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Psoríase: entenda a doença que atinge Beyoncé e outras 125 milhões de pessoas no mundo

Revelação foi feita pela cantora em meio a uma reflexão sobre as memórias que guarda sobre seu cabelo

Beyoncé: apresentação da cantora na Renaissance World Tour (Kevin Mazur/Getty Images)

Beyoncé: apresentação da cantora na Renaissance World Tour (Kevin Mazur/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 14h22.

A cantora Beyoncé revelou que convive com o diagnóstico de psoríase, uma doença crônica e autoimune que provoca manchas avermelhadas e placas descamativas na pele.

A declaração, feita recentemente à revista Essence, aconteceu em meio a uma reflexão sobre as memórias que guarda sobre seu cabelo: "A relação que temos com nosso cabelo é uma jornada profundamente pessoal. Desde passar a infância no salão de beleza da minha mãe até meu pai aplicar óleo no meu couro cabeludo para tratar minha psoríase, esses momentos são sagrados para mim".

Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a psoríase atinge de 1% a 3% da população mundial, o que corresponde a cerca de 125 milhões de pessoas. Deste total, 5 milhões vivem no Brasil. Além de Beyoncé, outros famosos, como Kelly Key, Kim Kardashian e Xand Avião, também já afirmaram ter o diagnóstico para a patologia.

A psoríase não é uma doença grave e há tratamento acessível - inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - que permite o controle dos sintomas. Mas, além de não ter cura, a patologia também pode acarretar em problemas emocionais de autoestima e isolamento social por ser uma enfermidade dermatológica facilmente observável.

O que é e o que causa a psoríase?

Doutor em Dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP), e sócio-efetivo da SBD, o médico Abdo Salomão explica que a causa exata da psoríase é desconhecida, mas está relacionada com a genética e histórico familiar. Em termos fisiológicos, ele explica que o desenvolvimento da doença no corpo está associado a um processo inflamatório em uma das camadas da pele, cujas células perdem a adesão e começam a se soltar e descamar.

"Com isso, o organismo faz mais células e realiza esse processo de tal forma que a pele fica mais grossa e descamativa", explica Salomão. Por essa razão, a psoríase é considerada uma doença autoimune, ou seja, que é provocada pelo próprio sistema de defesa do corpo.

Às vezes, as placas descamativas de pele lesionada aparecem nas palmas de pés e mãos, no couro cabeludo, e até em axilas, virilha e genitais (estes casos, chamados de psoríase invertida, são mais raros). Existem ainda os casos em que psoríase atinge as unhas - que são ainda mais incomuns.

"Geralmente, (a doença) poupa a face, porque o sol tem efeito anti-inflamatório. Onde bate sol, não tem psoríase ou raramente dá psoríase", explica o especialista. Ainda segundo o Abdo Salomão, é mais comum a doença surgir na adolescência ou logo após a adolescência, e ser mais branda à medida que a pessoa envelhece. "Não significa que houve cura, mas as lesões e as placas descamativas diminuem (com o tempo)", diz.

Há também fatores de risco que podem levar à manifestação da psoríase ou à evolução dos sintomas, como histórico familiar; estresse (que pode acelerar o surgimento dos sintomas); obesidade; tempo frio, que contribui para o ressecamento da pele; uso de álcool, tabaco e também de alguns medicamentos - antimaláricos, os que são usados para tratar hipertensão, e também lítio.

"Alcoolismo e etilismo pioram a psoríase. E o estado emocional, com estresse, preocupação, ansiedade e insônia, também servem como gatilhos para agravar o quadro", afirma o médico.

Sintomas da psoríase

Embora a gravidade da patologia seja diferente para cada paciente, em linhas gerais a psoríase provoca manchas vermelhas com escamas secas esbranquiçadas na pele; pele ressecada, coceira, dor, sensação de queimação e, em casos mais raros, alterações no formato das unhas.

Os sintomas da doença são considerados cíclicos, ou seja, aparecem com mais intensidade em determinada época, e podem ser menos desconfortáveis em outras. Isso pode depender também o estado emocional do paciente. Como disse Salomão, quanto mais ansioso e estressada está a pessoa, maiores são as chances das lesões aparecerem.

Em casos menos comuns, também podem ser observados inchaço e rigidez nas articulações, provocando a chamada artrite psoriásica, que acontece quando a psoríase atinge a região das juntas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, até 30% dos paciente apresentam esse quadro.

"Às vezes o paciente apresenta sintomas em um local (do corpo), e às vezes, apresenta em todos. Além disso, também é comum as placas migrarem, porque a alteração atinge a pele toda", diz o dermatologista.

Sintomas da psoríase

  • Manchas avermelhadas com escamas secas em regiões como couro cabeludo e cotovelo
  • Pele ressecada e rachada espalhadas pelo corpo
  • Coceira, queimação e dor
  • Alterações no formato das unhas, além de descolamento
  • Inchaço e deformação das articulações

Tratamentos

A psoríase não tem cura, mas tem tratamento e controle, garante Salomão. "A única coisa que não podemos prometer ao paciente é que ele vai fazer um tratamento em que psoríase some e nunca mais vai aparecer. Mas a gente pode prometer que os tratamentos permitem o controle. A doença desaparece e, na vigência do tratamento, não aparece mais", diferencia.

Nos casos considerados leves, o tratamento é feito com a hidratação da pele com o uso de medicamentos tópicos (cremes), aplicados na região das lesões. Em algumas situações, a exposição ao sol (com a orientação de um dermatologista) também contribui para a melhora do quadro clínico.

O tratamento tópico, com creme, geralmente, é o suficiente. Mas, se o paciente apresentar resistência a esse método, passa a ser necessário um tratamento com o uso de comprimidos em casos mais moderados, ou injeção de medicamentos imunobiológicos em situações mais extremas, com numerosas placas pelo corpo e também nas articulações,.

Nesse último caso, os remédios são altamente caros, podendo chegar a R$ 20 mil reais. Mas, segundo Salomão, podem ser adquiridos pelo SUS.

Há também tratamentos em que o paciente é submetido à exposição de luzes ultravioleta A (PUVA) ou ultravioleta B de banda estreita (NB-UVB) em cabines. Neste método, chamado de fototerapia, os médicos aumentam a sensibilidade da pele à luz por meio de uma combinação de medicamentos.

Tratamento também deve ser feito para saúde mental, diz médica

Por ser fisicamente aparente e observável, a psoríase também é conhecida pelos problemas emocionais e sociais que provoca nos pacientes. Pessoas diagnosticadas com a doença sofrem com as transformações no corpo e com dificuldades para autoaceitação.

Além disso, lidam também com o preconceito de quem acredita que a enfermidade seja contagiosa. Esconder as feridas com roupas e se isolar passam a ser hábitos comuns.

Por esse motivo, a dermatologista Paola Pomerantzeff, também integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), alerta que é necessário incluir, no tratamento, cuidados com a saúde mental do paciente. "Apesar de ser uma doença benigna e não contagiosa, a psoríase pode gerar um impacto significativo na qualidade de vida e na autoestima do paciente, atrapalhando-o tanto fisicamente quanto psicologicamente e socialmente", afirma a médica.

Um estudo publicado em 2020 na revista médica JAMA Dermatology, aponta que os problemas cutâneos provocados pela psoríase podem aumentar em 32% o risco de uma pessoa desenvolver doenças mentais, como depressão e ansiedade. E a piora desse estado emocional, lembra Paola, é perigoso justamente por ser um fator que agrava os sintomas da psoríase. Ou seja, vira uma bola de neve.

"Uma área relativamente nova de pesquisa em dermatologia levanta a hipótese de que se você teve psoríase realmente ruim em uma idade jovem e foi socialmente isolado, isso pode afetar sua vida social mais tarde, mesmo que sua pele melhore", comenta a especialista.

Para ela, o ideal é que a ajuda psicológica seja um escudo, para que o indivíduo sinta menos os efeitos emocionais da doença. "É necessário ter empatia e dar espaço ao paciente, em um acompanhamento psicológico adequado, para falar sobre sua condição de pele e como isso afetou sua vida, o que pode ajudar a melhorar a resposta do tratamento", diz a médica.

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