Relação entre PIB e safra

hero_Carro-chefe do PIB, agro teve safra mais cara de sua história

Fazendeiro assiste à soja sendo despejada em caminhão em Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo. (Bloomberg/Patricia Monteiro)

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EXAME Agro

Carro-chefe do PIB, agro teve safra mais cara de sua história

Produtores agora se preparam para a próxima safra. E esperam margens mais confortáveis

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Carro-chefe do PIB, agro teve safra mais cara de sua história

Produtores agora se preparam para a próxima safra. E esperam margens mais confortáveis

Fazendeiro assiste à soja sendo despejada em caminhão em Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo. (Bloomberg/Patricia Monteiro)

Por Mariana Grilli

Publicado em 01/06/2023, às 20:16.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:13.

Relação entre PIB e safra

Volatilidade no preço dos insumos, custos de produção elevados, perdas de produtividade devido ao fenômeno La Niña. A safra 2022/23 não deu sossego. Considerando o calendário-safra de julho a junho, produtores se viram em um momento de instabilidade nos meses julho a agosto, que tradicionalmente antecedem o plantio em setembro. O desenvolvimento dos grãos até meados de dezembro do ano passado trouxe equilíbrio às contas.

Dali em diante, o cenário ficou mais estável e aqueceu os motores para a segunda safra e o plantio de 2023/24. Foi neste período, entre janeiro e março, e passada a colheita da safra verão, que o PIB da Agropecuária cresceu 21,6%, em relação aos últimos três meses de 2022. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na série com ajuste sazonal, este foi o maior crescimento para o período em 26 anos. Reflexo do desenvolvimento do plantio à colheita no campo. Não é exagero dizer que o agro foi o verdadeiro carro-chefe do PIB.

Neste início de ano, a agropecuária representou 10,2% de tudo que a economia brasileira produziu, avalia Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Importante destacar que esse crescimento da atividade agropecuária se deu em virtude da boa safra de soja verão, milho primeira safra, cana-de-açúcar e café arábica”, diz.

Os números do PIB divulgados nesta quinta-feira, 1º, instigaram a CNA a revisar suas projeções para 2023. “Com o resultado apresentado hoje, os indicadores e as projeções tanto para o PIB Brasil quanto para o PIB da agropecuária devem subir um pouco quando comparados com nossas últimas projeções”, afirma Conchon.

Colheitadeiras em uma plantação de soja.

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Relação entre plantio e colheita

A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que sejam colhidas 312 milhões de toneladas de grãos na safra 2022/23 – mais uma supersafra. As projeções foram crescendo, diante do bom desenvolvimento do grão que se beneficiou de condições favoráveis de chuva e temperatura, principalmente no Centro-Oeste. Enquanto a produtividade foi se ampliando, os preços de commodities alcançaram patamar elevado e houve recuo nos preços de fertilizantes, de acordo com Daniel Sinigaglia, economista da Garde Asset Management.

“Isso impulsionou a safra do primeiro trimestre, que é – de fato – a mais relevante do ano. Adiante, as condições permanecem favoráveis, tanto para o milho safrinha quanto para o açúcar. Logo, dinamismo do PIB no ano será impulsionado pelo PIB agro”, diz.

Rafael Perez, economista da Suno Research, comenta que o PIB do Brasil registrou alta de 1,9% no primeiro trimestre, resultado que mostra a economia puxada pelo lado da oferta nesse início de ano. No agro, isso significa maior disponibilidade de grãos atendendo as exportações. “A forte expansão da safra 2022/23, principalmente da soja, a queda nos custos de produção, as melhores condições climáticas, o aumento das exportações e os preços favoráveis das commodities, permitiram o bom desempenho do setor”, afirma Perez.

Sacas de soja necessárias para pagar custo de fertilizantes para um hectare na região Cerrado (Fonte: COGO Inteligência em Agronegócio)

A gangorra entre produzir, exportar e lucrar

A fome de grãos pelo mercado consumidor beneficia a balança comercial, mas quem produz a matéria-prima pode ficar no "zero a zero" no acumulado da safra 2022/23. No campo, “esta foi a safra mais cara de toda nossa história”, segundo Enilson Nogueira, analista de mercado de Céleres Consultoria. “Todo pacote de defensivos foi comprado em 2022 sob a pressão de Rússia e Ucrânia. Produtor entrou na safra com custo elevado e até o período de colheita tinha feito poucas vendas com preço travado”, afirma.

Aqueles produtores que fizeram venda futura dos grãos de 2022/23 devem ter menor rentabilidade em relação à safra 2021/22. Ainda assim com margens positivas, segundo Nogueira. Já o produtor que comprou insumos na alta de preços e esperou para vender os grãos, ou ainda teve perda de produtividade por questões climáticas, agora se depara com alta oferta de soja e queda no preço pago. “O mercado consumidor sabia que tinha grão na mão do produtor e dificilmente numa disputa de braço o produtor ganharia”, diz o consultor da Céleres.

Um exemplo do custo pode ser ilustrado pela paridade entre a saca de soja e o pacote de fertilizante. Essa é uma métrica comum nas fazendas para medir a capacidade de pagamento durante o andamento da safra e na colheita. A safra 2022/23 chegou ao maior número da série de registros do consultor Carlos Cogo: 21 sacas para o pacote de fertilizante. O mesmo dado na safra 2021/22 foi de 6,2.

Segundo Cogo, considerando a região do Cerrado – responsável por 70% da produção de agropecuária do país –, o custo de produção foi de R$ 8.553 por hectare de soja na safra atual e a média de receita bruta do produtor ficou em R$ 8.323. Ou seja, inferior ao custo.

No entanto, ao olhar o custo operacional efetivo – uma métrica que leva em conta apenas o ciclo produtivo e é determinante para a rentabilidade –, Cogo aponta o valor de R$ 7.993 por hectare. “Sobra pouco, mas paga a conta. O produtor sai dessa safra com uma margem praticamente próxima de zero, paga todas as suas despesas e vai para o ano que vem com cenário de margem positiva”, afirma o especialista.

Custo total de produção, receita bruta, margem líquida e EBITDA (R$/Ha) na região Cerrado (Fonte: COGO Inteligência em Agronegócio)

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Contagem regressiva para 2023/24

Cogo projeta que o custo total da safra 2023/2024 vai cair 27%, para R$ 6.181. Já a margem bruta vai subir de 16% para 36%, no Cerrado. “A margem real que está em zero hoje vai para 17%, ou seja, cobre tudo, inclusive custo de oportunidade, investimentos, amortizações, depreciações de máquina”, afirma Cogo.

Para ter mais previsibilidade do retorno financeiro e diminuir o risco da flutuação de preços, Enilson Nogueira, analista da Céleres Consultoria, acredita que a venda antecipada das sacas de 2023/24 reduzirá a volatilidade do produtor ao valor pago. “Ele tira esse risco e consegue se concentrar na condução da safra. Pode ter uma margem menor, mas está assegurado e tende a ter retorno na normalidade de margens agrícolas”, diz.

Soja: Produtividade em sacas de 60 kg/hectare para cobrir custo operacional efetivo no Cerrado (Fonte: COGO Inteligência em Agronegócio)

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Créditos

Mariana Grilli

Mariana Grilli

Repórter de Agro

Graduada em Jornalismo com especialização em Agronegócios pela FGV. Trabalhou como repórter na Rádio Jovem Pan e na Revista Globo Rural. É vencedora do 2° Prêmio GTPS de Jornalismo e do Prêmio Rede ILPF de Jornalismo.

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