Retratos Fantasmas: filme de Kleber Mendonça Filho (Redes Sociais/Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 09h10.
Última atualização em 16 de dezembro de 2024 às 11h10.
Todo ano a Academia Brasileira de Cinema indica um filme brasileiro para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar. Desde 1999, no entanto, com "Central do Brasil", de Walter Salles, o Brasil não recebe uma indicação. Mas isso está longe de ser um demérito para o cinema nacional — prova disso é a campanha de "Ainda Estou Aqui" para a premiação e, mais recentemente, a presença de "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, na lista dos melhores filmes de 2024 da New York Times.
É verdade que fazer com que outros países do mundo assistam aos filmes brasileiros está longe de ser fácil: a hegemonia da indústria cinematográfica norte-americana muitas vezes ofusca produções nacionais de qualidade já dentro do Brasil, e esse fator é ainda mais forte lá fora. Mas existem caminhos para a fama: a inscrição e presença em festivais de cinema internacionais, como em Cannes, Veneza e Berlim por exemplo, já ajudam e muito na divulgação. Foi o que aconteceu com o filme de Mendonça.
"Retratos Fantasmas" é a 19ª produção do diretor, e teve sua estreia no Festival de Cannes de 2023. O filme é dividido em três atos: um mais voltado à forma como o cinema permeou a vida de Kleber Mendonça, outro que evidencia a importância dos cinemas de rua para a história do Recife, e um terceiro relacionado à história da indústria brasileira do audiovisual como um todo, e como, ao longo dos anos, ela foi se transformando.
Na lista do New York Times, o filme consta na sexta posição.
Pela diversidade de temas, de estrutura e até mesmo de filmagem, fica difícil rotular um gênero para "Retratos Fantasmas". Mas esse era mesmo um dos objetivos de Mendonça. "Eu adoro ser escorregadio no sentido de alguém ter uma dificuldade, sabe? Se questionar 'qual é a caixa onde eu coloco esse filme'. Eu nunca pensei nele como documentário, por exemplo, embora eu suspeitasse que talvez a caixinha mais próxima seria a desse gênero. Mas eu gosto muito de ter uma sequência de ficção, que acontece ao final do filme, essa parte de arquivo também. Em geral, eu tenho um certo prazer de ver o filme nesse cenário mais escorregadio", disse o cineasta à EXAME no ano passado.
As autoras do texto do NYT destacaram que essa passagem entre autobiografia e documentário foi uma das partes mais atrativas. "Aqui, Mendonça Filho usa o apartamento como um ponto de eixo para uma investigação que se irradia em diferentes direções — para seu passado e o de sua mãe, para antigos sets de filmagem e por cinemas abandonados — mas sempre retorna para casa", diz o texto.
"Grande parte deste documentário pungente, formalmente animado e intelectualmente estimulante de Mendonça Filho, um crítico de cinema brasileiro que virou cineasta, se passa dentro e ao redor do apartamento em que ele morou quando criança na cidade costeira de Recife. Frequentadores de cinemas de arte podem reconhecer este apartamento de seus filmes anteriores, incluindo “Aquarius” (2016), no qual Sônia Braga interpreta uma mulher lutando contra o despejo", completa o artigo do NYT.
O filme de Mendonça Filho foi o escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para representar o Brasil no Oscar de 2023, mas acabou não conquistando a vaga entre os indicados. O vencedor da última edição foi "Zona de Interesse", filme britânico de Jonathan Glazer sobre o Holocausto.
Neste ano, a escolha da Academia foi "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, que segue em campanha ativa para conquistar algumas vagas na premiação e pode quebrar o ciclo de 26 anos. O longa foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme falado em língua não-inglesa e em Melhor Atriz de Drama, para Fernanda Torres.
Também recebeu o prêmio de Melhor Roteiro em Veneza e mais sete prêmios em mais de 50 festivais internacionais e nacionais. Quatro deles foram escolhidos por um júri popular: Prêmio do Público e o Prêmio Danielle Le Roy, eleito pelo Júri Jovem no Festival De Pessac, na França; Melhor Filme na 48ª Mostra de S. Paulo; no Festival Internacional de Cinema de Vancouver, no Canadá, e no Festival de Cinema de Mill Valley, nos Estados Unidos.
Fernanda Torres, que vem numa toada de entrevistas internacionais para grandes veículos de cultura, como Variety, Vanity Fair, Deadline e Indiwire, foi eleita Melhor Atriz em filme internacional pelo Critics Choice Awards.