Símbolo do sucesso: Xangai é a capital econômica do país e uma vitrine da China moderna para o mundo (Feng Li/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2012 às 11h54.
Pequim, Xangai e São Paulo - Quem andasse pelas ruas de pequim a dez dias do início do 18o congresso do partido Comunista Chinês, marcado para 8 de novembro, não perceberia nenhum sinal da aproximação do evento de escolha do novo presidente e da cúpula do governo do país pelos próximos dez anos.
Num processo diametralmente oposto à recente eleição presidencial americana, o Congresso pouco desperta a atenção da população da segunda maior potência econômica do planeta. Uma estudante universitária de Xangai, coração econômico do país, chegou a dizer que teria de pesquisar no Baidu, a versão chinesa do Google, para saber a data da mudança.
Não que ela se importasse muito com a iminente troca de guarda de seu país. “Isso aqui é a China”, disse ela, pedindo para não ser identificada. “Minha opinião não faz a menor diferença. Além disso, o próximo presidente já está escolhido há anos. Todos sabem disso.” É verdade.
Todos já sabem que Xi Jinping, atual vice-presidente do país, é o escolhido para ser o secretário-geral do PC e, portanto, também o próximo presidente do país. A opinião da estudante é a mesma de quase três dezenas de chineses ouvidos por EXAME nas cidades de Hangzhou, Xangai e Pequim durante a segunda quinzena de outubro.
Os chineses também pouco sabem sobre Xi, além do fato de ele ser filho de um dos líderes da revolução chinesa próximo do ex-timoneiro Mao Tsé-tung e de ser casado com uma cantora do Exército. Aos 59 anos, Xi é formado em engenharia química e doutor em direito. É conhecido por posições liberais e por apoiar a continuidade das reformas econômicas.
Em um país com 4 000 anos de história, e onde democracia nunca passou de uma ideia estrangeira, esse desinteresse é compreensível. A transformação da China nos últimos 30 anos é algo sem precedentes, e as políticas de abertura econômica não serão alteradas pelo novo presidente, muito pelo contrário.
O maior desafio de Xi Jinping será manter o país no mesmo rumo que tirou 300 milhões de pessoas da pobreza nas últimas duas décadas e tornou a China um dos motores vitais da economia mundial. As decisões do novo presidente serão acompanhadas com lupa por governos e empresários do mundo todo.
O objetivo é claro — levar a prosperidade para o próximo bilhão de chineses. Mas o caminho, não. O modelo de exportação de manufaturados e pesados investimentos em infraestrutura terá de ser refinado. Mais chineses terão de trocar o campo pela cidade. E todos terão de gastar mais.
A revolução que começou com as quinquilharias de 1,99 vai subir de patamar: as empresas terão de passar dos carrinhos de brinquedo para os carros elétricos de verdade. Foi quase impossível lutar contra a China dos produtos baratos. Agora será a vez de enfrentar uma China cada vez mais sofisticada.
“Essa mudança é importantíssima para a Ásia, para o mundo e, sobretudo, para o Brasil”, diz o ex-ministro de Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior Sergio Amaral, atual presidente do Conselho Empresarial Brasil-China. As exportações de bens primários continuarão crescendo em ritmo acelerado. Mas isso não significa que o Brasil esteja fadado a mandar somente soja, minério de ferro e celulose para o outro lado do mundo.
Mais de 520 milhões de pessoas devem ascender à classe média na China até 2021, estima o analista Homi Kharas, do centro de pesquisas americano Brookings Institution. Se até 2030, como está planejado, a renda per capita triplicar e a classe média urbana chinesa chegar a 1 bilhão de pessoas, o país terá um potente mercado consumidor para qualquer produto.
As empresas brasileiras podem estar diante de um mercado inesgotável, mas também terão de enfrentar uma nova geração de empresas concorrentes endinheiradas, qualificadas e potencialmente letais — na China, os parques tecnológicos passam de 300, e 2,2% do PIB é investido em pesquisa e desenvolvimento.
Disparidades
O casal Zhang Hui Hai, de 38 anos, e Weiwei Ma, de 32, representa bem a classe média chinesa. Casados há quatro anos, os dois vivem com o filho de 1 ano e 4 meses num apartamento próprio em Xangai. Ambos saíram de suas cidades no interior para estudar e trabalhar. Zhang é gerente de recursos humanos numa fábrica de exaustores de cozinha e ganha por ano o equivalente a 83 000 dólares.
A mulher é tradutora e trabalha como autônoma para ter mais tempo para o filho. “Quando criança, ter um carro ou viajar de avião eram sonhos impossíveis”, diz Weiwei. Não mais. O casal tem um sedã japonês Mazda na garagem do prédio. Zhang e Weiwei levam uma vida confortável em uma das cidades mais ricas do país e sonham com o fim da política de um filho por casal — um novo filho significaria mudança para uma casa maior.
Histórias parecidas existem aos milhões — mas os chineses passam do bilhão. O país é muito maior e mais complexo que meia dúzia de cidades que se transformaram em mecas de consumo na última década, como Xangai, Pequim e Shenzhen, classificadas pelo governo como cidades tier 1, ou de primeiro nível.
A renda média per capita chinesa nas áreas urbanas é de 10 000 dólares anuais — próxima da média brasileira —, enquanto na zona rural não passa de 3 000 dólares. Mais: 10% dos domicílios mais ricos do país detêm 85% dos ativos pertencentes às famílias chinesas, segundo revelou uma pesquisa realizada pela Universidade do Sudoeste da China.
Mobilidade social é uma coisa; a inevitável tensão entre ricos e pobres é outra. “A disparidade é o principal desafio que o país tem de resolver”, afirma Fan Gang, presidente do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e professor da Universidade de Pequim. Atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas ainda vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de 2 dólares por dia.
Uma das principais transformações que Xi terá de comandar é o desenvolvimento de uma rede de proteção social. Ironicamente, poucas sociedades assimilaram tão bem o conceito de Estado mínimo quanto a China “comunista” — isto é, no aspecto da prestação de serviços públicos.
O único serviço gratuito prestado à população pelo Estado é a educação básica (os 12 anos de ensino compulsório). E, mesmo assim, se o aluno tirar notas tão ruins a ponto de não conseguir se classificar para uma escola de ensino médio, sua família terá de pagar pelo ano repetido.
Universidade pública, como se conhece no Brasil, não existe. As universidades são, sim, do governo, mas todas são pagas. Nos hospitais públicos, se o paciente não tiver dinheiro, não é atendido. Mas o que acontece se ele estiver com uma doença grave? “Volta para casa e espera pela morte”, diz uma médica, que pede para não ser identificada.
Apesar de o governo ter começado a implantar um sistema de aposentadoria há cerca de 20 anos, os benefícios são baixíssimos e cobrem apenas parte da população. Qualquer aumento de renda entre os chineses mais pobres se transforma em consumo de itens de primeira necessidade.
Por isso mesmo, no Brasil o segmento que mais deve se beneficiar dessa expansão da população urbana chinesa é o agronegócio. A expectativa é que até 2020 o consumo chinês de soja cresça 67%; o de frango, 55%; e o de suínos, 42%. “O governo chinês tem grande preocupação com a segurança alimentar e quer garantir comida para a população”, diz Marcos Molina, presidente do Marfrig, frigorífico que detém a marca Seara. “A China será o maior consumidor de alimentos do mundo, e vamos participar disso.”
Para aproveitar esse potencial, Molina resolveu seguir a recomendação da cartilha chinesa: por meio da subsidiária Keystone Foods, fornecedora americana de hambúrgueres adquirida pelo Marfrig em 2010, ele formou no ano passado duas sociedades na China. Uma parceria é com a estatal Cofco, para distribuição, e a outra com a privada Chinwhiz, voltada para a produção.
O objetivo é abastecer 2 600 restaurantes na China, em Hong Kong e no Japão. A Cofco é a maior produtora de comida industrializada da China e líder em importação e exportação de grãos, óleos e alimentos. É uma das 53 empresas chamadas de “supergrandes”, administradas diretamente pelo Conselho de Estado chinês.
Graças ao poder de fogo do parceiro, hoje mais de 5 500 pontos de venda na China têm 70 produtos da marca Seara, produzidos no Brasil e exportados. No início do ano, a concorrente BRF usou estratégia semelhante à do Marfrig. Criou uma sociedade meio a meio com a Dah Chong Hong para distribuir produtos no mercado chinês, processar carnes e desenvolver a marca Sadia.
“A população rural que migra para as cidades tem menos tempo para tarefas domésticas, e isso aumenta a demanda por alimentos em que somos especializados”, afirma José Antonio Fay, presidente da BRF. Ele cogita abrir uma fábrica no país em 2014.
No terreno das matérias-primas, o cenário também é positivo para os setores que lidam com a exploração de minérios, em especial o minério de ferro. Os investimentos em infraestrutura tendem a diminuir, mas a migração nos próximos 20 anos de 300 milhões de camponeses — o equivalente a praticamente um Estados Unidos — para as cidades vai manter o fôlego da construção civil.
Estima-se que em 2030 mais de 200 cidades terão mais de 1 milhão de habitantes — hoje são 146. Para efeito de comparação, em 2010 a Europa inteira tinha apenas 35 cidades com esse número de habitantes. A China absorve aproximadamente metade do minério de ferro brasileiro.
Na Vale, principal empresa do setor, em dez anos as vendas à China cresceram oito vezes. A Suzano, do setor de papel e celulose, começou a exportar para a China 20 anos atrás. Hoje, 34% de sua produção de celulose vai para lá — e o plano é vender ainda mais. “Nos próximos dez anos, nossa intenção é dobrar a participação no mercado chinês”, diz Alexandre Yambanis, diretor da unidade de negócio de celulose da Suzano.
Antes de contar com essa bonança, porém, é preciso entender que a ideia de tirar os chineses do campo e colocá-los nas cidades requer equilíbrio, controle e cautela. Entre as peculiaridades da China, uma das menos conhecidas, mas das mais importantes na estabilidade de um país com 1,3 bilhão de habitantes, é o sistema hukuo.
Todo chinês se registra junto às autoridades locais e recebe a classificação de trabalhador urbano ou rural. Isso permite ao governo controlar a migração para as cidades, mas gera duas “classes” de cidadãos. Entre os trabalhadores das cidades, 40% têm direito a aposentadoria, ante 60% dos que são do campo.
Mas a relação entre os valores é inversa: na cidade o benefício é de 3 000 dólares anuais; e na área rural, 1 000. Mudar o sistema, o que na prática seria remover os obstáculos para uma urbanização mais agressiva, está no topo da agenda do Partido Comunista. A questão é como fazê-lo sem gerar um êxodo em massa para as cidades.
Apenas nos anos 90, 126 milhões de pessoas deixaram o campo rumo às cidades para ocupar uma vaga nas fábricas voltadas para a exportação. Esse exército de migrantes permitiu que a China ganhasse uma escala sem paralelo no mundo. As Ferraris, as bolsas Louis Vuitton, as joias da Tiffany e até o prosaico café no Starbucks, que na China também é símbolo de status, mostram que as palavras de Deng Xiaoping (“Enriquecer é glorioso”) foram levadas ao pé da letra.
Deng assumiu o poder em 1976, após a morte de Mao Tsé-tung, e deu início à política de abertura econômica. Mas, por causa do hukuo, apenas uma parcela dos chineses conhece a glória da prosperidade, como mostra um episódio vivido por um entrevistado de EXAME. Ele relatou a história sem o menor tom de indignação.
Assim que sua filha nasceu, um oficial da comunidade (espécie de síndico e representante do governo chinês, que supervisiona parte do bairro) bateu à porta de sua casa para perguntar quem eram as duas pessoas que estavam hospedadas lá havia duas semanas. Eram seus sogros, vindos do campo para ajudar a cuidar da neta recém-nascida. O oficial anotou as informações, tirou fotografias e deu permissão de permanência temporária. É assim a vida na China comunista.
Corrupção
Além do gerenciamento das tensões sociais, a manobra capitaneada por Xi nos próximos anos será executada em um ambiente político em transformação. Segundo o instituto internacional de pesquisas Pew Research, nos últimos quatro anos a parcela da população chinesa que considera muito preocupantes temas de responsabilidade direta do Estado cresceu fortemente.
A preocupação com a corrupção passou de 39% para 50%. No início do mês, o PC formalizou a expulsão de Bo Xilai, um alto integrante do partido acusado de enriquecimento ilícito e cuja mulher foi condenada pelo assassinato de um empresário britânico. Do lado da economia, o cenário também inspira cuidados.
Os efeitos da crise internacional já se fizeram sentir a ponto de a China ter mudado de patamar de crescimento. O cenário mais aceito por analistas é que a economia deve passar a crescer de 7% a 8% nos próximos anos e, depois, baixar para algo entre 6% e 7%. É muito menos do que a média de 10% que perdurou por 20 anos até a crise de 2008?
“Sim, mas é preciso notar que os 7,5% de crescimento vão representar bem mais do que os 10% de anos atrás”, diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências. Afinal, são 7,5% sobre um PIB de 7,3 trilhões de dólares. Há cinco anos, o PIB chinês era de 2,3 trilhões, equivalente ao do Brasil atual.
O poder de compra dos chineses, porém, avança mais devagar. Para manter a indústria competitiva, os reajustes salariais sempre ficaram abaixo dos ganhos de produtividade. Como quase não há seguridade social, o chinês prefere guardar para a aposentadoria a consumir, o que prejudica a expansão do mercado interno.
Para complicar, o dinheiro depositado nos bancos tem taxas de remuneração negativas para bancar empréstimos a juros baixos para os investimentos em infraestrutura. Em busca de um rendimento melhor, os chineses investem na compra de imóveis, o que gera o medo de uma bolha nesse setor. A esta altura, a renda per capita dos chineses ainda é de apenas 5 450 dólares, cerca de metade da brasileira.
“A China pode cair na armadilha da renda média: conseguir sair da miséria, mas não dar o salto até o nível dos países ricos”, diz o economista Eduardo Costa Pinto, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Por isso, a nova cúpula comandada por Xi precisará apertar o passo. “Há um consenso de que a transição de um modelo para o outro precisa ser acelerada”, diz Tatiana Rosito, conselheira para assuntos econômicos da embaixada do Brasil em Pequim.
Quaisquer que sejam, essas medidas terão enorme repercussão para o Brasil — para o bem e para o mal. Na avaliação do economista Roberto Dumas, da escola de negócios Insper, o novo modelo de crescimento vai tornar a China um país ainda mais onipresente na economia internacional e afetar a vida de empresas de todos os setores.
Dumas viveu na China quatro anos como executivo do banco Itaú BBA e fez mestrado em economia chinesa na Universidade de Fudan. “É preciso definir como vender para o país, avaliar como fazer parcerias com empresas chinesas ou optar por produzir na China”, diz Dumas.
“Quem não fizer nada disso será cobrado pelo acionista, porque a força econômica da China só tende a aumentar.” No discurso, o governo brasileiro, por intermédio da Agência de Promoção às Exportações, vem incentivando as vendas de produtos que possam cair no gosto da nova classe média, como vinho, café, sucos, chocolate e até calçados, um dos setores da indústria brasileira mais prejudicados pela concorrência chinesa.
Na prática, porém, governo e empresários brasileiros vêm perdendo oportunidades de conhecer o mercado chinês. Apenas quatro empresas brasileiras enviaram representantes à cidade de Hangzhou, em outubro, a um evento de promoção do comércio entre China e países da América Latina, realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) — as empresas participantes foram BRF, Odebrecht, Stefanini e Tecsis.
A Apex nem sequer indicou um empresário de pequeno ou médio porte, que teria as despesas pagas pelo BID. No evento, foram realizados mais de 1 500 encontros de empresários chineses e latino-americanos. “O momento é ímpar para o comércio global”, diz Marcos Lélis, coordenador da Unidade de Inteligência Comercial da Apex. “A segunda economia do mundo é um país em desenvolvimento, com um mercado em franca expansão, o que abre oportunidades para empresas de todos os setores.”
Se existem avenidas para entrar no mercado chinês, elas são de mão dupla: a China quer que suas empresas se tornem ainda mais competitivas, especialmente fora do país. Um estudo coordenado por Lia Valis Pereira, economista da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, identificou que o país asiático avançou nos nossos vizinhos latinos, em detrimento dos exportadores brasileiros.
A participação da China nas importações da América do Sul passou de 5% em 2002 para 16% em 2011. A do Brasil, ao contrário, que chegou a 17% em 2006, caiu para 13%. De 2008 a 2011, o Brasil perdeu 7 bilhões de dólares em transações nessa parte do continente.
A diversidade de setores atingidos impressiona: máquinas, móveis, brinquedos, aço, plásticos, tratores, carros e equipamentos elétricos são apenas alguns dos itens. As perdas foram especialmente altas em setores como máquinas e equipamentos — 61% ao todo, sendo que mais da metade da retração representa perda de mercado para produtos chineses.
“As empresas ocidentais, listadas em bolsa, precisam elevar os lucros para valorizar as ações e remunerar os acionistas. As chinesas aceitam retornos muito baixos e em sua maioria são estatais, beneficiadas com empréstimos a juros camaradas”, diz Rubens Besi, diretor de estratégia da Marcopolo, fabricante gaúcha de carrocerias de ônibus. (E Besi nem precisa mencionar o custo Brasil.)
Desde o início da crise de 2008, a Marcopolo perdeu 40% de seu mercado no Chile, 30% no Peru e 10% no Uruguai — adivinhe para empresas de que país? No ano passado, Besi participou de um programa da escola de negócios Fundação Dom Cabral que mostra como fazer negócios com os demais países do bloco Bric. “Na rodada chinesa, o representante do governo disse que o país tinha 3 trilhões de
dólares em caixa e havia separado 1 trilhão para ajudar empresas chinesas, de setores considerados estratégicos, a comprar empresas estrangeiras”, diz Besi. “Isso me assustou.” Na lista apresentada estavam setores em que o Brasil se destaca, como mineração, petróleo e alimentos.
De 2008 para cá, a China anunciou 30 bilhões de dólares em investimento na aquisição e na instalação de empresas no Brasil, em sua maioria com representantes da nova geração de negócios chineses. A Sinopec, estatal de petróleo, comprou 40% da Repsol Brasil. A Huawei, fabricante de produtos de telecom, assinou acordo para a instalação de um centro de pesquisa em Campinas.
A Chana Motors, terceira maior montadora de veículos da China, vai construir uma unidade em Anápolis, em Goiás. A Foxconn, montadora de celulares, em Manaus desde 2005, anunciou uma nova fábrica para montar tablets em Itu, no interior de São Paulo, ao lado da Lenovo, conterrânea que fabrica computadores.
A estratégia da China é usar o Brasil e demais emergentes como uma espécie de laboratório para o aperfeiçoamento de produtos chineses até que eles tenham qualidade e sofisticação para disputar com o que há de melhor em países como Estados Unidos e Alemanha.
A dificuldade dos produtos brasileiros em competir com os chineses cresce na mesma proporção que pioram nossos problemas estruturais — além das vantagens construídas pelos chineses, temos de lidar com obstáculos que são de nossa responsabilidade. “Utilizar a China como bode expiatório não é o melhor caminho.
O destino de nossa indústria depende de um conjunto de ações internas para superar nossas deficiências estruturais”, afirma o economista Alexandre de Freitas Barbosa, da Universidade de São Paulo, autor de um estudo sobre o impacto da concorrência chinesa sobre a indústria brasileira de manufaturados.
O segredo da revolução econômica chinesa foi, antes de tudo, o planejamento. “Nas últimas décadas, a China teve a economia mais bem gerenciada do mundo”, diz Paulo Vandor, da consultoria Monitor Group, que tem se dedicado a estudar a estratégia dos orientais. “Os chineses têm objetivos e planejamento de longo prazo, revisados permanentemente.
Os planos quinquenais são detalhados com o que cada setor tem de fazer.” A cúpula chinesa é formada por uma maioria absoluta de engenheiros. Isso pode ser discutível, por deixar de lado visões humanísticas. Mas Xi e seus pares são planejadores pragmáticos. E devem buscar o que a China precisa em sua nova etapa.
“Em dez anos os chineses deverão ter as melhores universidades do mundo e os maiores centros de biotecnologia”, afirma Vandor. A China acaba de escolher sua liderança para os novos caminhos, e tem clareza do que quer. Precisamos de uma clareza semelhante — quanto antes.