"Um Sonho Possível": filme vencedor do Oscar é protagonizado por Sandra Bullock (Warner Bros Pictures/Reprodução)
Repórter da Home
Publicado em 14 de agosto de 2023 às 18h26.
Última atualização em 14 de agosto de 2023 às 19h07.
O filme "Um Sonho Possível" ("The Blind Side", nos Estados Unidos) fez sucesso no Brasil por contar a história de superação de um adolescente negro que teve sua vida transformada ao ser acolhido e adotado por uma família branca. Contudo, Michael Oher revelou recentemente que a ajuda mostrada no longa não aconteceu exatamente como mostrada nas telas.
Nesta segunda-feira , 14, a estrela aposentada da NFL, apresentou uma petição a um tribunal do Tennessee, alegando que a adoção e o apoio financeiro foram uma mentira inventada pela família Tuohy para enriquecer às suas custas.
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A petição alega que Sean e Leigh Anne Tuohy, que levaram Oher, hoje com 37 anos, para sua casa quando era um estudante do ensino médio, nunca o adotaram. Em vez disso, Oher alega, menos de três meses após ele completar 18 anos, em 2004, o casal o enganou para que assinasse um documento tornando-os seus tutores, o que lhes dava autoridade legal para fazer negócios em seu nome.
O documento diz também que os Tuohys usaram seu poder como responsáveis legais para fechar o acordo do filme "Um Sonho Impossível".
Sean, Leigh Anne e seus dois filhos biológicos teriam sido pagos milhões de dólares em royalties de um filme vencedor do Oscar que rendeu mais de US$ 300 milhões — enquanto isso, o jovem atleta não teria recebido nada por sua própria história.
Nos anos seguintes, os Tuohys continuaram chamando Oher de filho adotivo e usaram essa afirmação para promover sua fundação, assim como o trabalho de Leigh Anne Tuohy como autora e palestrante.
"Michael Oher descobriu essa mentira para seu desgosto e constrangimento em fevereiro de 2023, quando soube que a tutela com a qual ele consentiu com base no fato de que isso o tornaria um membro da família Tuohy, na verdade não lhe fornecia nenhum relacionamento familiar com os Tuohys", explica a petição.
De acordo com a ESPN, o processo aberto por Oher pede ao tribunal do Tennessee que encerre a tutela dos Tuohys e emita uma liminar impedindo-os de usar seu nome e imagem. O ex-atleta também pede uma contabilidade completa do dinheiro que os Tuohys ganharam usando o nome dele e que o casal pague a ele sua parte justa nos lucros, além de indenizações compensatórias e punitivas não especificadas.
Oher estava no último ano do ensino médio quando assinou os papéis da tutela e, na época, os Tuohys teriam lhe dito que essencialmente não havia diferença entre adoção e tutela. Em seu livro de memórias publicado em 2011, Oher escreveu: "Eles me explicaram que significa exatamente a mesma coisa que 'pais adotivos', mas que as leis foram escritas de uma maneira que levava em consideração minha idade".
Mas há algumas distinções legais importantes. Se Oher tivesse sido adotado pelos Tuohys, ele seria um membro legal de sua família e teria mantido o poder de lidar com seus próprios assuntos financeiros. Sob a tutela, esse poder passou aos Tuohys, mesmo sendo um adulto legal sem deficiências físicas ou psicológicas conhecidas.
Segundo o processo legal, os Tuohys começaram a negociar um contrato de filme sobre seu relacionamento com Oher logo após o lançamento de 2006 do livro "The Blind Side: Evolution of a Game", que narrava a história do atleta.
A Justiça diz que a Warner Bros pagou aos Tuohys e seus dois filhos biológicos US$ 225 mil (R$ 1,11 milhão na cotaçãoa atual) cada, mais 2,5% dos "receitos líquidos definidos" do filme "Um Sonho Possível".
No ano de lançamento, o filme foi um sucesso com o públco e aclamado pela crítica, arrecadando mais de US$ 300 milhões nas bilheterias e dezenas de milhões de dólares a mais em vendas de vídeos. O longa dirigo por John Lee Hancock recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme, e a atriz Sandra Bullock ganhou o prêmio de Melhor Atriz por sua interpretação da mãe, Leigh Anne Tuohy.
Embora o acordo tenha permitido aos Tuohys lucrar com o filme, a petição alega que um contrato separado, feito em 2007, e supostamente assinado por Oher, parece dar ao estúdio os direitos vitalícios de sua história "sem qualquer pagamento". O processo também diz que Oher não se lembra de ter assinado o contrato.
No passado, Sean e Leigh Anne Tuohy negaram que ganharam muito dinheiro com "Um Sonho Possível" e afirmaram que receberam uma taxa fixa pela história e não receberam nenhuma porcentagem dos lucros do filme. O que ganharam teria sido compartilhado com Oher.
Já a petição judicial de Oher aponta que ele nunca recebeu nenhum dinheiro com o filme, embora por muito tempo suspeitasse que Sean e Leigh Anne estavam lucrando com o longa. E sempre que ele os questionava sobre o assunto, não obtinha respostas diretas, disse seu advogado, J. Gerard Stranch.
Até o momento, a família Tuohy não se manifestou sobre o processo movido por Michael Oher.
Michael Oher é um dos 11 filhos de uma mãe viciada em drogas e presa diversas vezes pelo porte de substâncias ilegais.
Aos 10 anos, o garoto foi encaminhado a um orfanato e passou a adolescência trocando de lares, além de ter dormido na rua em muitas ocasiões.
Na escola, Oher rapidamente revelou suas habilidades para os esportes foi apresentado para o diretor de um colégio cristão em Memphis, no Tennessee, que aceitou matriculá-lo. Em pouco tempo, o jovem se destacou no time da escola. No entanto, por ainda viver nas ruas, ele costumava dormir na casa de colegas de classe, incluindo os Tuohys. Assim, Sean e Leigh Anne decidiram "adotá-lo" através da tutela provisória.
O adolescente acabou se tornando um dos melhores atletas de futebol americano estudantil e recebeu várias ofertas para faculdades, tornando-se posteriormente um astro do esporte profissional.