Plantação de mogno africano da Radix, em Minas Gerais (Diego Schueng/Radix/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 1 de março de 2018 às 06h00.
Última atualização em 1 de março de 2018 às 06h00.
São Paulo – E se em vez de colocar o seu dinheiro na poupança ou num investimento comum você apostasse em florestas, com expectativa de ótimos resultados no futuro?
Essa é a proposta da Radix, uma startup que está investindo no plantio de madeira nobre na Amazônia e conta com o apoio de pequenos investidores via equity crowdfunding.
Funciona assim: a empresa capta investimento através de uma plataforma de equity crowdfunding (modelo voltado para captação de pequenas empresas). Com o dinheiro ela planta mogno africano em fazendas de Roraima e Minas Gerais.
A árvore, uma madeira nobre, leva em média 18 anos para amadurecer. E é esse o prazo para o investidor receber o retorno do investimento, com rendimento esperado de 12% ao ano. O investimento mínimo é de 400 reais.
“Nossa proposta é democratizar os investimentos florestais, ofertar ao pequeno investidor algo que antes era restrito”, afirma Thiago Campos, um dos sócios do negócio.
Essa modalidade de investimento é relativamente nova no mundo, e está chegando ao Brasil agora. Nela, o ganho vem do crescimento das árvores, o que torna o investimento menos volátil do que outras modalidades de investimento conhecidas, afirma Campos.
Além da possibilidade de ganhos, o investidor tem o atrativo de colocar seu dinheiro em algo que ajuda o meio ambiente.
“Hoje os madeireiros tiram a madeira nobre das florestas nativas. Fornecer essa madeira é a melhor forma de evitar que esse tipo de degradação aconteça. Um relatório recente da WWF coloca os títulos florestais como o principal instrumento para a redução do desmatamento nas florestas nativas”, afirma Gilberto Derze, também fundador da Radix.
A Radix tem hoje duas fazendas para plantio: uma fica em Minas Gerais e é da família de um dos sócios; a outra foi adquirida pela empresa, fica em Roraima, e tem 200 hectares de terra, sendo 60 hectares disponíveis para o plantio do mogno africano.
“A fazenda tem 60 hectares que já estavam desmatados e é esse o espaço que vamos usar. Nossa ideia é não desmatar mais”, explica Campos.
Fundada em 2015, a empresa já fez duas rodadas de investimento via crowdfunding. A primeira foi em 2017 e levantou 260 mil reais, dinheiro usado para o plantio de 20 hectares de mogno africano. A segunda está aberta agora e pretende captar 240 mil reais, dinheiro que será usado para plantar mais 20 hectares.
No total, a Radix já tem 30 hectares de mogno africano plantados, o que corresponde a 20 mil árvores e toneladas de dióxido de carbono absorvidas da atmosfera.
A cada rodada de plantio, a Radix entra com 50% do investimento. Até agora, os sócios investiram 250 mil reais no negócio, fora a compra da fazenda em Roraima. Por enquanto não há faturamento, já que, assim como os investidores, a Radix só terá retorno quando as árvores crescerem, processo que leva de 15 a 20 anos.
É, portanto, um investimento de longo prazo. O investidor que por algum motivo quiser reaver seu dinheiro antes desse prazo pode vender seus títulos para alguém, mas esse processo não é intermediado pela Radix. A cada três meses a Radix emite um relatório para que os investidores acompanhem o andamento do plantio, o que facilita a avaliação de quem quiser vender seus títulos.
A CVM (Comissão da Valores Mobiliários) regulamentou no ano passado o equity crowdfunding, o que deu segurança jurídica aos investimentos em pequenas empresas. Mas ainda não há regulamentação para um mercado secundário desses títulos, como existe na Bolsa de Valores, por exemplo.
O mogno africano é uma madeira nobre usada em construções de navios, na engenharia e na produção de móveis, decoração e instrumentos musicais. A dupla de sócios garante que, diferente de árvores como o eucalipto, ele não degrada o solo. Outra vantagem é que depois de colhida, a madeira não causa prejuízo ambiental.
“O eucalipto, por exemplo, muitas vezes depois é usado para fazer carvão, o que gera um prejuízo ecológico. O mogno não, então aquele ganho que ele gerou no seu crescimento não se transforma em prejuízo depois”, explica Campos.
Além do retorno esperado quando a árvore estiver pronta para a colheita, os investidores que apostarem no negócio podem ganhar também com créditos de carbono e créditos de reposição florestal.
A ideia do negócio surgiu do interesse dos sócios em investir seu dinheiro em florestas. “A princípio criamos para investir nosso próprio dinheiro. Mas, quando comentamos com amigos, todos ficavam interessados. Então decidimos abrir para pequenos investidores também. Porque em geral o investimento florestal é restrito para quem pode colocar uma grande quantidade de dinheiro”, explica o empreendedor.
É importante lembrar que, como qualquer investimento, o negócio da Radix tem riscos. Há por exemplo o risco do preço da madeira desvalorizar nos próximos anos, o que reduziria o retorno sobre o investimento. Outros riscos são pragas que comprometam o plantio ou ainda incêndios.
Segundo os sócios, a empresa está preparada para essas possibilidades. “O risco de pragas ou incêndios é uma característica do investimento florestal. Nós escolhemos justamente o mogno africano por sua resistência, e temos funcionários treinados e caminhões-pipa na fazenda para o caso de necessidade. Em relação à valorização da madeira, bem, a primeira coisa que exportamos daqui foi o Pau Brasil”, afirma Campos.
Por fim, há a questão da segurança jurídica, que foi mitigada com a instrução 588 da CVM, de julho de 2017.
A expectativa da Radix é fazer uma rodada de captação e plantio a cada ano. “Alguns dos nossos investidores querem poder investir todo ano, para assim ter retiradas anuais lá na frente”, explica Campos.
A captação atual da Radix está na plataforma de equity crowdfunding Start Me Up, vai até 15 de abril, e por enquanto atingiu 23% da meta com 55 mil reais já investidos.