ISS: quando os astronautas voltam para casa? (NASA/AFP/Arquivos/Reprodução)
Repórter de POP
Publicado em 21 de agosto de 2024 às 21h00.
Ser astronauta é uma profissão arriscada. São poucas as pessoas que sonham em sair da Terra e, de fato, conseguem chegar até lá. É o caso de Butch Wilmore e Suni Williams, profissionais da Nasa que embarcaram na primeira missão tripulada da Starliner para a Estação Espacial Internacional (ISS) em junho desse ano. Dois meses depois, no entanto, eles se encontram naquela que é a situação mais angustiante: estão "presos" no espaço.
Parece roteiro de filme de ficção científica, mas é verdade. Wilmore e Williams deveriam ter ficado somente oito dias na ISS, mas estão confinados até fevereiro, pelo menos, porque a nave espacial Boeing Starliner que os traria de volta à Terra apresentou um vazamento de hélio. No momento, eles flutuam a mais ou menos 320km acima da Terra e têm racionado os recursos para sobreviverem. E uma das estratégias é a reciclagem da urina.
Em entrevista ao The Mirror, a astronauta britânica Meganne Christians comentou que a situação de Wilmore e Williams é delicada, mas que eles estão prontos para situações adversas. "Eles estavam preparados para uma missão de longa duração, caso isso acontecesse. O espaço é difícil, essa é a linha que sempre seguimos", explicou ela. "Mas pode ser uma experiência sombria, será necessário reciclar a urina. Isso parece nojento, mas quando chega até você, é só água pura de novo", conta ela ao portal. "Não há chuveiros, mas há maneiras de se lavar. Você basicamente usa uma espécie de toalha molhada com um pouco de sabão."
Christians é integrante da equipe de reserva de astronautas da Agência Espacial Europeia e já passou um período na estação de pesquisa White Mars, da Antártida, entre 2018 a 2019. "Você só pode levar uma certa quantidade de roupa com você, então, na verdade, os astronautas só trocam de roupa uma vez por semana", completa ela.
Para Christians, o maior inimigo dos dois astronautas no momento é a falta de gravidade e a radiação. Mesmo com os escudos da ISS, Williams e Wilmore terão um certo grau de exposição aos raios solares, o que acelera bastante os riscos de várias doenças — o câncer entre elas. O sedentarismo é outro ponto preocupante.
"Quanto mais tempo você fica lá no espaço, mais danos isso causa ao seu corpo. É realmente um envelhecimento acelerado, de certa forma. O fato de você não estar trabalhando contra a gravidade significa que seus músculos não estão trabalhando tão duro quanto normalmente fariam, e, claro, seu coração também é um músculo", contou ela ao The Mirror.
A ISS no entanto é grande o suficiente para que os dois astronautas se exercitem. Há uma academia por lá e a recomendação, diz Christian, é que haja sempre a prática de 90 minutos ao dia de exercício físico. "Você perde densidade óssea durante esse tempo, tem um risco maior de pedras nos rins, diabetes e também tende a ter problemas com os olhos."
Ainda não há uma previsão concreta de quando Williams e Wilmore devem retornar à Terra, mas a Nasa já deu estimativas que a volta pode ser em fevereiro. É necessária ainda uma série testes e na nave para reparo dos problemas nos propulsores e também no vazamento de hélio.
Até lá, Williams e Wilmore devem passar dias tensos dentro da ISS. Ainda que não estejam totalmente desamparados e tampouco "perdidos no espaço", eles terão que minguar recursos para sobreviver. Isso inclui lidar com a espera de algo que ainda não é certo, com o tédio e com outros problemas de saúde mental.