Reinaldo Cardoso, da Renova Green: ele trabalha na indústria petrolífera e criou seu negócio após pesquisar sobre energia solar (Divulgação/Renova Green)
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2016 às 20h04.
São Paulo – Economizar para evitar surpresas na conta de luz já se tornou um hábito dos brasileiros. Porém, mesmo com as tarifas de consumo de energia pesando no bolso, nem tudo está perdido: isso porque surgem startups que trazem soluções melhores (e mais baratas) para a geração de eletricidade.
A curitibana Renova Green é uma delas. Aproveitando a tendência da energia solar no mundo todo – basta olhar o sucesso da startup americana Solar City, recentemente comprada pela Tesla –, o negócio quer que você produza sua própria energia, por meio da instalação de painéis solares alugados.
“De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), até o ano 2024 teremos mais 1,2 milhão de sistemas fotovoltaicos instalados em telhados por todo o país. Temos certeza que os brasileiros irão abraçar essa causa assim que conhecerem o nosso sistema. Além de disponibilizarmos uma fonte de energia com menor impacto ambiental, oferecemos o melhor custo-benefício para o consumidor”, afirma o co-fundador Reinaldo Cardoso.
Cardoso trabalhou como engenheiro de projetos na área de petróleo, passando anos embarcado em uma plataforma petrolífera. Um MBA que combinava gerenciamento de projetos e sustentabilidade, porém, acendeu seu interesse para fontes de energia renováveis.
O resultado de sua pesquisa de negócio chamou a atenção da aceleradora ISAE Business, do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE). Depois de três meses de aceleração e de testes com os primeiros consumidores, a Renova Green já procura investimento e vê um grande potencial de expansão pelo Brasil.
No entanto, não foi fácil chegar ao modelo de aluguel de painéis: como todo negócio que envolve inovação, foi preciso que a Renova Green fizesse ajustes ao longo do tempo.
O negócio começou no ano passado, trabalhando com diversas soluções de eficiência energética, como reaproveitamento de água. “Nascemos com a proposta de popularizar novas tecnologias e oferecer projetos de sustentabilidade mais acessíveis aos nossos clientes. Queríamos trazer a eles o que antes só havia para indústrias e para clientes de alto poder aquisitivo”, explica Cardoso.
A Renova Green começou atuando em pequenos comércios e condomínios. “Porém, vimos que nosso alcance era limitado. Tínhamos dificuldade em fechar projetos, justamente porque fazíamos de tudo sem ser especialista em nada.”
A partir dessa dificuldade, o empreendedor começou a pesquisar mais sobre energia solar: viu o tamanho do mercado e quais eram as formas de desenvolver projetos de baixo custo na área. Com isso, a Renova Green desenvolveu um mini-kit de energia solar, para ser vendido em redes varejistas – o negócio lucraria tanto com a revenda quanto com a instalação do equipamento.
Porém, essa proposta também não era a ideal. “Entramos em contato com lojas físicas e online, mas a energia solar ainda está distante da realidade dos varejistas. As pessoas viam ainda como um investimento de longo prazo – o equipamento custa 2.990 reais e o retorno esperado varia entre oito e dez anos”, explica Cardoso.
A startup então buscou soluções similares em outros mercados para se inspirar. No mercado europoeu, a venda do sistema era o modelo mais usado: lá, a mentalidade de consumo a longo prazo é mais comum do que no Brasil, afirma o empreendedor.
Já no mercado americano, a Renova Green encontrou um modelo diferente, que acabou usando como inspiração: a startup SolarCity. Nesse modelo, o negócio oferece o equipamento e o usuário paga de acordo com a energia gerada no sistema.
Foi aí que a empresa de Cardoso começou a ganhar musculatura. Com a nova proposta, a startup passou pela aceleração da ISAE. “Esse programa de três meses nos ajudou muito a fazer o lançamento do modelo, em agosto. Já tínhamos a ideia e o produto desenvolvidos, mas faltava modelar o plano de negócios no sentido de colocar a startup no mercado de uma forma mais concreta”, afirma.
Desde 2012, a ANEEL já garante a possibilidade de minigeração doméstica de energia - ou seja, o consumidor pode instalar pequenos geradores, tais como painéis solares ou microturbinas eólicas, em casa ou em seu negócio.
Porém, como já vimos, isso não é tão simples assim: comprar e instalar painéis solares não sai barato, ainda que gere um alívio nas contas de consumo de energia.
Para resolver esse problema, a Renova Green resolveu alugar os painéis por meio de uma assinatura mensal, e não simplesmente vendê-los.
O cliente da Renova Green se cadastra por meio do site da startup e pode tirar dúvidas antes de fechar o contrato. Depois, faz o agendamento da instalação de painéis solares, pagando uma taxa de 199 reais. A manutenção do equipamento está garantida no contrato. Segundo Cardoso, em um ano de uso o cliente já recebe o retorno por essa taxa.
A partir daí, o usuário paga uma mensalidade de 19,90 por mês, tendo como base uma geração de 60kWh/mês. Segundo a Renova Green, sua solução gera uma redução média de 40 reais por mês na conta de luz em Curitiba, tendo como base esse consumo. Ou seja: com a mensalidade de 19,90, a economia é de cerca de 20 reais. O restante do consumo vem pela conta de luz normalmente.
A startup está desenhando valores de mensalidade mais altos por uma geração de energia maior – quanto maior o consumo, maior a porcentagem de economia sobre a conta tradicional de luz.
Para um plano de 500kWh/mês, por exemplo, a economia varia de 8% (contratação de um painel, por 19,90, e pagamento do restante de forma tradicional) a 25% (suprimento total por meio de painéis solares). Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo médio residencial por mês em 2015 foi de 160kWh.
Para a Renova Green conseguir retornar o valor investido no equipamento, foi preciso desenhar um contrato de fidelidade de 240 meses (20 anos). Se o assinante quiser cancelar antes do prazo, será cobrada uma taxa de desinstalação do sistema. É possível transferir a titularidade do contrato ou realizar uma mudança de endereço.
“Como começamos agora, estamos vendo a reação do mercado e adaptaremos se necessário. Tivemos feedback de gente que aceitou esses termos e de gente que desistiu justamente pelo contrato de longo prazo”, explica Cardoso.
“Mesmo assim, nossa previsão de taxa de desistência é baixa, já que temos uma economia garantida na conta de luz. A mensalidade só aumenta se o consumo energético aumentar e, nesse caso, a taxa de redução de custo também aumenta em relação à conta tradicional.”
Veja um vídeo resumindo o funcionamento do negócio:
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Hoje, o negócio conta com dez clientes cadastrados, todos em Curitiba. Porém, já possui 250 solicitações de assinatura só na cidade – mais ainda levando em consideração o país inteiro.
“Estamos em uma fase de estruturação para atender à demanda que geramos. Não temos recursos, inclusive financeiros, para atender a essa procura. Analisamos atender outros dez consumidores e colher mais feedback. A partir disso, podemos discutir investimentos”, explica Cardoso.
A Renova Green pretende se firmar no mercado de Curitiba antes de começar sua expansão pelo Brasil. Para essa ampliação, pretende captar recursos.
A meta para 2016 é conseguir um investimento para chegar a cem assinantes atendidos.
No próximo ano, a meta é ter outro investimento, mais robusto, para fazer a expansão para outras cidades. “Já temos investidores interessados e procuramos novos parceiros do setor de energia solar para levar esse modelo de negócio à região deles, atendendo nossa demanda reprimida.”
Com isso, o negócio chegará ao seu ponto de equilíbrio entre receitas e despesas. Para que isso aconteça, será preciso obter entre 1.250 e 5.000 usuários – a depender de quantos painéis cada cliente necessitará.
“Já temos demanda, e sabemos que ela aumentará ainda mais quando os clientes começarem a perceber o retorno na conta de luz, indicando o negócio para amigos”, conclui Cardoso.