A história da indústria certamente está na história da Ford. E não se trata apenas de um aforisma.

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O que o banho de loja de R$ 3,3 bilhões na fábrica da Ford conta sobre a indústria 4.0 na América do Sul

A montadora renovou a planta de General Pacheco, na Argentina, e agora espera uma produção de picapes 70% maior do que em 2022

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O que o banho de loja de R$ 3,3 bilhões na fábrica da Ford conta sobre a indústria 4.0 na América do Sul

A montadora renovou a planta de General Pacheco, na Argentina, e agora espera uma produção de picapes 70% maior do que em 2022

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Por André Lopes

Publicado em 04/05/2023, às 09:30.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:14.

A história da indústria certamente está na história da Ford. E não se trata apenas de um aforisma.

Do padrão de fabricação das aceleradas linhas de montagem fordista do século 19, até a massificação do automóvel pelo modelo T, o primeiro carro da marca, o expansionismo da empresa de Henry Ford deu o tom da industrialização de uma dezena de países, que no começo do século 20 conheciam pouco sobre a arte de fabricar.

Na mais recente página dessa história de transformações, um novo ímpeto de inovação surge através da indústria 4.0, uma revolução que parte da automação robótica e conectividade, mas que dá sinais de que terá na Ford importância equivalente à da qual se originou a companhia.

A reportagem da EXAME visitou, a convite da empresa, o novo conceito de fábrica 4.0, implementado em sua derradeira planta na América do Sul, em General Pacheco, na Argentina. Localizada pouco mais de meia hora do centro de Buenos Aires, a região também abriga a poucos metros da Ford uma fábrica da rival Volkswagen.

Fruto de um investimento de US$ 660 milhões (R$ 3,3 bilhões), no espaço, que abriga a linha de montagem da Nova Ranger, a empresa espera dar continuidade ao seu plano de tornar os veículos que vende no continente como os mais premium de seus segmentos.

No ''banho de loja'' que o espaço de mais de 50 anos recebeu, por assim dizer, a automação chegou, nas palavras do vice-presidente da Ford na América do Sul, Rogelio Golfarb, ao estado da arte do que hoje é possível para plantas que se modernizam.

Em uma das atualizações, 318 novo robôs inteligentes, que utilizam inteligência artificial, foram instalados para detectar, por exemplo, processos produtivos que envolvem mensurar se o torque aplicado a um parafuso instalado está igualmente apertado entre milhares. Com esse nível de precisão, a empresa garante que todos os veículos que passam pela linhas de montagem tenham um controle qualidade jamais visto.

''Os braços mecânicos e a inteligência da fábrica em sem gestar sozinha em partes das linhas de montagem são apenas um dos pilares que idealizamos para o futuro da Ford. A qualidade das entregas só vai aumentar a medida que implementamos mais conectividade, sistemas autônomos e eletrificação. Tudo isso acontece ao mesmo tempo em um plano que antecipamos anos antes'', afirma Golfarb.

Para aumentar a produção em 70%, e chegar a uma produção de 110 mil veículos, ante 50 mil unidades de 2022, uma nova prensa, que produz as peças da carroceria da linha 2024 da picape Ranger, foi necessária. Funcionando como uma impressora gigante, o equipamento sui generis exigiu a elevação do teto de um dos galpões para conseguir abrigar o novo maquinário.

Fabricado pela alemã Schuler, estampa as 26 partes de aço que compõem a Nova Ranger  em uma velocidade de 900 peças por hora,em ritmo produtivo que apenas robôs poderiam entregar – para quem olha, o visual e estrondo das máquinas é digno de um frame da trilogia documental Koyaanisqatsi, de Ron Fricke.

Robôs na cena

Mudanças produtivas como a proposta pela Ford em Pacheco fazem parte dos ciclos industriais. No entanto, há mais sobre o que se pensar além da entrada de braços robóticos em linhas produtivas de larga escala.

Nas revoluções industriais anteriores, a resposta sempre esteve clara. Na primeira, ainda no século 18, a invenção da máquina a vapor catapultou a produtividade ao mecanizar tecelagens.

Na segunda revolução, de meados do século 19 em diante, o mundo se transformou rapidamente com a energia elétrica — bondes e iluminação nas cidades, por exemplo — e com outras fontes de energia, como o petróleo.

Na terceira revolução, após a Segunda Guerra Mundial, surgiram os primeiros computadores e robôs: foi o início da automação.

Agora, tudo parece mais confuso. A internet, por exemplo, é um arranjo de sinais elétricos típicos da Segunda Revolução Industrial e comumente utilizada num dispositivo da terceira, o computador.

A Quarta Revolução Industrial é a interseção de todas as tecnologias. E por esse motivo, talvez seu  impacto seja ainda maior sobre o trabalho, sobretudo, na eliminação completa de empregos.

A Ford não revela se houve dispensa de funcionários durante a modernização da planta, mas é notável que algumas partes das linhas, considerando o que é legado da versão anterior da fábrica e que ainda fabricam a Ranger antiga, possuem poucos trabalhadores ao redor dos robôs.

O raciocínio na balança que envolve técnicos para operar as máquinas, quando estas são autônomas, é de que mais sentido investir em times de engenharia na hora de alocar os recursos.

Para se ter uma ideia, movimentos como o da Ford, entre 2015 e 2020, reduziram cerca de 7,1 milhões de empregos ligados a indústria, com base em dados nas principais áreas econômicas desenvolvidas e emergentes, em nove setores da indústria.

Globalmente, segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 75 milhões de emprego já foram eliminados com a entrada de mais maquinário autônomo. Se o período analisado for estendido até 2030, estudo da consultoria McKinsey mostra que entre 400 milhões e 800 milhões trabalhadores podem ser substituídos por robôs.

No Brasil, uma pesquisa da CNI realizada com mais de mil empresas mostrou que, na pesquisa de 2016, 48% das indústrias que participaram da pesquisa utilizavam o cruzamento de tecnologias da quarta revolução tecnológica. Isso foi menos da metade do universo pesquisado.

Em 2021, o percentual subiu para 69%, desta vez considerando as 18 alternativas de tecnologias aplicadas às diferentes etapas da cadeia industrial.

Para amenizar as preocupações, no entanto, dados da McKinsey e da universidade inglesa Oxford, fora do setor industrial os empregos baseados em habilidades criativas e lúdicas ainda sobreviveram mais tempo. Serão trabalhos com valores de produção diferentes dos que temos hoje, mas com toda certeza, passarão por ciclos de transformação semelhantes ao da Ford.

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Créditos

André Lopes

André Lopes

Repórter

Com quase uma década dedicada à editoria de Tecnologia, também cobriu Ciências na VEJA. Na EXAME desde 2021, colaborou na coluna Visão Global, nas edições especiais Melhores e Maiores e CEO. Atualmente, coordena a iniciativa de IA da EXAME.

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