sedutor, mas ter acidez, mineralidade. Mas dentro de cada região há terroirs especiais onde o vinho tem tudo: intensidade e complexidade aromática, mineralidade, boca elegante e boa acidez.”

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