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Startup que acaba com contratações sem sentido levanta R$ 11 milhões

A Gupy, que usa inteligência artificial para selecionar os melhores candidatos, recebeu um aporte para expandir sua atuação

Guilherme Dias, Mariana Dias, Bruna Guimarães e Robson Ventura: eles criaram a Gupy em 2015 e atendem centenas de clientes (Gupy/Divulgação)

Guilherme Dias, Mariana Dias, Bruna Guimarães e Robson Ventura: eles criaram a Gupy em 2015 e atendem centenas de clientes (Gupy/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 24 de janeiro de 2019 às 12h08.

A depender das novas tecnologias, contratar um funcionário porque ele é extrovertido ou por causa de uma indicação o famoso “QI” está com os dias contados. O mercado de recursos humanos é valioso, de 500 bilhões de dólares globalmente e 10 bilhões de dólares apenas no Brasil. Mesmo assim, os empreendedores Bruna Guimarães, Guilherme Dias, Mariana Dias e Robson Ventura acham que ele poderia valer muito mais se os funcionários fossem escolhidos de forma imparcial.

O pensamento se transformou na Gupy, startup de inteligência artificial aplicada a recrutamento. Eles não são os únicos que acreditam no potencial dos robôs para escolherem os melhores profissionais. O negócio acabou de receber 11,5 milhões de reais para expandir sua atuação. O aporte foi feito pelos fundos Valor Capital, que já investiu nas brasileiras Pipefy e Olist e na argentina CargoX, e Maya Capital, liderado pelas investidores Lara Lemann e Monica Saggioro, ambas na lista de melhores investidores latinoamericanas em tecnologia.

A Gupy atende clientes como Ambev, Kraft Heinz e Somos Educação. O negócio quintuplicou seu volume de clientes e sua receita em 2018, mesmo em um cenário de grande desemprego. Agora, a proposta é aproveitar o bom momento econômico para manter a proporção de crescimento.

Oportunidade de mercado

A Gupy nasceu a partir da experiência de Mariana Dias como funcionária da gigante de bebidas Ambev. Ela entrou no ano de 2011, como trainee, e de visitar fábricas passou a trabalhar na área de recursos humanos. Embora houvesse um grande volume de candidatos para as vagas anunciadas, a saída de funcionários também era grande. Por isso, ela e seus colegas começaram a pensar que talvez não estivessem recrutando as pessoas certas.

Dias acabou tendo uma ideia de negócio: um algoritmo preditivo que indica qual candidato tem potencial de crescer dentro da empresa, com base nas características dos funcionários atuais com desempenho acima da média.

Com o robô, as candidaturas já seriam ranqueadas e o pessoal de recursos humanos poderia direcionar o tempo perdido no processo operacional e subjetivo de selecionar currículos para focar nas entrevistas. Segunda a empreendedora, a ineficiência na área de recursos humanos impacta em 60% dos custos operacionais do departamento. “Ter uma alta rotatividade, um funcionário que não se adequou à empresa e pediu demissão ou foi demitido, resulta em despesas que muitas empresas não param para calcular.”

Mariana chamou o irmão, Guilherme Dias, e dois colegas, Bruna Guimarães e Robson Ventura, para criar a Gupy em 2015. Ao todo, 40 mil reais foram investidos para criar a empresa.

A startup foi acelerada pela Wayra, programa de inovação aberta e empreendedorismo da Telefônica/Vivo, em 2016. No ano seguinte, recebeu um aporte no valor de 1,5 milhão de reais dos fundo de investimento Canary, liderado pelos fundadores do Peixe Urbano, M Square e Printi, e Yellow Ventures, liderado por Patrick Sigrist, fundador do iFood. Investidores-anjos também participaram da rodada.

Os concorrentes da Gupy vão desde consultorias de recursos humanos e caça-talentos até gigantes como IBM e Oracle, que fazem softwares de gestão de pessoas. Mas seus fundadores acreditam que o poder de seus algoritmos e os resultados apresentados falarão mais alto. A proposta atual da Gupy, diz Mariana, ajuda o recrutador a realizar uma triagem de currículos com 70% menos esforço operacional.

Como funciona?

O primeiro passo da Gupy é fornecer um sistema de gestão de recrutamento para seus clientes. A empresa insere quais pessoas representam a cultura da empresa. Tais funcionários irão responder perguntas e, com base nisso, é feita a comparação entre novos candidatos e os melhores funcionários do cliente da Gupy. Só então o algoritmo de inteligência artificial começa a operar e faz seu ranqueamento automático dos currículos em cada processo seletivo.

Por meio do mesmo software, o cliente da Gupy consegue ter uma visão completa das etapas do processo: é possível gerenciar métricas e contatar funcionários e gestores para avaliarem o processo.

Bruno Belintane, coordenador de recrutamento da editora multinacional Pearson, comentou anteriormente a EXAME como o grupo usou os serviços da Gupy para selecionar candidatos. “Percebemos um aumento significativo no recrutamento de pessoas de alta performance no nosso ano mais recente com a Gupy. No Programa de Estágio da Pearson em 2017, por exemplo, devido ao perfil das pessoas, nós aprovamos 200% a mais do que em 2016.”

Hoje, a Gupy atende “centenas” de clientes, como Ambev, Kraft Heinz e Somos Educação. Eles pagam uma mensalidade que varia de 850 a 50 mil reais, dependendo do número de vagas abertas por mês. Metade dos clientes são pequenas e médias empresas. A evasão de clientes, também conhecida como churn, é de menos de 1%.

Investimento e expansão

No ano passado, o número de clientes e a receita da Gupy quintuplicaram em relação a 2017. A startup saiu de 20 para mais de 50 funcionários e teve de trocar o espaço para startups Google Campus, em São Paulo, por um escritório próprio. Hoje, há mais de 60 funcionários na startup.

Escritório da Gupy

Escritório da Gupy, em São Paulo (Gupy/Divulgação)

Parece contraditório, diante do alto índice de desemprego, que chegou a 11,6% em novembro do ano passado. Mas justamente por isso as empresas precisam de seleções melhores. “Há um alto volume de candidatos para a mesma vaga. As empresas querem contratar rápido, com a melhora na economia, mas há uma grande dúvida sobre qual é a pessoa certa”, diz Mariana.

O investimento captado servirá para acelerar ainda o negócio, com o começo de uma lenta recuperação dos empregos. “Apenas no começo do ano, vimos um aumento de 20% nas vagas publicadas pelas empresas que atendemos em relação ao ano passado. Queremos aproveitar o momento”, diz a empreendedora. A meta é, novamente, quintuplicar o volume de clientes e de receita. O crescimento mensal médio de receita da startup é de 15%.

Para crescer, a Gupy investirá em melhorar sua inteligência artificial. O objetivo é identificar mais rápido quem é a pessoa certa para a vaga e melhorar o ranqueamento. Hoje, o profissional de recursos humanos precisa olhar para 30 currículos. A ideia é que ele olhe apenas para os 12 primeiros. Um novo painel da administração dará mais material ao profissional de recursos humanos, melhorando sua análise dos candidatos. Enquanto isso, os candidatos receberão a ajuda de uma assistente virtual.

Além de desenvolvimento, outro objetivo com os 11,5 milhões de reais recebidos é expandir a Gupy pelo Brasil e pelo resto da América Latina. “O Valor Capital tem uma experiência forte fora do Brasil e eles podem aportar bastante conhecimento nessa expansão”, diz Mariana.

O calcanhar de Aquiles para as startups que aplicam inteligência artificial é evitar seleções excludentes. Se as startups se baseiam sempre nos melhores funcionários das empresas, não perderiam a oportunidade de ter perfis diferentes – e mais inovações nos ambientes de trabalho?

A importância da diversidade até para a sobrevivência financeira das empresas já foi percebida nos empreendimentos mais tradicionais. A Mastercard, por exemplo, já falou ao Site EXAME sobre o assunto. Algumas das HR Techs já estão analisando como evitar os vícios de suas seleções.

Sergio Margosian, da consultoria de recursos humanos Michael Page, falou anteriormente a EXAME que a responsabilidade de promover a diversidade de formação acadêmica, gênero e raça nas seleções recai sobre as empresas, e não sobre as HR Techs. É possível parametrizar os critérios usados pelas HR Techs para as buscas. Por exemplo, excluir o filtro por apenas algumas universidades, por gênero ou por idade dos candidatos.

“O maior desafio é a organização ter muito claro o que entende por diversidade e como se colocar para tal. A partir dessa definição, o algoritmo não é um obstáculo tão grande."

Atualizado às 12h08.

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