Vivian Aguiar-Buff: Diretora Musical da DreamWorks concorre Children’s & Family Emmy Awards (Divulgação)
Repórter
Publicado em 14 de março de 2025 às 16h21.
Última atualização em 14 de março de 2025 às 19h46.
No começo de março, o Brasil foi tomado pela euforia com a vitória de "Ainda Estou Aqui" no Oscar, e o reconhecimento da Academia abriu olhos dos estrangeiros para as produções brasileiras. Já com a estatueta em casa, chegou a hora de conquistar outros prêmios na indústria — e a cineasta e musicista Vivian Aguiar-Buff é a candidata ideal.
A paulistana, de 43 anos, concorre ao Children’s & Family Emmy Awards por seu trabalho na supervisão musical de "Orion e o Escuro", nomeado na categoria de Melhor Direção Musical e Composição para Animação. A cerimônia será realizada neste sábado, 15.
Com direção de Sean Charmatz e Charlie Kaufman, o filme é baseado no livro infantil de Emma Yarlett e fala sobre os medos na infância. Está disponível na Netflix.
Além do cargo como cineasta, com a carreira consolidada nos Estados Unidos, onde vive há mais de 14 anos, Vivian atua como Diretora Musical na DreamWorks. A companhia de mídia é responsável por clássicos da animação como "Shrek", "Madagascar" e "A Fugas das Galinhas".
Para a executiva, o reconhecimento reflete o novo fôlego da indústria cinematográfica norte-americana, com a maior inclusão de profissionais de outras nacionalidades.
“Ter sido indicada ao Emmy num momento tão turbulento da nossa indústria tem ainda mais significado. É um sinal para continuar seguindo em frente e abrindo caminho em Hollywood para as novas gerações de artistas da América Latina e do mundo", destaca ela em entrevista exclusiva à EXAME.
A trajetória dela no mercado cinematográfico inclui passagens por grandes produtoras, como O2 Filmes, Marv Productions & Remote Control Productions. Além do trabalho no cinema, Vivian também é professora na Berklee College of Music, onde leciona disciplinas como Supervisão Musical e Carreira Empresarial para Compositores de Mídia. Por lá, orienta teses de mestrado na área de trilha sonora.
Essa é a segunda indicação de Vivian ao prêmio norte-americano dedicado à televisão infantil. Em 2023, venceu na mesma categoria por seu trabalho na série "Kung Fu Panda: O Cavaleiro Dragão". Desde então, tornou-se referência em supervisão musical e composição, uma das profissionais mais influentes do setor.
"Eu comecei a tocar piano muito nova, com 5 anos, e sempre tive um amor muito grande pela música. Foi uma parte importante da minha vida. Minha mãe é cinéfila, então foi ela a motivadora desse apego pelo cinema", recorda.
Formada em Cinema pela FAAP em 2005, ela começou a trajetória profissional no setor publicitário enquanto atuava como DJ e produtora musical. "Desde jovem eu sabia que queria trabalhar com cinema, e a música continuava sendo importante para mim".
A junção das duas coisas se deu na indústria cinematográfica, na composição de trilhas sonoras. "Comecei a compor e produzir as minhas próprias obras. Mas, foi na minha carreira como DJ que descobri que poderia unir o cinema e a música, por meio das trilhas sonoras. Foi quando decidi fazer uma segunda graduação e estudar na Berklee College of Music, em Boston".
Em 2015, ao lado do advogado e produtor musical Luiz Augusto Buff, seu marido, fundou a 1M1 Arte, empresa especializada em trilhas sonoras.
Vivian Aguiar-Buff: musicista concorre ao Children’s & Family Emmy Awards - Imagem: Divulgação (Divulgação)
Os amantes do cinema sonham com Los Angeles, em conhecer os cenários de filmes marcantes na cidade dos anjos. Um desejo compartilhado por Vivian, que afirma que a sétima arte transformou a cidade em um ecossistema cativante para quem trabalha na indústria.
"Aqui, você respira cinema onde quer que esteja e a maioria dos moradores trabalha com isso. É realmente viciante". Mas a 'magia' das telas também é distante da realidade. "Pode ser uma cidade muito difícil e complexa. Tudo aqui é caro e exige muito planejamento para se estabelecer profissionalmente. Mesmo assim, é um local em que existe glamour e reconhecimento para quem alcança o sucesso".
O caminho foi longo, mas mas o destino compensou: a cineasta foi contratada pela DreamWorks em 2020, com a ajuda de um colega de longa data, Frank Garcia.
"Trabalhamos juntos na Remote Control, estúdio do compositor Hans Zimmer, durante alguns anos. Logo após ser contratado pelo estúdio de animação, ele sabia que eu desejava mudar de ares e me convidou para conhecer a Alexandra Nickson, Head of Music de lá. Nós duas nos demos bem logo de cara", detalha. "Como eu tinha muita experiência com composição, produção e também com negócios, por ter a minha própria empresa, ela achou que eu seria perfeita para a posição de supervisora musical, que engloba tanto a área criativa quanto a executiva. Já faz 5 anos que estou na empresa. É o melhor lugar no qual já trabalhei até hoje".
O currículo da brasileira carrega ainda prêmios e reconhecimentos, incluindo o primeiro Emmy. Em 2017, ela venceu o Prêmio Cinemúsica de Melhor Trilha Sonora Original pelo filme "Amor.com". No ano seguinte, foi premiada na mesma categoria no Los Angeles Brazilian Film Festival Awards por seu trabalho em "Não Se Aceitam Devoluções".
No momento, ela lidera a produção de alguns filmes e séries que devem ser lançados em 2025, como a comédia "Gabby’s Dollhouse: The Movie", para a Netflix. "Be@rbrick", série da Apple TV+, que conta com o rapper Timbaland como o produtor executivo musical, é outro trabalho com a assinatura dela.
Após conhecer de perto a indústria do Brasil e dos EUA, Vivian ressalta que as maiores diferenças entre os dois países são a quantidade de profissionais no mercado e o cenário para o crescimento. Enquanto o cinema brasileiro está ancorado em incentivos governamentais, Hollywood se mantém da iniciativa privada, o que garante uma certa segurança às empresas.
"O profissional do entretenimento aqui tem um caminho mais sólido para se desenvolver, por ser uma indústria com uma história mais longa e mais estruturada. Aqui também temos muitos sindicatos que ajudam a regulamentar a indústria e dão suporte aos profissionais liberais, o que também traz estabilidade".
A executiva reforça que o sucesso do filme "Ainda Estou Aqui" é mais um exemplo da potência do cinema brasileiro e da valorização que as obras nacionais estão alcançando. No longo prazo, ela acredita que esse movimento tende a se intensificar com as plataformas de streaming. "Empresas como a Netflix estão fomentando muito a indústria internacional, investindo na produção de conteúdos locais. Então isso está dissipando o monopólio do cinema aqui. Isso é muito positivo, porque agora temos histórias de culturas diversas com uma narrativa mais autêntica, mas está sendo desafiador para Hollywood, pois está acontecendo um êxodo das produções locais".
Porém, Vivian considera que outro problema da indústria do cinema — e dos grandes — é a desigualdade de gênero entre os profissionais. A brasileira se destacou em um ambiente predominantemente masculino e acompanhou as transformações do cinema após o movimento Me Too, que, desde 2017, expõe casos de assédio e abuso de poder no setor. O mais emblemático foi o escândalo envolvendo o executivo Harvey Weinstein, co-fundador da The Weinstein Company.
"Há 25 anos, era uma realidade completamente diferente. Após o MeToo, vejo mais mulheres produzindo hoje em dia, mas ainda poucas em posições de controle, como C-level. Os salários ainda são distintos, mas as discrepâncias são menos gritantes. O assunto tende a se fortalecer, escancarando desafios da mulher até conseguirmos a real igualdade".