David Lynch: diretor morre aos 78 anos após de enfisema pulmonar (Luca Carlino/NurPhoto/Getty Images)
Repórter de POP
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 15h29.
Última atualização em 16 de janeiro de 2025 às 17h23.
O diretor e roteirista David Lynch, reconhecido pelos trabalhos sombrios e surrealistas no cinema, morreu nesta quinta-feira, 16, aos 78 anos. No ano passado, ele revelou que havia sido diagnosticado com enfisema pulmonar após uma vida de tabagismo.
Reconhecido até hoje como um dos maiores nomes do cinema surrealista, pelo jeito único de misturar horror, film noir, mistérios whodunit e surrealismo europeu clássico,Lynch é o nome por trás de grandes produções da TV, como "Twin Peaks" (1990-1991) — vencedora do Globo de Ouro de Melhor Série Dramática — e "Hotel Room" (1993). No cinema, marcou a indústria com "The Elephant Man" (1980), "Blue Velvet" (1986) e "Mulholland Drive" (2001), os dois últimos pelos quais recebeu a indicação ao Oscar de Melhor Direção.
A família anunciou a morte do cineasta em uma publicação no Facebook nesta quinta-feira, 16: “Há um grande vazio no mundo agora que ele não está mais entre nós. Mas, como ele dizia: ‘Foque no donut, não no buraco.’”
David Lynch foi casado quatro vezes, com Peggy Lentz, Mary Fisk, Mary Sweeney e Emily Stofle. Ele deixa três filhos, Jennifer Lynch, também diretora, e dois meninos, Austin Jack e Riley Lynch.
Ainda que nunca tenha recebido um Oscar por um roteiro ou direção específicos, mesmo tendo sido indicado quatro vezes desde 1981 — nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado (1) e Melhor Direção (3) —, o cineasta é um dos maiores nomes da indústria cinematográfica em todo o mundo.
Lynch Recebeu mais indicações do que prêmios do setor. Foram quatro nomeações ao Oscar, nove ao Emmy Awards, cinco ao Globo de Ouro — com uma vitória —, duas ao BAFTA e cinco no Festival Internacional de Cinema de Cannes, único a conceder a ele a Palma de Ouro para "Wild at Heart" e Melhor Direção para "Mulholland Drive".
O reconhecimento genuíno do trabalho do cineasta veio tarde. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas só entregou a ele o primeiro Oscar, Honorário pelo Conjunto da Obra, em 2020. O último trabalho de Lynch no cinema foi "Lucky" (2017). Na TV, trouxe de volta os personagens Dale Cooper (Kyle MacLachlan) para "Twin Pix: O Retorno" (2017).
Suas obras, grande parte composta por roteiros considerados "malucos", "perturbadores" e "incompreensíveis", estão entre as mais conceituadas da sétima arte. Até hoje, os finais de seus filmes intrigam críticos e especialistas de cinema e são temas constantes de discussão no setor, mesmo tendo Lynch uma carreira marcada por fracassos de bilheteria.
Nascido em Missoula, no estado de Montana (EUA), Lynch veio de família finlandesa e foi criado sob os preceitos da religião presbiteriana. Tinha o sonho de ser pintor e chegou até a se especializar em uma academia de arte no estado de nascença, mas largou o curso. Mais velho, após retornar de uma viagem longa à Europa, ingressou na Academia de Belas Artes da Pensilvânia e passou a se interessar pela produção de curtas-metragem.
Ele começou a carreira no cinema como criador de curtas-metragens. A primeira estreia no cinema, com um longa, veio só em 1977, com “Eraserhead”, filme de humor ácido e perturbador que mistura o surrealismo com arte em stop-motion. Pouco depois da estreia, tornou-se um clássico cult. O título levou cinco anos para ser concluído e culminou no fim do primeiro casamento do cineasta, com Peggy Lentz.
O sucesso de “Eraserhead” fez com que Mel Brooks o contratasse para dirigir “O Homem Elefante” (1980), que recebeu oito indicações ao Oscar — incluindo a de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção. Lynch e o elenco saíram da premiação sem estatuetas em 1981.
Três anos depois, lançou "Duna" (1984), a primeira adaptação cinematográfica do livro de Frank Herbert, mergulhando de cabeça no surrealismo da produção. O filme foi um de seus maiores fracassos na indústria, duramente reprovado pelos fãs da obra original e alvo de inúmeras resenhas negativas da crítica especializada.
Só em 1986, com "Blue Velvet" que o cineasta retomou a atenção da indústria. Para além da assinatura surrealista de Lycnh, o longa misturou o gênero de thriller com fantasia, e recebeu mais uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Direção. Mais uma vez, saiu da premiação de mãos vazias. O primeiro prêmio veio só em 1990, com "Wild at Heart", que recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes.
Naquele mesmo ano, depois do reconhecimento em Cannes, Lynch teve a tão merecida "virada de chave" na carreira. Longe das telonas do cinema, dirigiu e roteirizou "Twin Peaks", considerada até hoje como uma das melhores séries surrealistas da história. Estrelada por Kyle MacLachklan, escolha do cineasta de longa data para suas produções, o mistério da morte de Laura Palmer marcou a década.
Lynch dirigiu o piloto e outros cinco dos 29 episódios da produção, mas foi parte ativa dos roteiros do início ao fim. "Twin Peaks" recebeu 14 indicações ao Emmy Awards, mas não levou nenhuma estatueta para casa. Em 1992, o sucesso da série foi tamanho que o cineasta resolveu apostar mais uma vez no cinema, mas o fracasso foi avassalador: o título teve arrecadação de somente US$ 4 milhões.
Dez anos afastado das telonas, mas sem desistir da carreira, em 2001 Lynch lançou o que seria considerado pela crítica especializada como sua melhor produção no cinema: "Mulholland Drive", filme protagonizado por Naomi Watts e Laura Harring.
Originalmente pensado como uma produção para a TV, o filme não deu prejuízo de bilheteria, mas não pode ser considerado um sucesso de arrecadação: teve orçamento de US$ 15 milhões e receita de US$ 20,1 milhões. Rendeu a ele, no entanto, a terceira indicação ao Oscar de Melhor Direção e a segunda ao Festival de Cannes, na mesma categoria, além de uma nomeação ao BAFTA de Melhor Montagem.
Lynch saiu da França com a estatueta de Cannes em mãos e também garantiu a vitória no 'Oscar britânico'.