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Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2010 às 10h51.
Que pequeno ou médio empresário não gostaria de conduzir seus negócios com um pouco da orientação de gente como Laércio Cosentino, Luiza Helena Trajano e Emílio Odebrecht? Quem não desejaria conhecer empresas como Google e Dell e conversar com seus criadores? Ou receber, praticamente de graça, a consultoria de alunos de MBA das melhores escolas do mundo? O Instituto Empreender Endeavor no Brasil seleciona pequenas e médias empresas com potencial de crescimento para fazer tudo isso. “Nosso trabalho é ajudar empreendedores a superar dificuldades e ampliar seus negócios, tornando-os exemplos que incentivem outros a inovar”, diz Paulo Veras, diretor do instituto.
A Endeavor, organização sem fins lucrativos que se mantém com doações, existe no Brasil desde 2000, quando o empresário Carlos Alberto Sicupira - um dos brasileiros donos da InBev - e a professora americana Linda Rottenberg trouxeram a proposta para o país. Linda é fundadora da Endeavor Initiative Inc., uma organização não-governamental criada em 1997 nos Estados Unidos por um grupo de ex-alunos de Harvard para incentivar o empreendedorismo em economias emergentes.
Ser um empreendedor Endeavor exige aprovação em um extenso processo. Participam empresas com faturamento entre 2 milhões e 30 milhões de reais por ano, que vendem produtos ou serviços inovadores e que tenham potencial de expansão. Além disso, o empresário precisa ser capaz de mobilizar pessoas e ter motivação para aprender e ensinar. Todos os anos, aproximadamente 350 empresas participam do processo, que dura cerca de um ano. Em 2007, apenas quatro foram selecionadas - as paulistas Arizona (que trabalha com tecnologia e impressão gráfica), SubWay Link (que produz conteúdo para TVs corporativas), Superbac (que fornece tecnologia para tratamento de resíduos) e Nefrocare (clínica de diálise).
Os candidatos são avaliados pelos funcionários da área de busca e seleção da Endeavor e passam por entrevistas com empresários ou executivos de grandes companhias que trabalham como voluntários para a entidade, como Pedro Moreira Salles, do Unibanco, ou Carlos Brito, da InBev. É obrigatório fornecer balanços auditados e referências dos serviços de proteção ao crédito. Os que passam pela sabatina se apresentam a membros do conselho da Endeavor Brasil, formado por gente como Jorge Paulo Lemann, um dos acionistas da InBev, e Pedro Passos, da Natura. Nessa ocasião, devem expor um plano de negócios para cinco anos. Eles também são ouvidos por um júri internacional, composto de integrantes da Endeavor Global, sediada nos Estados Unidos, e de algumas das dez sucursais que a organização mantém no mundo.
Hoje, 64 empreendedores de 37 empresas brasileiras fazem parte desse grupo. Depois de um ano, os que estiverem satisfeitos com o trabalho da Endeavor devem doar 2% do capital social sempre que um acontecimento aumentar a liquidez da empresa - uma abertura de capital ou venda parcial do negócio, por exemplo. O dinheiro vai para um fundo que reúne doações de outros colaboradores e recursos de convênios com agências governamentais e ONGs. Apenas os rendimentos são usados para a manutenção do instituto.
Todo o esforço para ser escolhido significa o ingresso a uma rede de relacionamentos formada por 300 empresários, executivos e consultores de diversos setores, como recursos humanos, jurídico, comunicação e marketing, que participam como voluntários em diferentes programas. Veja como funcionam:
Mentoring
O que é: Uma reunião de aconselhamento. Quando o empreendedor se depara com um desafio, a Endeavor busca em sua rede um dos profissionais voluntários com experiência no tipo de dificuldade enfrentada. Pode ser outro empresário que tenha passado por uma situação semelhante ou mesmo um especialista no assunto. Esse será o mentor do empreendedor.
Como funciona: O mentor recebe com antecedência um resumo sobre a empresa e seu problema e encontra-se com o empreendedor para prestar uma espécie de consultoria.
Exemplo: Guilherme Bruno e os irmãos Alexandre e Marcus Hadade, da Arizona, já participaram de mais de 30 mentorings sobre os mais variados assuntos. A empresa, que começou apenas como uma gráfica, passou a atuar também na área de gerenciamento de comunicação. Um dos encontros foi com Patrice Etlin, diretor do fundo de private equity Advent.
Resultado: Embora tivessem notado que o futuro da Arizona estava em tecnologias que permitissem um melhor gerenciamento da comunicação dos clientes, os sócios temiam a reação deles caso se afastassem da gráfica, que ainda representava 80% do faturamento. Depois de analisar os números da empresa, Etlin sugeriu a terceirização da gráfica. Assim, poderiam se dedicar completamente ao gerenciamento de comunicação, sem deixar de prover serviços gráficos básicos aos clientes. Em meados do ano passado o conselho foi colocado em prática. Desde então, a Arizona já cresceu cerca de 80%. "Achávamos que o caminho eram os novos serviços, mas tínhamos receio de tomar a decisão errada na execução da estratégia", diz Marcus Hadade. "Ouvir a opinião de um profissional que tem visão de vários outros negócios que também estão crescendo nos deixou mais seguros."
Programa Mentor
O que é: Similar ao Mentoring, é aplicado em situações que requerem acompanhamento constante e análises periódicas. O mentor voluntário acaba se tornando uma espécie de conselheiro da empresa.
Como funciona: Geralmente tudo começa em uma reunião de mentoring, na qual se detecta que o assunto exige atenção. Então, empreendedor e mentor passam a se reunir periodicamente. Não há prazo para terminar.
Exemplo: Em 2005, Luis Chicani, da DentalCorp, seguradora de planos odontológicos, começou um Programa Mentor com Luiz de Campos Salles, na época presidente da Itaú Seguros. O desafio era conseguir fazer com que a DentalCorp crescesse sem comprometer sua rentabilidade num mercado complicado.
Resultado: Conhecendo a dinâmica do setor de seguros, Campos Salles acreditava que a DentalCorp poderia ser vendida no médio prazo e orientou Chicani a se preparar para essa ocasião. "Eu não gostava da idéia, mas as conversas me fizeram enxergar que se não me preparasse eu poderia ser simplesmente engolido por empresas maiores", diz Chicani. No final de 2006, a DentalCorp foi comprada pela OdontoPrev. Hoje, Chicani é dono da BenCorp, empresa que atua com benefícios corporativos. A BenCorp conta com um conselho consultivo, do qual Campos Salles faz parte.
G-Lab
O que é: Nesse programa, grupos de alunos do MBA da escola de negócios do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, trabalham por cerca de um semestre como consultores de empresas emergentes. O G-Lab é uma disciplina do MBA e todo o trabalho é acompanhado por professores.
Como funciona: Os empreendedores interessados apresentam um projeto para estudo e passam por uma seleção da Endeavor e do MIT. Os estudantes escolhem uma das empresas. Durante seis meses, um grupo geralmente formado por cinco componentes estuda o momento pelo qual a empresa está passando e seus principais desafios. Nesse período, os estudantes fazem um trabalho de imersão para entender o negócio, seu mercado e elaborar uma proposta estratégica. Depois eles vêm para o Brasil, onde permanecem por um mês, para concluir o projeto. A empresa arca com os custos de passagens, hospedagem e alimentação.
Exemplo: Em janeiro deste ano, Arnold Correia, da SubWay Link, que produz conteúdo para as TVs internas de redes como Wal-Mart e Magazine Luiza, pediu aos estudantes do MIT um panorama da evolução de TVs corporativas no mercado americano. Como seu produto era uma novidade no Brasil, ele queria ter noção do seu potencial de crescimento.
Resultado: Os estudantes recolheram dados sobre o mercado americano desde o lançamento de produtos similares aos da SubWay Link. Com base nesses dados e com informações da economia brasileira, apresentaram uma projeção de crescimento da SubWay Link durante três anos. Também sugeriram a Correia a implantação de algumas medidas para atender exigências do mercado no futuro, como o desenvolvimento de TVs corporativas para redes com demandas regionalizadas. "Quando vi a comparação da realidade americana com a brasileira, achei que a demanda poderia ser menor do eu imaginava", diz Correia. "Se eu não tivesse ajustado o orçamento, teria investido 50% além do necessário."
E-MBA
O que é: Esse programa recruta estudantes de MBA de renomadas universidades, como Columbia, MIT, Stanford e Harvard, para prestar consultoria. Diferentemente do G-Lab, porém, o E-MBA não conta com acompanhamento de professores.
Como funciona: A Endeavor nos Estados Unidos faz uma pré-seleção dos alunos interessados. O empreendedor faz suas escolhas, com base na análise dos currículos e em entrevistas por telefone ou videoconferência. O estudante vem ao Brasil e, integrado à equipe da empresa, participa do desenvolvimento de um projeto por cerca de três meses. Quem assume os custos com passagem, hospedagem e alimentação é o empreendedor.
Exemplo: No início do ano passado, o estudante cingapuriano Goh Kuan Tana, da Universidade Stanford, desembarcou no Brasil para produzir uma análise detalhada do mercado de patologia cirúrgica, uma especialidade da medicina que faz diagnóstico de doenças. O pedido partiu de Thiago Venco, proprietário da Diagnóstika, que presta esse tipo de serviço.
Resultado: O estudante mapeou todo o processo de decisão dos clientes e apontou, por exemplo, o que levava seguradoras e hospitais a escolher ou não determinado laboratório para parcerias. A pesquisa indicou que hospitais e seguradoras queriam que o próprio laboratório gerenciasse a qualidade do serviço médico para saber se o exame que o profissional pediu realmente era necessário. “O estudo mudou a maneira como enxergávamos o mercado”, diz Venco. “Passamos a fazer isso e fechamos grandes contratos, que levaram a um crescimento de 20% nos primeiros dez meses deste ano.”
Orientação para captação de recursos
O que é: Ajuda o empreendedor a encontrar a melhor opção de captação de recursos entre as diversas existentes.
Como funciona: Primeiro a Endeavor faz uma avaliação das melhores opções de financiamento no mercado de acordo com o caso. Depois, ajuda a implementar a estratégia de financiamento por meio de reuniões de aconselhamento com os profissionais voluntários do instituto e de contatos com financiadores. (A Endeavor não empresta dinheiro ou investe em empresas.)
Exemplo: O paulista Wilson Poit, da Poit Energia, especializada em locação de geradores elétricos, conversou com mais de 20 empresários e executivos antes de definir a melhor forma de receber capital. Entre eles estava Carlos Alberto Sicupira.
Resultado: A conversa com Sicupira foi em 2003. Poit estava propenso a aceitar uma proposta de aporte de um fundo de investimento, mas Sicupira o demoveu da idéia. “Ele me disse que eu deveria fazer a minha empresa crescer mais antes de receber um fundo”, diz Poit. Quatro anos depois, a Poit recebeu investimentos do Fundo BRZ, um braço do GP Investimentos. “Quando isso aconteceu, a empresa valia quatro vezes mais”, diz ele.
Global Tours
O que é: Todos os anos a Endeavor nos Estados Unidos organiza uma viagem com empreendedores das unidades do mundo inteiro. Os participantes conhecem grandes corporações, como Google, Dell e Warner Music.
Como funciona: Os empreendedores vão às companhias e são recebidos por seus presidentes ou fundadores para um bate-papo. O empreendedor arca com todos os custos da viagem, que costuma durar de quatro a sete dias.
Exemplo: Neste ano o empreendedor Marcelo Romcy, da Proteus, empresa especializada em segurança da informação, embarcou para o seu quarto Global Tour. Ele já conversou pessoalmente com gente como David Filo, fundador do Yahoo!. "Falei com pessoas e visitei empresas que sempre sonhei conhecer", diz.
Resultado: Inspirado no modelo de operação da Dell e na conversa com seu fundador, Michael Dell, Romcy identificou um aspecto que ajudava a explicar o grande crescimento da empresa — a obsessão por qualidade. "Dell é incansável para aperfeiçoar os processos de trabalho e os produtos", diz Romcy. "Fiquei impressionado e quis fazer o mesmo na Proteus." Com a ajuda de uma consultoria, Romcy identificou o que podia ser melhorado e estabeleceu processos para isso. O resultado foi uma melhora de 40% no índice de satisfação dos clientes.