Agência
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 14h52.
A animação "Ne Zha 2" se tornou o filme de maior bilheteria da China, de acordo com dados da plataforma de ingressos Maoyan. O blockbuster já arrecadou 5,78 bilhões de yuans (US$ 793 milhões), superando o recorde anterior, que pertencia ao filme A Batalha do Lago Changjin.
Baseado em uma lenda tradicional chinesa, o filme foi lançado durante o feriado do Ano-Novo Lunar e levou apenas oito dias e cinco horas para estabelecer um novo marco no cinema chinês. O primeiro filme da franquia estreou em 2019.
As ações da Enlight Media [SHE: 300251] — principal investidora, produtora e distribuidora do filme — dispararam 20% ao dia nos últimos três pregões. Hoje, o papel fechou em alta de 18%, a 13,50 yuans (US$ 0,51) na Bolsa de Shenzhen, acumulando valorização de 45% no ano.
A Enlight Media anunciou ontem que, até 4 de fevereiro, sua receita com "Ne Zha 2" ficou entre 950 milhões e 1,01 bilhão de yuans (US$ 130 milhões e US$ 139 milhões).
"Ne Zha 2" impressiona com cenários deslumbrantes e efeitos inovadores. O filme utiliza tecnologia 5G e IoT para aprimorar a experiência cinematográfica, enquanto sua estética oriental cuidadosamente preservada reforça o potencial de Ne Zha como um ícone cultural da China.
Assim como muitos sucessos do cinema chinês, "Ne Zha 2" tem suas raízes na mitologia do país. A trama gira em torno da figura do protetor Ne Zha e se inspira no clássico literário do século XVII Investidura dos Deuses, uma das primeiras grandes obras a explorar o universo de divindades e demônios dentro das tradições do taoísmo e do budismo.
Diferente da versão tradicional, na qual Ne Zha é retratado como um herói trágico que retorna ao pai, o filme apresenta uma abordagem moderna: ele se transforma em um jovem rebelde que desafia os deuses para reescrever seu próprio destino. Essa reinvenção ressoa com o espírito da juventude atual, que rejeita rótulos e busca autonomia sobre suas escolhas.
A animação incorpora elementos contemporâneos, como memes, gírias modernas e até o sotaque característico da província de Sichuan para o Mestre Taiyi, mentor de Ne Zha. Essa fusão entre cultura pop e tradição aproxima a mitologia chinesa do público jovem e fortalece uma identidade cultural única.
A trajetória de Ne Zha reflete o sentimento de exclusão social. O preconceito que ele enfrenta ao longo da história simboliza a rejeição aos “outsiders” na sociedade contemporânea, incentivando o público a desafiar estereótipos e superar adversidades.
Os pais de Ne Zha, tradicionalmente retratados como figuras rígidas, aparecem na sequência sob uma nova perspectiva: um casal amoroso que desafia os deuses para proteger o filho. Essa mudança reflete as transformações na estrutura familiar chinesa e cria uma forte conexão emocional com o público jovem.
A produção do filme triplicou o número de personagens em relação ao primeiro "Ne Zha" e incluiu mais cenas com efeitos especiais do que o total de cenas do filme original. Esse avanço demonstra a crescente confiança da indústria cinematográfica chinesa em criar experiências visuais imersivas e impactantes.
Ao longo da trama, Ne Zha evolui de um jovem rebelde para um herói que assume grandes responsabilidades, prometendo “destruir os céus e a terra” para salvar Chentangguan Pass. No entanto, seu espírito individualista permanece, incorporando o tradicional ideal de cavalheirismo, o que amplia ainda mais seu apelo ao público.
A icônica frase de Ne Zha, “Sou o mestre do meu próprio destino”, une o conceito taoísta de transformação do destino à filosofia existencialista, criando uma narrativa que revitaliza a cultura tradicional com uma perspectiva contemporânea.
Fonte: Yicai Global
Tradução: Mei Zhen Li