Escola de Quebrada: Mauricio Sasi, que interpreta o protagonista Luan, durante as gravações do filme (Paramount+/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 13 de março de 2023 às 15h59.
“Às vezes vemos filmes nacionais em que a gente não se enxerga, não vemos o povo brasileiro representado e, poder nos ver em cena é muito gratificante”, afirmou o ator Lucas Righi, que vive David, um dos adolescentes do filme Escola de Quebrada, durante entrevista à EXAME POP.
O filme Escola de Quebrada, nova aposta dos estúdios Paramount e do streaming homônimo, é uma comédia que convida o telespectador a conhecer mais sobre a cultura das escolas e vidas dos adolescentes da periferia de São Paulo. O filme estreita a parceria entre a produtora e a label KondZilla, conhecida pelo sua grande atuação como gravadora e agência de grandes artistas do funk.
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O longa, que estreou em 3 de março, é ambientado em uma escola da zona leste de São Paulo, onde Luan (Mauricio Sasi) quer fazer de tudo para conquistar a atenção da sua colega de classe, Camila (Laura Castro). Mas, o que deveria ser a jornada em direção a popularidade na escola acaba resultando em muitas confusões. Então, Luan conta com a ajuda de seus dois amigos, Rayane (Bea Oliveira) e David (Lucas Righi), para salvar sua reputação e arrumar a bagunça e sobreviver na escola.
A lista de filmes tidos como clássicos da comédia sobre cultura adolescente é enorme. Mas, geralmente, há um abismo entre a ficção apresentada e a realidade das escolas brasileiras – principalmente quando o assunto é a realidade das favelas.
Para Kaique Alves, que dirigiu o filme ao lado de Thiago Eva, essa falta de representatividade foi o fio condutor para a criação do longa: “Nenhum desses filmes falava sobre uma escola de quebrada. Eu cresci querendo fazer esse filme, mostrar com detalhes cada coisa dentro da escola e coisas que eu vivi. Existem diversos filmes de escola, mas não com esse ângulo”.
O longa de cerca de uma hora relembra a estética das séries americanas Todo Mundo Odeia o Chris (2005-2009) e O Manual de Sobrevivência Escolar do Ned (2004-2007) por se valer de um humor quase caricato e super colorido sobre a realidade. Mas a escolha, feita propositadamente, é um convite a uma realidade leve e divertida.
Alves comenta que, na maioria das vezes, produções audiovisuais sobre a vida nas favelas trata sobre violência e tráfico de drogas. “A minha missão era trazer algo leve, bem-humorado, ser aquele filme para assistir sem preocupação. É só relaxar, se divertir e ter uma boa experiência”, afirma.
Outro elemento bem presente na narrativa é o funk, que não só se trata de um estilo musical da periferia, mas que influencia todo o ecossistema da escola, desde as gírias até o estilo de roupa dos estudantes. O gênero musical tem um papel importante na própria trajetória artística do diretor: “Aos quatorze anos, eu me interessei pelo audiovisual por causa do funk e por causa dos videoclipes. Comecei a fazer videoclipes e desde aquela época eu dizia para o meu pai: ‘Pai, um dia você vai ver um filme meu na televisão!’”, relembra.
Em entrevista para a EXAME POP, Kaique Alves comenta que existiu um trabalho de capacitação, tanto dos atores como de profissionais das favelas. A KondZilla apoiou os atores do filme por meio de um treinamento com vídeos curtos e esquetes. “[Os atores] não estavam acostumados com o cinema e fizemos esquetes curtas de humor, durante algum tempo, para capacitá-los para um filme como esse”.
Alves conta que é muito grato à própria KondZilla, pois foi fruto de uma capacitação como essa. “A KondZIlla me capacitou, me colocou na faculdade e me deu todo o suporte até eu chegar neste momento para poder dirigir um longa-metragem. E tentamos fazer as mesmas coisas com alguns dos atores do filme. Eu espero que possamos ter o apoio das grandes plataformas para nos ajudar também a capacitar esses meninos e meninas de periferia que tem muito talento. E muitos são talentos escondidos”, afirma.
Uma das forças do filme é justamente se propor a trazer à tona experiências e histórias pouco exploradas até então. Quando a EXAME POP perguntou sobre como foi atuar em uma experiência tão plural quanto este filme, Bea Oliveira, que viveu Rayane, comentou: “Para mim foi muito importante e gratificante, porque Escola de Quebrada fala de pessoas plurais que existem nesses espaços o tempo todo e a gente não vê. Durante muito tempo eu não via essas pessoas na televisão, mesmo se fossem comerciais ou em novelas e filmes. Durante muito tempo eu não me vi também nestes espaços”.
Para o filme se concretizar, existe um longo processo de preparação. Foram 22 diárias de gravações, segundo Kaique, mas o período total, que conta com desenvolvimento de pré-produção e roteiro, levou cerca de 2 anos. Além de gravar em escolas reais durante o período letivo, a preparação para o trio de atores, vindos do teatro, foi intensa. Com muita pesquisa e levantamento de referências, além da troca entre o elenco.
O ator Mauricio Sasi comenta: “O Luan, que é um menino real com medo e essa grande quantidade de emoções, acaba virando quase uma alegoria”, comenta. “Colocar isso para fora de forma natural, humana, carinhosa e amorosa do jeito que o personagem é, talvez tenha sido a parte mais difícil”.
Sasi conta que foi muito divertido gravar o filme. “Rimos horrores. Em uma das cenas, paramos o set por meia hora porque a gente não conseguia parar de rir de uma piada que tínhamos feito ali entre nós três”, comenta. O ator conta que a caracterização para que seu cabelo ficasse azul acontecia todos os dias no set. E que a cena em que Luan fica todo pintado de prateado foi uma das cenas engraçadas das gravações.
Righi comenta que estava muito frio na época das gravações e que seu personagem, David, tinha cabelo raspado nas laterais – detalhe com que demorou para se acostumar. Enquanto Oliveira diz não ter tantas lembranças porque costumava tirar alguns cochilos no set, mas uma história que lembra é que Sasi adorava dar idades aleatórias à colega de elenco, falando “Sabia que a Bea tem 45 anos?”, relembra.
“Espero que todos gostem muito do filme. É um filme divertido, é um filme teen em que tivemos uma preocupação muito grande em mostrar nos mínimos detalhes e com propriedade: o que essa galera jovem usa, o que gosta e como fala, o estilo do boné, o jeito da marca da camisa, da blusa, o cinto", comenta Alves. "Quero que Escola de Quebrada seja um filme atemporal e que se transforme em outras coisas. Talvez numa série com vários episódios, esse conteúdo pode ser desdobrado de várias formas”, conclui.
A EXAME POP recomenda Escola de Quebrada, principalmente por trazer uma visão diferenciada sobre o cotidiano da vida nas favelas.
O filme está disponível no streaming Paramount+, que tem assinaturas por R$ 19,90 e conta com títulos famosos como The Handmaid's Tale, Bob Esponja e Ru Paul’s Drag Race.
Não, o longa conta com algumas cenas de bastidores e erros de gravação ao decorrer dos créditos de filmagem.