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MITA 2023: da pista premium à organização, festival no Anhangabaú deu certo?

Segunda edição do festival foi transferida para a região do Anhangabaú, que foi reformada nos últimos anos e tenta se estabelecer como epicentro cultural de São Paulo

MITA 2023: veja o que o público achou o festival no Vale do Anhangabaú (Luiza Vilela/Exame)

MITA 2023: veja o que o público achou o festival no Vale do Anhangabaú (Luiza Vilela/Exame)

Publicado em 6 de junho de 2023 às 12h02.

Última atualização em 6 de junho de 2023 às 12h07.

Neste fim de semana, São Paulo recebeu a 2ª edição do festival de música Mita. Foram 30 mil pessoas no sábado e cerca de 25 mil no dia seguinte, segundo estimativas do festival. Lana Del Rey, Florence + The Machine, NX Zero, Jorge Ben Jor, Duda Beat e Djonga foram algumas das atrações principais do evento que, este ano, foi transferido para o centro da capital paulista, no Novo Anhangabaú.

Há alguns anos, o centro de São Paulo é conhecido como sinônimo de insegurança. Mesmo com esforços do governo municipal, quando se fala sobre a região, é inevitável pensar sobre os problemas de segurança pública que o local enfrenta. A revitalização do Vale do Anhangabaú faz parte da campanha da Prefeitura para revitalizar o centro da cidade, fazendo com que a população tenha vontade — e se sinta segura — de ocupar novamente a região.

O plano pode ser novo, mas, desde o século passado, o Anhangabaú é palco para encontros culturais e manifestações políticas. Porém, o espaço ficou completamente intransitável na última década, quando passou por uma reforma que levou tempo, dinheiro e uma privatização para acontecer.

Idealizada em 2007 pelo dinamarquês Jan Gehl, a obra do Novo Anhangabaú só foi começar de fato em 2019, sob gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), e custou R$ 105 milhões até fevereiro de 2021. Além do atraso — o Anhangabaú só foi oficialmente aberto ao público em dezembro de 2021 —, a obra teve outras promessas não cumpridas: as fontes luminosas não funcionam, os quiosques construídos não foram ocupados e, mesmo sendo um espaço público, o local já passou mais de 100 dias fechado.

Toda a revitalização e administação do local são responsabilidade do consórcio Viva o Vale até 2031, após um contrato de R$ 55 milhões com a Prefeitura. Além de ter sido palco da Virada Cultural, o Anhangabaú receberá diversos eventos privados. Só nos últimos meses, um show gratuito do artista brasileiro Jão e o festival de música eletrônica Ultra Brasil aconteceram entre os ‘muros’ de metal fino, que não escondem muita coisa para o público de fora.

Pista premium e locomoção: a polêmica do MITA

Esse ano, tanto no Rio quanto em São Paulo, o MITA resolveu investir em uma separação entre pista premium e pista comum, algo corriqueiro em eventos realizados dentro de estádios — como foi com o GP Week, em 2022 —, mas não tão comum em festivais. 

Lollapalooza, Primavera Sound e Rock in Rio, por exemplo, não vendem ingressos para uma pista exclusiva em frente ao palco. Normalmente, o valor dos ingressos varia de acordo com o conforto e comodidade dentro do festival — questões mais relacionadas à espaço para descanso, banheiros separados e consumo alimentício.

No MITA, para quem quis ficar colado na grade do artista favorito, o valor do ingresso foi mais caro e o conforto, praticamente igual. Enquanto os valores da pista comum variaram entre R$ 350 (meia) a R$ 950 (inteira), os da pista premium foram de R$ 750 (meia) a R$ 2.200 (inteira).

O festival Mita destinou um espaço que aparentou ser muito maior do que o necessário para a pista premium. Quem optou pelo ingresso mais barato teve que lidar com toda a distância do palco, além da vista deprimente para os artistas. A situação gerou revolta tanto dentro do evento quanto nas redes sociais. 

O que o público achou?

Segurança

Ao mesmo tempo em que tenta abrigar novos públicos, o Anhangabaú enfrenta o aumento da criminalidade na região central. O tapume é uma boa solução para quem está dentro do evento mas, na hora de sair, a sensação de insegurança é a mesma. Para tentar contornar o problema, o Mita reforçou a segurança de policiais ao longo do caminho entre o metrô e o festival. “Recebi muita informação errada, mas realmente tem muita polícia [sic], então, me parece mais controlado”, disse uma das visitantes do festival, Thaís de Alencar, de 34 anos.

Assim como Thaís, algumas pessoas relataram dificuldade em se localizar tanto na ida quanto na volta para o Mita. Estações de metrô mais próximas, por exemplo, não tinham indicação do caminho para o festival. Sem poder “sacar” o celular na rua por medo de assalto, o clima de insegurança para quem caminhava até o evento só aumentou.

Grades e pista premium

Tanto na edição no Rio quanto em SP, a pista premium do MITA virou “meme” nas redes sociais. O espaço era muito maior do que a quantidade de pessoas e o resultado foi um vão entre os dois públicos. Os “premium” – em boa parte influenciadores e celebridades – ficaram colados no artista, enquanto os pagantes da pista normal tinham dificuldade de enxergar bem as apresentações do dia.

“Achei isso muito desnecessário, como se fosse um elitismo dentro de um festival que já é bem caro”, disse Rafaela Couto, 30. Já Marcos, 31, que comprou o ingresso para a premium, disse que viu no ingresso uma boa oportunidade para ficar perto de uma de suas artistas favoritas. “Não queria acampar o dia todo, mas queria a oportunidade de pegar grade em um show da Florence”, explicou.

No domingo, uma postagem no Twitter viralizou sobre o espaço da pista premium ter diminuído de um dia para o outro. A assessoria por trás do evento afirma que a mudança foi feita por conta de logística – ou seja, não estaria relacionada às críticas do dia anterior. “O evento estava esgotado no sábado, com as duas áreas com capacidade máxima. No domingo, como tivemos um número menor [de ingressos], dimensionamos [o espaço] para o valor vendido”, escreveu.

Distância e som

Logo no primeiro dia, muitos fãs reclamaram da altura do som: não dava para ouvir do meio para o fim do Vale do Anhangabaú. Na noite de sábado, fãs da Lana Del Rey que estavam no meio da pista normal gritavam para a produção aumentar o volume. 

Já no dia seguinte, a impressão geral é de que o som estava bom para ouvir de qualquer distância, mas o MITA nega ter feito qualquer alteração. Os comentários durante o show final de domingo eram mais sobre a dificuldade em visualizar o palco. “Eu assisti todo o show da Florence da pista comum, tentei ficar o mais próximo possível porque sou muito fã dela. E foi péssimo: eu tentei ver pelo telão, porque estava muito longe, e tinha umas pilastras que impediam a visualização”, comentou Wilson Tavares, 32. “Para quem estava longe, que nem eu, ficou complicado acompanhar o show”.

Apesar da vista privilegiada dos prédios do centro, o espaço vertical onde acontece o evento foi criticado por uma boa parte do público entrevistado pela EXAME. “Acho que a estrutura de palco do ano passado, que era circular, ficou melhor. Assim comprido tá impossível de enxergar”, disse Luciana Bastos, 33. A primeira edição do MITA em São Paulo foi no Spark Arena, localizado na Vila Leopoldina.

“Eu achei que o festival está legal, mas eu também penso que aqui não comporta as pessoas, sabe? Não tem muito espaço, tem gente demais”, disse Júlia Aires, 22. De acordo com o MITA, a capacidade máxima do evento é de 30 mil pessoas e sábado estava esgotado. 

No domingo, que teve cerca de 5 mil pessoas a menos, a opinião sobre o evento foi mais otimista. Até o início da noite, era possível caminhar pelo longo corredor sem precisar se espremer entre ninguém. Como todo show, o ‘apertado’ só chegava perto da grade da pista normal. 

Para Aristides Barbosa, 38, o fim de semana do MITA foi tranquilo. Fã de Lana Del Rey, ele ficou no meio da pista normal e achou a experiência confortável. “Até porque na minha altura consigo ver melhor”, destacou. “Mas consegui escutar bem, ver bem. Não percebi nenhuma muvuca, como o pessoal tá falando”.

Centro histórico

A cantora Florence encerrando o festival MITA 2023 em São Paulo (MITA Festival/Reprodução)

A visão dos prédios no centro de São Paulo não é igual as montanhas cariocas que serviram de pano de fundo para o MITA no Rio de Janeiro, mas fascinaram o público do MITA. 

Durante o show do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto comemorou o fato do Anhangabaú estar sendo “revitalizado” e que mais festivais estão acontecendo por lá. “Morei aqui do lado durante doze anos, falou? É quase como se eu tivesse tocando no meu quintal”, disse o cantor.

Entre as críticas ao evento, os fãs não deixaram de rasgar elogios à vista, que integrou a música com um visual mais urbano.  “Eu gostei muito do espaço, já tinha vindo em outros eventos por aqui, foi muito bem pensado. O lugar é muito bonito, mas acho que o problema é que as pessoas têm muito preconceito com o centro de São Paulo”, disse Lucas Brito, 32.

Outro ponto positivo, claro, foi a música. Independente do local, os visitantes do MITA não tiveram reclamações para fazer sobre os artistas de grande porte que vieram nesta edição. Há esperança de um MITA melhor no ano que vem, mas preferencialmente em algum outro lugar.

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