Centro de inspeção da Volanty (Volanty/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 6 de abril de 2019 às 06h00.
Última atualização em 9 de agosto de 2019 às 10h05.
Vender um carro usado ou seminovo não é uma tarefa simples, do tempo gasto à desvalorização no preço do veículo – e foi com base nessa premissa que a Volanty, criada pelos empreendedores Antonio Avellar e Maurício Feldman, cresceu. O marketplace carioca de compra e venda de carros usados entre pessoas físicas, lançado em 2017, começou neste ano sua expansão para o estado de São Paulo.
Três meses depois, a região já representa o maior mercado para a startup. Após mediar a venda de mais de 500 carros em 2018, a Volanty projeta aumentar o volume em dez vezes para 2019. Como forma de combater a concorrência das concessionárias e de outros marketplaces, prioriza preço sobre a velocidade de venda.
Quem quer vender seu automóvel usado deve entrar no site, cadastrar-se e agendar uma visita em um dos centros de inspeção da Volanty. No horário marcado, a startup checa 150 pontos do automóvel em até 25 minutos, definindo o estado em que este se encontra. Se aprovado, o carro passa para um estúdio e são feitas cerca de 20 fotos – que mostram, inclusive, possíveis defeitos.
Só entram na plataforma automóveis com lançamento a partir de 2011 e com estado razoável de conservação, com menos de 100 mil quilômetros rodados. De 30 a 35% dos carros que se candidatam são negados após a avaliação, seja por estética, por problemas mecânicos ou por procedência duvidosa.
Realizada a inspeção, a Volanty faz uso de algoritmos para analisar seu banco de dados e sugerir um preço de acordo com o mercado. Definido o valor cobrado, o dono do veículo assina contratos de propriedade, volta para casa e aguarda as propostas intermediadas pela startup.
A Volanty é responsável por cadastrar o veículo em sete sites de venda (como MercadoLivre e OLX), por tirar dúvidas e selecionar quem realmente possui intenção de compra no valor definido pelo usuário.
Só após tal filtro o automóvel pode ser vendido pela internet ou chamado novamente para uma apresentação física no centro de inspeção. Toda a troca de dinheiro e de documentos é feita pela plataforma, evitando possíveis golpes. Há garantia de motor e câmbio por um ano para o comprador.
A comissão cobrada pela Volanty é de 7% sobre o valor total da venda do carro usado. Por isso, a startup defende que não sugere um preço abaixo do mercado, como fazem as concessionárias – que querem pagar menos pelo veículo para aumentar suas margens de lucro na revenda.
Em troca, o cliente deverá esperar de uma semana a meses para ter o dinheiro na carteira, diferente de uma venda imediata na loja de automóveis usados. Assim, o valor pago pode ser de 20 a 25% maior do que a média oferecida por lojas de usados e seminovos.
“Esse dinheiro antes ia para ineficiências do mercado, como concessionárias que precisam de um ponto bonito e bem localizado e, para isso, pagam menos nos veículos. Temos um aluguel menor, com centros de inspeções em regiões menos centrais ou dividindo espaço com estacionamentos”, afirma Feldman. A Volanty possui cerca de 300 automóveis à venda no momento, de 15 mil a 470 mil reais. O valor médio de venda é de 40 mil reais. Nos últimos 12 meses, o campeão de compras foi o Renault Sandero.
A InstaCarro, por exemplo, também capta interessados em venderem seus seminovos -- mas os conecta com concessionárias, e não com outras pessoas físicas. Com isso, promete a venda em até uma hora.
Feldman e Avellar são amigos de infância e fizeram graduação e MBA na mesma época. Feldman fez um MBA na Universidade de Stanford e foi trabalhar na área de tecnologia, sendo diretor regional de um marketplace de ingressos chamado Viagogo. Enquanto isso, Avellar fez um MBA da Universidade de Nova York e foi trabalhar na área de projetos e operações da consultoria McKinsey.
Feldman queria abrir sua própria empresa e convidou o amigo para montar um negócio próprio. Os empreendedores se lembraram de um problema antigo: a dificuldade de venderem seus automóveis, logo antes de viajarem aos Estados Unidos e cursarem seus respectivos MBAs. No ano passado foram comercializados cerca de 12 milhões de carros usados e seminovos no país.
Os empreendedores passaram o ano de 2016 desenvolvendo o novo negócio e montando uma apresentação de PowerPoint. No início de 2017, um investimento semente (seed) transformou a ideia em empresa formalizada. O fundo de investimento Canary, capitaneado por empreendedores de empresas como Peixe Urbano e Printi, aportou 2,5 milhões de reais.
O empreendimento, que recebeu o nome Volanty, investiu em desenvolvimento tecnológico, time e infraestrutura e começou a funcionar em maio de 2017. Em junho do ano passado, a startup recebeu um aporte de 19 milhões de reais do Monashees, que investiu em negócios como Conta Azul, Getninjas, Grin, DogHero, Enjoei, Loggi, Neoway, Rappi e VivaReal. O aporte está sendo usado para a expansão de pontos de inspeção, de tecnologias para a plataforma e de parceiros para financiamento, como Bradesco, Itaú, Santander e Votorantim.
Hoje, a Volanty possui três centros de inspeção no Rio de Janeiro e seis em São Paulo. “Começamos neste ano, mas São Paulo já representa nosso maior mercado”, afirma Feldman. A projeção é inaugurar dois centros por mês e chegar ao final do primeiro semestre com 12 locais de inspeção.
Cada centro de inspeção gera a venda de 30 carros por mês, após três meses de amadurecimento do negócio. Em 2018, a Volanty mediou a venda de mais de 500 carros.
Em 2019, a startup quer aumentar seu tamanho em dez vezes. Além dos novos centros, a Volanty está testando funcionalidades que permitam visualizar melhor os veículos pela internet, como test drives virtuais e tours 3D. As tecnologias devem ser lançadas neste semestre. A disputa por quem irá vender carros usados está cada vez mais aquecida -- uma boa notícia para quem tem um veículo parado na garagem.