hero_Do barzinho ao bilhão: o hit do carnaval pode ser um pagode? Gênero cresceu 32% desde 2022

Carnaval (Getty Images/FG Trade)

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Do barzinho ao bilhão: o hit do carnaval pode ser um pagode? Gênero cresceu 32% desde 2022

Estilo pode dominar a folia de 2025, impulsionado por novas vozes, colaborações estratégicas e um mercado em expansão

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Do barzinho ao bilhão: o hit do carnaval pode ser um pagode? Gênero cresceu 32% desde 2022

Estilo pode dominar a folia de 2025, impulsionado por novas vozes, colaborações estratégicas e um mercado em expansão

Carnaval (Getty Images/FG Trade)

Por Raphaela Seixas

Publicado em 14/02/2025, às 16:31.

Última atualização em 14/02/2025, às 20:46.

Pagode conquista Geração Z e se prepara para dominar o Carnaval com força (e bilhões)

O pagode, que já dominou as rodas de samba, vem conquistando cada vez mais espaço entre os jovens da Geração Z. Mas mais do que um fenômeno cultural, o gênero agora se posiciona como um motor bilionário — e seu próximo passo pode estar nos bloquinhos de Carnaval.

Um dos estilos musicais mais ouvidos do Brasil, o pagode não só figura como um dos favoritos para a folia, como também deve movimentar a economia do feriado. A evolução do interesse nele já é uma realidade evidente nas plataformas de streaming de música: no Spotify, por exemplo, houve aumento de 32% nos streams de pagode desde 2022 — superando o crescimento de 15% do sertanejo no mesmo período. 

Entende-se que a ascensão do gênero também está intimamente ligada a grupos já consolidados que “renasceram” para a Geração Z e Millennials, segundo a Deezer. Menos é Mais, Sorriso Maroto, Ferrugem, Thiaguinho e Dilsinho são os cinco mais ouvidos de pagode na plataforma. E, em geral, o perfil do “pagodeiro” é um homem, entre 26 a 35 anos, morador de São Paulo e Salvador. 

O cantor Salgadinho, veterano do gênero, explica: "O samba é a matriz musical do Brasil, assim como o jazz é para os EUA. Durante a pandemia, mesmo sem grandes investimentos, o pagode se destacou entre os mais assistidos, provando a força do gênero, que conquistou grande espaço e continua abrindo portas para novas gerações." 

Já existem bons sinais de que o ritmo deve pegar no Carnaval de 2025. O feito é incomum, mas não inédito. Em 2023, o hit do Carnaval foi o pagode baiano ‘Zona de perigo’ de Léo Santana. E ainda que o estilo enfrente uma competição acirrada com outros gêneros — no ano passado, foi o axé que reinou: a música "Macetando", de Ivete Sangalo e Ludmilla, uma das mais tocadas em bloquinhos —, a recente adesão de novos talentos para o pagode pode colocá-lo mais uma vez no centro da folia. 

O sucesso do pagode não tem limites: das plataformas de música para os blocos de rua

Cresce e se expande

Originado nos anos 1980 como um subgênero do samba, o pagode ganhou força com grupos como Katinguelê, SPC e Exaltasamba. Atualmente, artistas como Ludmilla e Thiaguinho lideram o movimento, combinando a tradição cultural com estratégias modernas de marketing e tecnologia.

Os motivos para o crescimento do pagode são variados. Em entrevista à EXAME, Romar Sattler, líder editorial Latam na Deezer, aponta que uma das estratégias de sucesso dos do gênero tem sido a colaboração com nomes de outros estilos, como funk e trap, que atraem um público mais jovem

“Esse movimento não só amplia o alcance dos artistas, expondo-os a um novo público, como também oferece uma oportunidade única para o crescimento do gênero, conquistando ouvintes além da base tradicional de fãs do pagode”, conta ele.

De fato, a migração de artistas de outros gêneros para o pagode tem se revelado uma estratégia lucrativa. Em 2024, Ludmilla faturou cerca de R$ 2 milhões com o projeto "Numanice", lançado em 2019. Glória Groove, por sua vez, arrecadou impressionantes R$ 50 milhões em apenas seis meses com o álbum "Serenata da GG", o primeiro de pagode feito pela cantora. 

À EXAME, ambas destacaram o poder das redes sociais e do streaming na promoção do gênero. Através dessas plataformas, músicos lançam trabalhos, criam desafios virais e interagem diretamente com os fãs, permitindo um engajamento sem precedentes.

"Hoje em dia, as redes sociais são como o palco do pagode, eles dão voz a todos e permitem que a gente mostre nosso talento para o mundo. Através dessas plataformas, conseguir alcançar fãs que nunca imaginamos e fazer com que o pagode chegue a lugares inimagináveis", explica Ludmilla.

Já o cantor Salgadinho acredita que a outra fonte de público além do mix entre estilos é a “herança geracional”. “"Os artistas jovens já chegam totalmente integrados à linguagem da sua geração, que já não é mais a minha. Quando surgem, é imediato, acontece ali, na hora. E isso acende.”, disse o cantor em entrevista exclusiva à EXAME.

O mesmo sentimento é compartilhado por Ludmilla. "O pagode sempre fez parte da minha vida. Cresci ouvindo minha mãe e minha avó cantando e se emocionando com os clássicos. Esse gênero já estava na minha essência muito antes de eu começar no funk”, contou à EXAME.

Cantor Salgadinho é um dos veteranos do gênero desde os anos 90 com Katinguele

Surge um novo ‘Hit do Carnaval’?

Para o Carnaval, que ainda não tem seu hit definido para 2025, o pagode oferece um leque de possibilidades. “Coração Partido”, do grupo Menos é Mais e “Apaguei pra todos”, do Ferrugem, em ascensão no Spotify, são boas apostas.

Mas a decisão ainda é incerta. Ivete chegou a lançar uma nova música, “Energia de Gostosa”, mas até agora o hit “não pegou” da mesma forma como a viral “Macetando”, de 2024. O sucesso pode vir de Anitta, que acaba de lançar “Sei que Tu me Odeia”, já com coreografia viral no TikTok, mas nada garantido — o que abre mais espaço para o pagode.

"Acredito que 'Nosso Primeiro Beijo', por exemplo, ocupa um espaço que vai além de um simples pagode de sucesso. Tenho muita fé na força do pagode no Carnaval 2025, porque 2024 foi o ano em que comprovamos esse fenômeno", reflete Glória Groove em entrevista exclusiva à EXAME.

A artista lançou o primeiro álbum do gênero musical no ano passado, o álbum Serenata da GG, é o segundo trabalho ao vivo da cantora e marca um momento decisivo em sua carreira. Pela primeira vez, depois da sua infância, Glória se dedica inteiramente ao pagode, explorando uma nova sonoridade. 

"Estar no palco com a turnê Serenata da GG é uma das maiores experiências que já tive como cantor. Eu brinco que essa fase me lembra o pequeno Daniel do Raul Gil, sabe? Porque estou realmente presente ali, de corpo e alma, focado nas notas que atinjo e nos melismas que escolho."

Rio de Janeiro (RJ), 05/01/2025 – Blocos de carnaval não oficiais desfilam pelas ruas do cento do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

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Apesar do novo, o antigo está consolidado

A indústria musical do Brasil, que tem o pagode como um de seus protagonistas, projeta geração de US$ 1 bilhão até 2027 e um crescimento estimado de 74% até 2031, segundo dados da União Brasileira de Compositores (UBC)

Apesar do crescimento robusto, o pagode enfrenta desafios importantes, como a concorrência com outros gêneros musicais e o impacto da inflação no poder de compra do público. No entanto, empresários do setor se mantêm otimistas, impulsionados pela retomada econômica pós-pandemia, que tem fortalecido o interesse por experiências ao vivo.

Um dos maiores exemplos de sucesso no cenário atual é o Tardezinha, projeto musical do cantor Thiaguinho que começou em 2016, no Rio de Janeiro e já teve passagens por todo o Brasil. Realizando shows em diversas cidades, a edição de 2023 do evento arrastou mais de 600 mil pessoas e teve um faturamento de R$ 200 milhões. Com uma proposta inovadora que combina pagode com um ambiente descontraído e acolhedor, a Tardezinha tem atraído um público interessante e fiel.

A adaptação às novas tendências e as colaborações entre artistas consagrados e novos talentos são vistas como estratégias-chave para garantir a sustentabilidade do gênero no futuro. O mercado de pagode deve manter seu ritmo de crescimento, como demonstra o cantor Mumuzinho com o projeto “De Pegas com Ex”, que mescla o pagode com o forró pop.

O futuro parece promissor, especialmente com eventos que celebram a cultura do gênero e atraem novas gerações para suas raízes.

Afinal, quem não gosta de uma boa roda de samba, onde a única regra é se divertir e esquecer os problemas? Com tanta inovação e criatividade, o pagode está pronto para dançar conforme a música – e quem sabe até criar uma coreografia nova. 

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Raphaela Seixas

Raphaela Seixas

Estagiária de jornalismo

Graduanda em Jornalismo pela Universidade Belas Artes de São Paulo desde 2022. Já atuou em assessoria de comunicação para o mercado financeiro e, atualmente, é estagiária na redação da EXAME.