Polícia investiga tiroteio em torneio de Madden 19 em Jacksonville, Flórida: nove pessoas foram feridas e outras três foram mortas - incluindo o atirador (Joey Roulette/Reuters)
Mariana Fonseca
Publicado em 27 de agosto de 2018 às 14h00.
Última atualização em 27 de agosto de 2018 às 20h18.
São Paulo - No último domingo, os campeonatos de jogos online se tornaram um novo alvo de tiroteios em massa. Durante um torneio do jogo de basquete Madden 19 em Jacksonville (Flórida, Estados Unidos), nove pessoas foram feridas e outras três foram mortas - incluindo o atirador, David Katz.
Com 24 anos de idade, Katz havia se inscrito como competidor no torneio e representou o time Buffalo Bills para o jogo Madden 17, reporta o Polygon. Ele teria perdido uma partida e se suicidado após o ataque.
Os mortos foram os jogadores TrueBoy (Elijah Clayton, 22) e Spotme (Taylor Robertson, 27). Entre os feridos pelo tiroteio em massa está o jogador Drini Gjoka, do time CompLexity Gaming. Ele foi atingido no dedo por uma bala e fugiu para uma academia próxima ao local do torneio, confirmou a CompLexity. "Foi o pior dia da minha vida", escreveu Gjoka no Twitter. "Eu nunca mais vou tomar nada por garantido. A vida pode terminar em um segundo". Jogadores de outras equipes também teriam sido feridos, como oLarry2K e Chris “Dubby” McFarland. Também no Twitter, Dubby escreveu que se sentia "traumatizado e devastado" após uma bala passar de raspão por sua cabeça.
A Electronic Arts (EA), empresa por trás do jogo Madden 19 e que aprovou a realização do torneio, postou um comunicado dizendo que o tiroteio em massa foi "um ato de violência sem sentido que condenamos fortemente". O foco agora estaria em apoiar os afetados e em cooperar com a lei na investigação do crime. A polícia ainda investiga as motivações de Katz e se ele conhecia os jogadores mortos.
O torneio de domingo era a primeira de quatro seletivas regionais da temporada competitiva do Madden 19, com final marcada em Las Vegas. Tiroteios em massa costumam ocorrer em espaços de entretenimento, como o massacre em uma sala de cinema no Colorado (2012), o tiroteio em massa em uma discoteca em Orlando (2016) e o ataque durante um show da cantora Ariana Grande em Las Vegas (2017). Mas essa é a primeira vez que o alvo se tornou um evento de esporte eletrônico, povoado tanto por jogadores profissionais quanto por aspirantes e fãs das equipes.
O mercado de eSports valia 655 milhões de dólares em 2017 e as projeções de crescimento são impactantes. O setor deve saltar para 906 milhões de dólares neste ano e, em 2021, chegar a 1,65 bilhão de dólares. Os 335 milhões de espectadores de 2017 devem saltar para 380 milhões em 2018 e para 557 milhões em 2021.
Os torneios de jogos online de basquete ou futebol são considerados mais modestos no cenário de eSports do que os de outros games de peso, como Dota 2, League of Legends e Overwatch. Um campeonato do jogo League of Legends realizado no mesmo domingo do tiroteio em massa cedeu seu tempo para um comunicado ao vivo, expressando condolências às vítimas. A liga profissional do jogo Overwatch também declarou suas condolências pelo Twitter.
O ataque em uma fatia humilde desse mercado assusta os grandes players, com eventos de maior público nas arenas e na internet. No último sábado ocorreu a final do maior campeonato de Dota 2, o The International 2018, com prêmio de 25 milhões de dólares e quase 500 mil visualizações apenas pelo canal oficial na plataforma Twitch. Enquanto a segurança costuma ser rigorosa em eventos grandes como esse, não foi o caso do torneio de Madden 19 em Jacksonville, realizado em um bar.
"É de quebrar o coração ver alguém ir a um evento como esse, que é sobre espírito esportivo, trabalho em equipe e vibrações positivas, e fazer algo assim", afirmou à CNN Jason Lake, fundador do CompLexity Gaming, time do jogador ferido Drini Gjoka. "Eu acho que a indústria dos eSports como um todo terá de dar um passo para trás e olhar mais profundamente para fortalecer a segurança."
O jornalista de eSports Rod "Slasher" Breslau concorda com a análise. Ele contou ao Business Insider que, em alguns torneios de eSports, fãs já conseguiram se colocar na frente das câmeras para efeitos humorísticos - mas que esse mesmo recurso poderia ser usado para ataques terroristas. "Eu sei que a comunidade gamer sairá mais forte disso, tornando-se uma força positiva diante de tudo que aconteceu durante o último final de semana."
Os grandes saltos dos jogos eletrônicos sofreram a rasteira de uma violência cada vez mais noticiada - e isso pode afetar não só como os torneios serão daqui em diante, mas a alegria de um público crescente de jogadores profissionais, aspirantes e seus fãs.