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Após ataques, deputados bolsonaristas reconhecem revés político para anistia em grupo de WhatsApp

'Agora vão enterrar', escreve Gustavo Gayer (PL-GO) em conversa com aliados

O deputado federal Gustavo Gayer discursa no plenário da Câmara (Mário Agra/Agência Câmara)

O deputado federal Gustavo Gayer discursa no plenário da Câmara (Mário Agra/Agência Câmara)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 15 de novembro de 2024 às 09h42.

Deputados bolsonaristas reconheceram, ainda na noite de quarta-feira, que a anistia aos envolvidos do 8 janeiro deve ser enterrada após os ataques nas proximidades da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Em grupo de WhatsApp, parlamentares lamentaram as consequências políticas das detonações promovidas por Francisco Wanderley Luiz, morto em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O ato, considerado terrorista por ministros da Corte, fez com que os magistrados criticassem a possibilidade de o Congresso Nacional conceder o perdão aos golpistas que atacaram as sedes de Legislativo, Executivo e Judiciário. Francisco era ligado a grupos de extrema direita e participou de manifestações golpistas, segundo investigadores.

Logo após as explosões de artefatos, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) compartilhou uma foto de Francisco com os dizeres: "Parece que foi esse cara mesmo. Agora vão enterrar a Anistia". A fala dele foi endossada por outros bolsonaristas que participavam do grupo "Oposição raiz - Câmara", como a deputada Carla Zambelli (PL-SP). Depois do vazamento dos prints, Gayer deixou o grupo.

Publicamente, bolsonaristas da cúpula do partido adotaram o discurso de que esperam ver a instalação de uma comissão especial que vai se debruçar sobre o PL da Anistia.

Lideranças do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, passaram a associar a ação de Francisco a Adélio Bispo, que cometeu um atentado a faca contra o então candidato à presidência Jair Bolsonaro, durante a campanha eleitoral de 2018.

De acordo com investigação da Polícia Federal, a ação foi realizada apenas por Adélio, o que faria dele um "lobo solitário". Depois de manifestações que associaram o atentado a bombas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e colocaram em xeque o Projeto de Lei que tenta anistiar os condenados por invadir as sedes dos três Poderes, integrantes do PL reforçam os indícios de que Francisco, que foi filiado ao PL, agiu sozinho.

Nesta quinta-feira, a Polícia Federal encontrou um boné com os dizeres "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", no trailer que foi alugado pelo homem-bomba. O slogan foi amplamente usado por Bolsonaro durante as eleições de 2018. Agentes que participaram da perícia levaram outros objetos pessoais.

O senador Rogério Marinho (RN), que é secretário-geral do PL, diz acreditar que a instalação da comissão especial que debaterá o PL da Anistia não será impactada pelo episódio. Ele cita Adélio para rebater falas que associam o atentado de 8 de janeiro.

— Espero que deem a presunção de que o atentado a bombas foi um caso solitário, como o atentado do Adélio contra o Bolsonaro. Já saem, de antemão, dizendo que está relacionado com o 8 de janeiro, que isto impediria o PL da Anistia? Impediria por qual motivo? Este sujeito foi filiado ao PL antes de o Bolsonaro chegar ao partido e, claramente, tinha transtornos. Acredito que o PL da Anistia não será abalado, é mera retórica da esquerda para impedir a Anistia — afirma.

Líder do PL na Câmara, o deputado Altineu Côrtes (RJ) diz confiar na palavra do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que o colegiado será instalado. Ele afirma não ter conversado com o presidente da Câmara sobre o tema.

A criação da comissão sobre o PL da Anistia é tida como fundamental para que a bancada do PL, a maior da Câmara, com 93 parlamentares, apoie Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sucessão de Lira.

— Confio na palavra do Arthur (Lira). Esse episódio das bombas não tem nada a ver com o dia 8 de janeiro. O que a mulher, mãe de dois filhos menores de idade, que foi presa pelo 8 de janeiro e está condenada a oito anos de prisão, tem a ver com uma pessoa que resolve pôr fim à vida na Praça dos Três Poderes? Qualquer narrativa que conecta uma coisa à outra é manobra para postergar o PL da Anistia, que não tem nada a ver com esta pessoa. Que seja tratado como o caso Adélio. Eu sigo acreditando na palavra do Arthur Lira, que garantiu que a comissão será implantada este ano — afirma Altineu.

Filho 03 do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) rejeita vínculo do homem-bomba com o bolsonarismo e diz que seguirá articulando junto aos outros deputados pelo PL da Anistia.

— Esta pessoa foi do PL antes de o Bolsonaro ser do partido. Estamos falando de alguém louco. Não acreditamos em violência como meio de ação política e refutamos qualquer conexão com o criminoso. Eu seguirei lutando pela anistia daquelas pessoas que estão presas.

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