Escritório da Matchbox: startup divulgou 1.000 vagas de trainee no último ano (Matchbox/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 23 de maio de 2019 às 06h00.
Última atualização em 23 de maio de 2019 às 21h48.
Mesmo com 13 milhões de desempregados no país, as empresas continuam disputando os profissionais mais talentosos em áreas com escassez de mão-de-obra qualificada -- e a startup de recursos humanos Matchbox cresceu com base nessa demanda.
O negócio, criado há dois anos, atende empresas como Ambev, Avon, Boticário e Red Bull com processos seletivos mais eficientes e com a construção do marketing de relacionamento com candidatos e potenciais candidatos.
“Especialmente em áreas com profissionais escassos, como a de tecnologia, os talentos já estão empregados e é preciso chamar a atenção deles. A companhia já deve ter uma relação com eles quando eles perderem o emprego ou procurarem oportunidades”, afirma o fundador da Matchbox, Kleber Piedade.
A Matchbox anunciou um novo aporte de um milhão de reais para expandir suas soluções e ampliar o número de companhias e funcionários atendidos. Em 2019, espera crescer seu faturamento em mais de 60%, para 4,5 milhões de reais.
Piedade trabalhou em multinacionais e percebeu como as contratações e o relacionamento entre companhias e candidatos podem ser ineficientes.
As empresas recebem diversos perfis inadequados para as vagas abertas e o processo de contratação leva 40 dias em média no Brasil, de acordo com um estudo do portal de recrutamento Glassdoor, com muito trabalho operacional. O custo de uma contratação errada pode ir de seis a nove salários do funcionário mal escolhido, de acordo com a Society for Human Resource Management.
Segundo o estudo Liga Insights HR Techs, o Brasil possui 122 startups que atuam na área de recursos humanos. — de avaliação de performance até de recrutamento de temporários e freelancers. Na pesquisa Harvey Nash HR Survey, de 2017, seis a cada dez empresas consideram que automatizar processos de recursos humanos é uma prioridade no planejamento.
Para mudar o relacionamento entre empresas e talentos, Piedade lançou em junho de 2017 a Matchbox. Pelo site, multinacionais como Ambev, Avon, Bayer, Boticário, Energise, Localiza, Locaweb, Kraft Heinz e Red Bull podem fazer marketing de recrutamento ou criar processos seletivos.
No marketing de recrutamento, a Matchbox estuda o perfil de funcionário que a empresa precisa recrutar e como melhor atraí-lo. Assim como em um funil de vendas digitais, a startup cria conteúdos adequados a cada talento (como posts em redes sociais e em blogs corporativos) e obtém seus contatos. O objetivo é construir uma base de potenciais funcionários engajados com a marca empregadora.
Esses usuários poderão, depois, tornarem-se os melhores candidatos do processo seletivo pela Matchbox. O potencial funcionário entra no site e conversa com um chatbot dotado de inteligência artificial. O robô, chamado Vicky, ajuda a fazer a inscrição no processo seletivo em quatro minutos. Tradicionalmente, tal processo pede grande quantidade de informações e cada candidato leva de 30 a 40 minutos para preencher os formulários, de acordo com estimativas da Matchbox.
No lugar de testes que pedem a autopercepção dos candidatos, a startup criou um jogo em que o usuário deve tomar decisões em tempo real, sozinho ou em grupo. Com base em seu desempenho, a MatchBox avalia se cada um dos participantes possui as competências buscadas pela empresa contratante e manda relatórios comportamentais para ambas as partes usando o Watson, plataforma de computação cognitiva criada pela gigante IBM. O algoritmo interpreta a forma como o candidato se comporta no game, parametrizando por empresa – há quem queira um empregado mais agressivo ou um mais diplomático, por exemplo.
A MatchBox recebeu 100 mil candidatos em 2018 e anunciou mil vagas de trainee, a um valor inicial de dois mil reais por vaga. O preço muda com número de colocações e complexidade da avaliação.
As principais bandeiras da startup são eficiência no tempo e na qualidade da contratação. Um processo de trainee, que costuma levar até cinco meses, dura dois meses na plataforma. A Matchbox afirma que a evasão de candidatos durante o processo seletivo vai de 20 a 25%, contra 40 a 50% nas seleções tradicionais.
O primeiro aporte na Matchbox foi no mesmo ano da criação da plataforma, 2017, com um investimento anjo de 640 mil reais. Agora, a startup obteve um aporte de um milhão de reais da criadora e investidora de startups Superjobs.
Os recursos irão para melhorar o marketing de recrutamento da Matchbox. A startup construirá uma plataforma própria que centralize os conteúdos produzidos e os dados dos potenciais candidatos atingidos -- até agora, a Matchbox usa softwares de outras empresas, sem foco em aquisição de talentos.
Com o novo produto, chamado Spark, será possível programar contatos frequentes no modelo de conteúdo mais acessado pelo usuário. A plataforma de automação de relacionamento da marca empregadora com talentos terá uma cobrança de mensalidade a partir de dois mil reais por mês, em um modelo de software como um serviço (SaaS).
Os testes devem começar no próximo mês. Em 2018, a Matchbox fez marketing de recrutamento com oito empresas. Neste ano, projeta chegar a 15 clientes nessa solução. Para suportar a criação da Spark, a equipe de 26 pessoas da Matchbox deve chegar a 45 até o final deste ano.
A Matchbox faturou 2,7 milhões de reais em 2018, um crescimento de 50% sobre 2017. Para 2019, planeja aumentar o faturamento em cerca de 70%, para 4,5 milhões de reais. Enquanto atrair os melhores candidatos continuar um desafio para as empresas, a Matchbox manterá seus planos de expansão.