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Para Roberta Medina, maior presença de mulheres no Rock In Rio é 'simbólica e provocativa'

Em entrevista à EXAME, vice-presidente da Rock World conta que 60% do quadro de funcionários da empresa familiar é composto por mulheres, sendo 65% delas estão em cargos de liderança

Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, empresa idealizadora do Rock In Rio e The Town (Divulgação)

Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, empresa idealizadora do Rock In Rio e The Town (Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter da Home

Publicado em 8 de março de 2024 às 07h53.

Última atualização em 8 de março de 2024 às 22h49.

Usada diariamente para despertar sensações, a música pode desempenhar outras funções que vão além do entretenimento. As canções podem tanto contar histórias, quanto servir como instrumento da luta por um mundo mais igualitário.

Pelo menos, essa é uma das principais crenças de Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, empresa idealizadora de grandes festivais de música como Rock In Rio e The Town. Em clima de celebração do Dia Internacional da Mulher, a empresária tem um grande desafio na liderança do negócio iniciado por seu pai, Roberto Medina, e também por deixar sua marca em promover o protagonismo feminino e de outras minorias dentro e fora dos palcos dos eventos.

De Lisboa, onde reside com a família, Roberta conta à EXAME que encara grandes responsabilidades desde que começou a trabalhar na companhia aos 22 anos, especialmente na coordenação de festivais no Brasil e em Portugal. Mas, lida com a árdua tarefa por meio dos ensinamentos do pai.

"Com ele aprendi que, em primeira lugar, é fundamental reconhecer o valor das pessoas. Ter coragem e confiar nas pessoas. Sempre valorizar atitude e garra. Como foi o meu caso, pois meu pai depositou confiança na minha capacidade. O que foi estranho porque eu não tinha nenhuma experiência no ramo e já fui me envolver com o Rock In Rio".

E brinca: "Meu pai disse: 'Só vai! Depois vê o que acontece'. Foi como aprender a trocar o pneu com o carro andando. Mesmo assim, foi essa coragem que ele ensinou a ter e que até hoje me mantém".

Além do trabalho nada fácil de garantir o sucesso dos festivais, Roberta assumiu a missão de usá-los para tentar colocar em prática um de seus príncipios: tornar o mundo melhor. E assim, pretende deixar sua marca.

"Essa proposta começou a partir dos valores do meu pai e com isso ele abriu portas para que eu pudesse construir caminhos que eu acredito no festival. Meu objetivo não é apenas impulsionar o cenário musical, mas também trazer um valor para a sociedade. Por isso, a cultura é uma ferramenta super poderosa para construir possíveis futuros, onde todos sejam respeitados e protegidos".

Por se considerar mais pé no chão em suas ações, ao contrário do pai 'sonhador', Roberta se vê mais próxima das pessoas que atuam nos festivais e, por esse fator, busca tornar a Rock World uma empresa mais humanizada. "É comum interpretar que esse ponto de vista é coisa de mulher. Mas, quando pensamos no feminino, enxergamos acima de tudo seres humanos. Como estamos no Dia da Mulher, é necessário entender que o direito ao cuidado, ao respeito e à valorização deve ser igual para qualquer pessoa. Sem exceção".

Mais mulheres (e pluralidades) no Rock In Rio

Roberta Medina, vice-presidente da Rock World (Divulgação)

Roberta Medina, vice-presidente da Rock World (Divulgação) (Divulgação)

Em 2024, o Rock In Rio terá uma edição especial em comemoração dos seus 40 anos. Como iniciativa para exaltar a força feminina no mundo da música, o festival contará com o "Dia Delas", um dia do festival em que todo o line-up será composto inteiramente por mulheres.

A ideia surgiu durante o Rock in Rio de 2022, após a realização exclusiva de shows de artistas femininas em 11 de setembro, com Dua Lipa como headliner. Neste ano, a cantora americana Katy Perry será a principal atração do Palco Mundo, acompanhada por Ivete Sangalo. No Palco Sunset, IZA terá destaque, junto com um show de Gloria Gaynor.

Entusiasmada, Roberta vê que a iniciativa de representatividade pode ser impactante, em razão da música (como manifestação artística) desde sempre ser uma forma de estímulo de novos valores, entre eles o respeito entre as diversidades. No entanto, deixa claro que um espaço especial como o 'Dia Delas' ainda não é a solução.

"Acredito que o 'Dia Delas' é importante para estimular a abertura de um mercado mais inclusivo para mulheres e outras minorias sociais. É simbólico e provocativo. Mas, não adianta o line-up ser 50% para homens e o restante para mulheres. O mercado tem que proporcionar oportunidades e criar talentos que ocupem esses espaços. É uma tarefa que não cabe ao festival".

Para ela, o artista que está no palco representa apenas a 'ponta do iceberg', pois a disparidade entre os gêneros no mundo da música parte do backstage. "Historicamente, os homens têm mais destaque do que mulheres por causa da desigualdade na cadeia produtiva. São poucas mulheres na produção, composição e em quase todas as funções que vão do palco aos bastidores. Quem está em cima do palco depende de outros profissionais para chegar lá. É necessário focar nas falhas da indústria".

No Backstage

A diversidade está presente não apenas nos palcos dos festivais, mas também no staff da Rock World. A empresa conta com um quadro de funcionários majoritariamente formado por mulheres, com elas representando 60% do total. Já nos cargos de liderança, elas são 65% dos profissionais à frente da produção do Rock In Rio e de outros eventos.

Embora disruptivo, o movimento é bastante recente. Segundo a empresária, na primeira edição do Rock In Rio, em 1985, não havia uma política definida sobre a composição do quadro de colaboradores. As coisas começaram a mudar a partir da internacionalização do festival, na edição de Lisboa, em 2008. Na época, Roberta já estava na direção do evento e notou a crescente chegada de mulheres.

"Isso trouxe uma massa crítica feminina, que fez com que a empresa ficasse mais humanizada. Assim, surgiu um ambiente de respeito à natureza humana como um todo, as individualidades e vulnerabilidades de cada um. É algo que continuamos construíndo".

O que esperar do Rock In Rio 2024

O Rock In Rio está marcado para os dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro de 2024, na Cidade do Rock, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro.

"Esse ano é duplamente especial, porque comemoramos também os 20 anos do Rock In Rio em Lisboa e 40 anos no Brasil. Queremos entregar no Rio uma edição onde as pessoas fiquem arrepiadas do início ao fim. Com shows marcantes e que destaquem a potência do Rock In Rio", declarou. "Os artistas no line-up são maestro de uma grande festa, que é a soma de muitas histórias vividas. O festival é especial pelas memórias que o tornam único".

Estão confirmadas atrações internacionais como Ne-Yo, Ed Sheeran, Kate Perry, Imagine Dragons, Joss Stone, Shawn Mendes, entre outros. Além de artistas nacionais como IZA, Ludmilla e Lulu Santos.

Neste ano, o Rock In Rio vai lançar um novo palco Mundo e um Sunset mais ampliado. Além de outros espaços onde todas as pluralidades possam ser representadas. Como o Global Village, que oferecerá atrações que ressaltam a diversidade, a música global e a multiplicidade cultural. A Rock World também anunciou a volta do Espaço Favela, com a proposta de elevar a participação de artistas e profissionais das comunidades do Rio de Janeiro.

"É uma forma de dar ás pessoas a sensação do pertencimento, para que não se sintam sozinhas. A arte tem o poder de unir pessoas radicalmente diferentes, em pura paz e harmonia no mesmo lugar. E é lindo ver que dá para fazer isso na Cidade do Rock", diz Roberta.

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