O lendário músico e ex-Beatle Paul McCartney, de 82 anos, levantou preocupações sobre mudanças nas leis de direitos autorais do Reino Unido que poderiam, segundo ele, prejudicar os artistas e minar a criatividade.
Em entrevista à BBC, prevista para ser exibida no domingo (26), McCartney alertou que a proposta do governo britânico, que permite o uso de obras criativas para o treinamento de modelos de inteligência artificial (IA) sem autorização prévia dos criadores, representa uma séria ameaça à indústria criativa.
“Você tem jovens compondo músicas lindas, mas eles não possuem os direitos sobre suas criações, e qualquer um pode simplesmente se apropriar delas,” disse McCartney. “O dinheiro está indo para algum lugar... Alguém está sendo pago, então por que não pode ser para quem escreveu a música?”
O governo do Partido Trabalhista britânico lançou, em dezembro de 2024, uma consulta pública para avaliar como a legislação de direitos autorais pode equilibrar a remuneração dos criadores e o acesso das empresas de IA a conteúdos de alta qualidade.
A proposta visa posicionar o Reino Unido como um líder global no setor de inteligência artificial, mas enfrenta resistência de artistas que temem que a criatividade humana seja desvalorizada.
“Somos o povo, vocês são o governo. O papel de vocês é nos proteger,” argumentou McCartney. Ele ressaltou que, ao priorizar interesses comerciais, o governo pode negligenciar os criadores. “Se vão aprovar uma lei, certifiquem-se de proteger os pensadores criativos ou eles simplesmente deixarão de existir.”
IA no centro do debate global
A controvérsia sobre o impacto da IA na criatividade não é recente.
Em abril de 2024, nomes como Billie Eilish, Pearl Jam e Nicki Minaj assinaram uma carta aberta denunciando práticas irresponsáveis envolvendo inteligência artificial.
No documento, os artistas descreveram tais práticas como “um ataque à criatividade humana” e pediram maior regulamentação do setor.
Apesar das críticas, McCartney reconhece o potencial da IA. Em 2023, o último single dos Beatles, “Now and Then”, utilizou uma tecnologia chamada stem separation para restaurar uma antiga gravação de John Lennon, demonstrando que a IA pode ser uma ferramenta poderosa quando usada de forma ética.
O debate em torno do uso da inteligência artificial e seus limites segue ganhando força, destacando a necessidade de equilíbrio entre inovação e proteção aos criadores. Para McCartney, “sem apoio à criatividade, arriscamos perder aquilo que nos faz humanos.”