BM&FBovespa: especialista em bolsas emergentes explica porque a China passou a ser mais atraente para os investidores estrangeiros (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 15 de junho de 2012 às 16h34.
São Paulo - Em agosto de 2009, o egípcio Mohamed El-Erian, presidente da Pimco, uma das maiores gestoras de recursos do mundo, com 1,3 trilhão de dólares de patrimônio, chamou o Brasil, a China e a Índia de "economias emergentes notáveis".
Num artigo no jornal Financial Times, El-Erian escreveu que esses países eram interessantes para os investidores porque tinham o potencial de oferecer retornos atrativos com riscos relativamente baixos. Sua análise, porém, foi fugaz. Hoje, a visão da Pimco sobre a bolsa brasileira não é das mais otimistas — ao menos, no curto prazo.
A gestora lançou recentemente seu primeiro fundo de ações dedicado a países emergentes, e a participação do Brasil é modesta: só 3% do patrimônio do fundo está aplicado aqui, um quinto do total investido na China. O que mudou?
"A economia brasileira precisa se ajustar para evitar o superaquecimento, e esse não é um ambiente favorável ao crescimento dos lucros", disse a EXAME Masha Gordon, vice-presidente da Pimco, responsável pelo novo fundo.
Aos 37 anos, Masha é uma especialista em bolsas emergentes: gerenciou os fundos de ações voltados para esses mercados no banco Goldman Sachs durante sete anos, foi analista de empresas e, antes de trabalhar no setor financeiro, foi correspondente do jornal The Washington Post em Moscou.
EXAME - Quais são os principais riscos para os investidores que aplicam em ações no Brasil?
Masha Gordon - A economia brasileira tem crescido acima de seu potencial, que acredito seja de 4,5% ao ano, e isso tem gerado pressões inflacionárias difíceis de ser contidas. A capacidade ociosa das empresas caiu muito, o desemprego também, e os sindicatos ganharam tanto poder para negociar salários que podem levar algumas empresas a perder competitividade.
A economia precisa se ajustar para evitar o superaquecimento, e esse não é um ambiente favorável ao aumento dos lucros. As margens devem diminuir, o que prejudica o preço das ações. Precisamos ver o ciclo completo da redução dos lucros e ter certeza de que as companhias são capazes de resistir à desaceleração.
Queremos nos certificar de que não há esqueletos no armário que podem ser escondidos em períodos de forte crescimento. Além disso, o papel mais forte desempenhado pelo Estado está influenciando a percepção dos investidores em relação ao potencial de retorno de grandes empresas abertas.
EXAME - Então o fundo não investe em Petrobras e Vale?
Masha Gordon - Não divulgamos nossa carteira de ações, mas certamente essas empresas não estão entre as nossas favoritas. Podemos ganhar com o crescimento da Petrobras aplicando, por exemplo, numa empresa como a norueguesa Seadrill, que tem contrato para fornecer plataformas de exploração de petróleo à companhia brasileira.
EXAME - Também há forte influência do Estado na economia chinesa. Por que a China é, hoje, mais atraente que o Brasil?
Masha Gordon - A China está mais adiantada no ciclo de aperto monetário, que já começa a ter efeitos na economia — há sinais de que a inflação vai se estabilizar e de que teremos uma desaceleração gradual do crescimento.
O país também está à frente do Brasil em duas áreas cruciais para garantir um crescimento sustentado: a formação de mão de obra qualificada e os avanços na educação. Segundo a Unesco, os brasileiros com mais de 15 anos passam, em média, 4,9 anos na escola, e os chineses, 6,4 anos.
Isso torna a China mais capaz de aproveitar momentos de expansão. O país vive um interessante período de transição de uma economia exportadora para uma focada em consumo, e isso gera oportunidades de investimento, especialmente em ações dos setores de consumo e imóveis. Nesse sentido, a China é muito melhor que o Brasil.
EXAME - Ainda assim, o fundo tem cerca de 30 milhões de dólares investidos em ações brasileiras. Onde ainda há boas oportunidades na Bovespa?
Masha Gordon - Estão nas ações que ficaram baratas demais em razão da miopia de alguns investidores. É o caso dos papéis de bancos e de empresas de construção — os preços refletem um cenário muito pior do que se espera para o país.
Também gostamos de empresas que não dependem tanto do cenário macroeconômico e podem crescer se tornando mais produtivas, cortando custos ou liderando a consolidação em seus setores, como algumas companhias de alimentos e de saúde.
De forma geral, as ações de empresas de países emergentes oferecem maior potencial de retorno que as de mercados desenvolvidos, mas os eventos recentes mostram que é preciso fazer uma análise cuidadosa para, realmente, ganhar dinheiro em lugares como o Brasil.