O Brasil chegou a 2 milhões de usuários de vape em 2022, ante 500 mil em 2018.

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UK Aims To Crack Down On Teenage Vaping (Getty Images/Reprodução)

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Com a morte decretada do cigarro, as fabricantes precisam convencer que o vape não é a mesma coisa

Entre a tentativa de reduzir o consumo de tabaco e a preocupações de saúde, países adotam posturas distintas na hora de regular o vape

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Com a morte decretada do cigarro, as fabricantes precisam convencer que o vape não é a mesma coisa

Entre a tentativa de reduzir o consumo de tabaco e a preocupações de saúde, países adotam posturas distintas na hora de regular o vape

UK Aims To Crack Down On Teenage Vaping (Getty Images/Reprodução)

Por André Lopes

Publicado em 08/08/2023, às 07:00.

Última atualização em 30/10/2024, às 10:02.

O Brasil chegou a 2 milhões de usuários de vape em 2022, ante 500 mil em 2018.

Esse número, apesar de indicar um crescimento da presença do cigarro eletrônico, ainda não traduz exatamente o cenário para o qual caminha a indústria do tabaco. Afinal, há muito mais consumidores em potencial ao considerar que 11,8% da população brasileira é tabagista, o que inclui usuários de cigarros industrializados, de palha, de papel, charuto e cachimbo.

Mas a atual estratégia do setor em abandonar o cigarro de combustão e oferecer alternativas para o consumo de nicotina evidencia um mercado ainda pouco compreendido pelo mundo, sob o olhar de governos, organizações de saúde e os próprios fabricantes.

Proibidos no Brasil desde 2009, os cigarros eletrônicos são facilmente encontrados no mercado ilegal e acessíveis, de forma disfarçada, até por aplicativos de entrega de comida. No entanto, na Europa, especialmente no Reino Unido, que em 2016 implementou medidas regulatórias com o objetivo de minimizar a quantidade de fumantes, há um cenário que pode servir de exemplo para os países que ainda consideram saídas para o tabagismo por meio de novas soluções.

O dispositivo, frequentemente referido como vape, entrou em cena no país do Rei Charles proposto como uma alternativa ao tabaco, oferecido até mesmo nos serviços de saúde pública. Em um método que chega, literalmente, a trocar o cigarro tradicional por um dispositivo de consumo de nicotina por vapor.

Contudo, a eficácia desta substituição e seus possíveis impactos na saúde ainda são questões debatidas entre especialistas.

“O cigarro eletrônico não é inócuo. Ele é uma alternativa de risco reduzido para o adulto fumante que opta por não parar de fumar. E a revisão dos estudos é importante para garantir que os resultados permanecem iguais”, esclarece Dr. Renato Veras, médico, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Outra recente pesquisa internacional, divulgada na revista científica Internal and Emergency Medicine, mostrou que adultos fumantes que substituíram por completo o cigarro comum pelo produto de tabaco aquecido, que vaporiza a folha do tabaco, apresentaram melhorias significativas em uma série de indicadores de danos potenciais à saúde relacionados ao consumo de cigarros convencionais.

O consenso é de que, ao menos nessa forma de consumo, o dado conhecido do cigarro fica bastante distante.

Um consumo diferente

A divergência entre Brasil e Reino Unido em relação à regulamentação do vape traz desafios compartilhados: combater o comércio ilegal e gerenciar o consumo entre os jovens.

Apesar da venda e propaganda serem proibidas no Brasil, o cigarro eletrônico vem estimulando a curiosidade de novos usuários e, para órgãos como a Vital Strategies, coloca em risco os avanços das últimas décadas no controle do tabaco no país.

E o público jovem é o mais atraído pela novidade: segundo a pesquisa Covitel, a faixa etária que mais tem contato com o cigarro eletrônico é a dos jovens adultos com idades entre 18 e 24 anos. Desses, 17,3% já usaram pelo menos uma vez, mas não usam mais; 6,1% usam, mas não diariamente; e 0,5% usam diariamente.

Para efeito de comparação, quando se fala do uso de cigarro eletrônico em relação à população brasileira adulta em geral, 5,7% já usaram alguma vez na vida, mas não usam mais; 2% usam, mas não diariamente; e 0,3% usam diariamente.

Da parcela da população brasileira que já usou ou usa cigarro eletrônico, 37,7% experimentaram o dispositivo quando tinham entre 18 e 24 anos de idade.

Um dado que pode fazer soar o alarme é o fato de que 19,2% das pessoas que já usaram pelo menos uma vez na vida o cigarro eletrônico experimentaram o produto com 17 anos ou menos.

O Brasil foge à regra

Em Londres, você pode encontrar o dispositivo eletrônico em lojas de lembranças, agências de câmbio e em pontos afiliados ao NHS (análogo ao SUS). Nestes estabelecimentos, especialistas orientam fumantes sobre o aparelho ideal para a transição do cigarro convencional ao vape.

Por outro lado, os cigarros tradicionais são apresentados em embalagens pretas e armazenados em compartimentos específicos em lojas especializadas. Além do vape, o governo britânico promove alternativas como adesivos, saquinhos de nicotina para absorção oral e cigarros de tabaco aquecido, visando reduzir o índice de fumantes para 5% até 2030.

Os dados mais recentes, de 2021, indicam que a taxa estava em 13%, o menor percentual em dez anos.

Por outro lado, o consumo de cigarros eletrônicos cresceu de 1,7% em 2012 para 8,3% no ano passado. Outro país que adotou o uso do vape para reduzir os danos causados pelo tabaco foi a Suécia. Este ano, a Suécia anunciou que a taxa de fumantes caiu para 5,6% da população, o menor índice na Europa.

Em Varsóvia, no evento Saving Lives Like Sweden (Salvando vidas como na Suécia), pesquisadores, ongs e indústria do tabaco se reuniram para compartilhar os dados mais recentes sobre consumo de nicotina e novos produtos e alternativas para usuários.

Entre os dados apresentados, o encontro revelou que atualmente cerca de 112 milhões de pessoas no mundo consomem produtos de nicotina de menor risco à saúde, segundo o projeto Estado Global da Redução de Danos do Tabaco (GSTHR).

Para o médico e especialista em redução de danos em alimentos, álcool e tabaco, Dr. Delon Human, “é necessária uma revolução na saúde pública liderada pela ciência para acelerar o fim do tabagismo”.

A visão é compartilhada pelo cardiologista grego Konstantinos Farsalinos, que afirma que um conhecimento maior e acesso às alternativas sem combustão poderia reduzir mortes e doenças relacionadas ao tabagismo globalmente. “Apesar de 60 anos de conhecimento de que fumar causa doenças pulmonares e câncer, temos 1,1 bilhão de fumantes em todo o mundo. Considerando esse número, você entende o impacto que uma estratégia bem-sucedida de redução de danos pode ter”.

Representantes da indústria, como Iuri Esteves da BAT Brasil, destacam os riscos associados ao mercado ilegal e defendem a regulamentação. "Cerca de 84% dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) regulamentam os cigarros eletrônicos. EUA, Canadá, Reino Unido e os países da União Europeia são exemplos proeminentes de nações com dados robustos sobre os benefícios da regulamentação", afirma.

Esteves defende também que a BAT tem um cuidado extra com os vaporizadores nos mercados em que atua. Mesmo com a competição com os ilegais, a marca mantém dentro da regra os sabores oferecidos e também níveis de nicotina controlados.

Os "pushs", a quantidade de tragadas que aparelho, também é menor. Isso pode torna-lo menos interessante para o consumidor, mas garante que o líquido com a nicotina será aquecido um número seguro de vezes.

Para o fim do ano, o setor espera que a Anvisa reveja a proibição, ainda que em 2022 a Agência tenha aprovado uma Análise de Impacto Regulatório, que sugere a manutenção da proibição, importação e propaganda de vapes.

O diretor-presidente da Anvisa, Dr. Barra Torres, manifestou a intenção de reavaliar a situação dos cigarros eletrônicos no país, ressaltando que qualquer decisão será baseada em evidências científicas sólidas e consistentes. Talvez as apresentadas na Inglaterra possam sugerir um caminho diferente para o vape no Brasil.

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André Lopes

André Lopes

Repórter

Com quase uma década dedicada à editoria de Tecnologia, também cobriu Ciências na VEJA. Na EXAME desde 2021, colaborou na coluna Visão Global, nas edições especiais Melhores e Maiores e CEO. Atualmente, coordena a iniciativa de IA da EXAME.

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