Hillary Clinton, no Ted Women: o formato original deu origem a milhares de conferências (Michael Brands/TED)
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2011 às 09h07.
Última atualização em 31 de julho de 2017 às 17h52.
São Paulo - No início dos anos 80, o arquiteto americano Richard Saul Wurman fundou uma organização sem fins lucrativos especializada em promover ciclos de palestras nas áreas de tecnologia, entretenimento e design. Aproveitou as iniciais dessas palavras para batizar o projeto de TED.
Desde os primeiros anos, em Monterey, na Califórnia, as palestras foram uma tentatva de reunir algumas das mentes mais brilhantes do globo. A primeira edição da conferência apresentou ao mundo o computador pessoal da Macintosh e o compact disc.
No início dos anos 90, o TED já era uma referência em como apresentar conteúdos complexos e inovadores de maneira concisa e acessível. Em 2001, o jornalista Chris Anderson, que na época era editor da revista Business 2.0 e de outros títulos relacionados à internet, comprou o TED.
Com Anderson, nascido no Paquistão e educado em Oxford, na Inglaterra, o TED atingiu um novo patamar. A essa altura, os temas discutidos extrapolavam as áreas de conhecimento originais e incluíam discussões sobre educação, política, gestão e saúde. As celebridades faziam fila para ocupar o palco e a plateia.
Mas foi em 2006 que Anderson (homônimo do editor da revista americana Wired) teve uma ideia que libertou o TED do mundinho dos americanos descolados. Decidiu oferecer gratuitamente na internet todos os vídeos das palestras.
“Foi uma das melhores decisões que já tomei. O alcance do TED passou de menos de 1 000 pessoas uma vez por ano para meio milhão todos os dias”, disse Anderson em uma entrevista recente ao jornal inglês The Guardian.
No aniversário de cinco anos do site, os vídeos já tinham sido vistos 500 milhões de vezes. No total, há cerca de 1 000 palestras disponíveis e algumas se tornaram virais, como a da neuroanatomista americana Jill Bolte Taylor, que conta, em detalhes, sua experiência ao sofrer um derrame.
Acesso gratuito
Antes de decidir colocar as palestras gratuitamente na internet, Anderson chegou a considerar a hipótese de que o YouTube poderia arruinar seu modelo de negócios. O desenlace, porém, foi justamente o contrário. Devido ao aumento do número de interessados, o preço do ingresso do evento passou de 4 000 para 6 000 dólares.
As palestras saíram do espaço em Monterey, com 800 cadeiras, para um anfiteatro de 1 500 lugares em Long Beach, também na Califórnia, com transmissão simultânea para 500 pessoas num resort em Palm Springs, a 2 horas de carro dali. Com o aumento da procura, a partir de 2009, o evento passou a acontecer duas vezes por ano.
No primeiro semestre, o encontro mais tradicional continua na Califórnia. No segundo, as palestras têm um caráter itinerante — neste ano, aconteceram na Escócia entre os dias 11 e 15 de julho.
No TED, há pouco espaço para o improviso. A palestra da neuroanatomista Jill levou seis meses para ser preparada por Anderson e por uma equipe cuja missão é transformar acadêmicos numa espécie de astro do rock. Todos têm, no máximo, 18 minutos para fazer a apresentação. Quando é conveniente, explora-se o humor com a perfeição de uma stand up comedy.
O sucesso provocado pela entrada na internet levou ao segundo fenômeno envolvendo o TED. Anderson criou, em 2009, o chamado TEDx, um licenciamento para que organizadores de qualquer parte do mundo possam realizar as palestras. Desde então, foram realizados 2 038 eventos TEDx em 107 países.
Há 1 162 agendados para os próximos meses. No Brasil, ocorreram mais de 20, como o TEDx São Paulo, em 2009, e o TEDx Amazônia, em 2010. Acessível também a empresas, aos poucos o licenciamento abre espaço no mundo corporativo. Por aqui, o precursor foi o Santander Brasil.
O banco realizou em 2010 a primeira versão corporativa da América Latina. Ao replicar o formato de palestras curtas, o banco encontrou uma maneira de motivar a equipe com a troca de histórias pessoais dos funcionários e, ao mesmo tempo, melhorar sua imagem externa ao aliar sua marca à do TED.
“Esses eventos conseguem, como nenhum outro meio, colocar sua mensagem e sua marca em contato com um público extremamente qualificado. Para empresas, é uma oportunidade valiosa”, diz o publicitário Rory Sutherland, vice-presidente do grupo Ogilvy em Londres.
“O YouTube tem outras fontes de vídeos inteligentes, mas o formato do TED é algo único e inovador”, diz Peter Fader, professor de marketing da escola de negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia.
Várias das universidades mais renomadas do mundo, como Harvard, Yale e Stanford, utilizam vídeos do TED em sala de aula. “Quando você pensa historicamente em instituições que representam o conhecimento, pensa nas universidades de ponta.
Quando pensa em sua melhor representação do presente, pensa no TED”, diz Jonathan Greenblatt, professor de empreendedorismo na Universidade da Califórnia. E tudo em apenas 18 minutos.