Em chamas
Do estresse ao carinho, do drama ao humor, da panela para o prato, da família para a cozinha. Entre ficção e realidade dentro da cozinha de alto nível, seja em animações como “Ratatouille” ou em reality shows como “MasterChef”, há duas constantes: a carga emocional da rotina e um conjunto de regras que garantem o funcionamento de qualquer estabelecimento — esse último engenhosamente chamado de “não negociáveis” na terceira temporada de “The Bear” (“O Urso”).
Tão ou mais inegociável que as regras de Carmy (Jeremy Allen White) é o sucesso da série da FX, marca agora pertencente à Disney. Lançada em 2022, o título foi vencedor de quatro estatuetas do Emmy pela primeira temporada e três do Globo de Ouro pela segunda. A coleção de prêmios, no entanto, não pareceu ser o bastante para Christopher Storer, que assina como diretor, roteirista e criador da produção. No mesmo dia em que estreou seu terceiro ano no Brasil, na última quarta-feira, 17, “The Bear” quebrou um recorde: é agora a série mais indicada do gênero de humor de toda a história do Emmy Awards, com 23 nomeações.
Jeremy Allen White, Ayo Edebiri, vencedores como melhores atores, retornam aos papéis de Carmen e Sydney na terceira temporada da série que, diferente das duas que a antecederam, chega mais poética ao streaming da Disney+. E com um protagonismo compartilhado com Richie (Ebon Moss-Bachrach), um dos pontos centrais do novo ano de “The Bear”.
Um personalidade em construção — e sofrimento
Quase tanto tempo em cena quanto Allen White e Edebiri, Ebon Moss-Bachrach chega ao terceiro ano de “The Bear” bem mais cativante do que na primeira temporada. Em entrevista exclusiva à EXAME, Ebon destacou como a série foi um ponto de virada em sua carreira como ator, feito que ele deve muito aos showrunners.
“Christopher e a Joanna criaram um personagem tão forte nos roteiros que ele se tornou muito importante mesmo para mim. Tenho sentimentos tenros, muita empatia e simpatia, porque somos tão parecidos em alguns aspectos”, explicou o ator à EXAME. “Richie tem algo entre 47 anos, e eu me encontro em uma idade em que temos muitas coisas em comum. Eu não sou exatamente uma pessoa old-fashioned, mas assim como Richie, eu meio que lamento quando vou andar no meu bairro e vejo restaurantes que eu gosto e que eu amo há anos fechando”.
Na terceira temporada, o personagem protagonizou uma disputa longa e nada silenciosa com o de Jeremy Allen White, mas distinta dos primeiros anos da série. Agora mais maduro e com uma jornada de “redenção”, depois de passar quatro dias e meio em um restaurante com três estrelas Michelin, Richie encara o desafio de colocar ordem e excelência na cozinha que viu nascer e se transformar.
“Ele está se reinventando como pessoa, o que para mim é uma fundação muito tênue de ser construída. Agora, na terceira temporada, isso continua sendo uma dificuldade, especialmente porque ele está tentando se tornar um membro mais saudável para sua comunidade, mas é difícil corrigir velhos hábitos”, acrescenta o ator. “Richie é um trabalho em construção e todas essas mudanças se somam em um sofrimento constante que é difícil de interpretar e, imagino, de assistir”.
Antes de “The Bear”, Ebon Moss-Bachrach tinha no currículo sobretudo participações em comédias românticas, como “O Sorriso de Mona Lisa” (2003) e “O Prazer de sua Companhia” (2006). Também atuou como coadjuvante em séries de sucesso no streaming, como “O Justiceiro” (2017 - 2019), “The Last Ship” (2014 - 2018) e “Andor” (2022), e em filmes de ação e suspense como “A Casa do Lago” (2006), “John Adams” (2008) e “A Grande Jogada” (2018).
Foi só depois de entrar na pele de Richie, no entanto, que oportunidades maiores apareceram. No ano passado, pelo trabalho em “The Bear”, Ebon recebeu estatuetas do Critics’ Choice Awards e do Emmy Awards como melhor ator coadjuvante. “É um privilégio atuar com esse papel. É uma experiência muito bonita levar esse homem de um lugar difícil para a luz. Não é sempre que você consegue fazer isso — interpretar alegria”, disse ele em seu discurso durante a premiação, minutos depois de beijar seu colega Matty Matheson em comemoração.
As premiações e o desempenho na série renderam a ele um papel em “Que Horas Eu Te Pego”, que também recebeu indicações ao Globo de Ouro, Critics’ Choice Awards e People’s Choice Awards. Inserido nas produções da Disney, Ebon estreia em 2025 como “O Coisa” na nova versão de “Quarteto Fantástico”, da Marvel, ao lado de Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ralph Ineson.
Ator em ascensão, Ebon acredita que Richie ainda será um de seus personagens mais marcantes. E crê que ganhou tanto o público justamente por interpretar alguém mais palpável e real, com um arco de evolução e, ainda assim, repleto de dificuldades para enfrentar todas as mudanças.
“Richie é um membro orgulhoso de Chicago. Acho que as pessoas (e eu) gostam tanto desse personagem porque é pelos olhos dele que vemos que as cidades estão constantemente mudando e evoluindo. E ele, mesmo sem perceber e criticando todo o resto, muda e evolui junto”.
Comédia e drama juntos e entrelaçados
Com 23 indicações ao Emmy como série de comédia, muita gente se questiona se “The Bear” foi enquadrado na categoria errada, especialmente porque a produção carrega longas cenas — e, muitas vezes, episódios inteiros — de drama. Mas há diversos elementos da produção que a caracterizam como humorística. Nesta terceira temporada, por exemplo, boa parte desse humor fica focado na família dos Faks, interpretados por Matty Matheson e Ricky Staffieri, que ganham mais tempo de tela.
Em entrevista à EXAME, Staffieri refletiu sobre a oportunidade de fazer parte por mais tempo desse grande elenco.
“Me sinto honrado de fazer parte disso porque essa terceira temporada é poética, é a representação de um legado de três anos. Acho que nós o configuramos de uma forma diferente que não tínhamos visto antes, o que eu acho que sim, atrai o público de uma forma diferente que não vimos”, explica o ator. “O roteiro é muito forte, Chris é muito bom em contar histórias e isso fica ainda mais evidente logo no primeiro episódio. Isso inclui, nos demais, toda essa carga de comédia que acaba ficando muito com o meu personagem”.
Na temporada, tanto Ted quanto Neil Fak protagonizam a maior parte das cenas de comédia. Mas são fundamentais, também, para a harmonia (e falta dela) dentro da equipe como um todo.
Para Matheson, a interpretação de Neil Fak foi um misto de piada e de drama, em especial porque o personagem tem um lado sensível que é divertido de ser explorado, na visão dele. “Eu tive que procurar fundo uma inspiração para interpretar esse personagem”, disse o ator brincando, de forma sarcástica. “Mas agora falando sério, para além de todo o humor, o Neil é um cara muito vulnerável e muito doce. Foi um equilíbrio ali entre riso e realmente querer que todos sejam felizes dentro daquele caos de cozinha”.
Onde assistir ‘The Bear’ online?
As três temporadas da série estão disponíveis no Disney+.
Sobre o que fala ‘The Bear’?
Lançada em 2022, "The Bear" acompanha a história de Carmy, um jovem chef de alta gastronomia que assume a administração da pequena lanchonete da família após a morte do irmão. Ele busca transformar o local, enfrentando uma equipe resistente e desorganizada. A segunda temporada mostrou a transformação da lanchonete Original Beef de Chicago em um destino gastronômico refinado.
Quantos prêmios ‘The Bear’ já ganhou?
“The Bear” recebeu seis estatuetas do Emmy pela primeira temporada, com 13 indicações. Foram também três do Globo de Ouro e duas do Sag Awards.
Quem está no elenco de ‘The Bear’?
Compõem o elenco Jeremy Allen White, Ebon Moss-Bachrach, Ayo Edebiri, Lionel Boyce, Liza Colón-Zayas, Abby Elliott, entre outros. A direção, roteiro e produção é de Christopher Storer.
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Créditos
Luiza Vilela
Repórter de POP
Formada em jornalismo pela PUC-SP e cursa pós-graduação em Gestão da Indústria Cinematográfica pela FAAP. Trabalhou para Record TV, Revista Consumidor Moderno e outros veículos de cultura brasileiros. Escreve sobre cinema e streaming.