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Startup de Curitiba cria Uber dos repositores de supermercado

Serviço já tem 120 empresas clientes, dentre elas Coca-Cola, Ambev e Philip Morris, além de 16 mil repositores cadastrados

Repositora da Anthor: startup agiliza reposição de produtos nos supermercados (Anthor/Divulgação)

Repositora da Anthor: startup agiliza reposição de produtos nos supermercados (Anthor/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2020 às 08h50.

Quer uma renda extra? Que tal ajudar a repor o estoque do supermercado perto da sua casa? Essa é a proposta da startup Anthor. Funciona assim: empresas interessadas no serviço de reposição se cadastram com a startup. Do outro lado, pessoas interessadas em realizar o serviço baixam o aplicativo. A partir daí, as tarefas aparecem para os repositores, que ganham para realizá-las. “Nosso negócio é resolver o problema de reposição de mercadoria nos pontos de venda. É bom para o varejo, para a indústria e para o repositor”, afirma o fundador Guido Jackson.

O empreendedor explica que, em geral, o trabalho de reposição de gôndolas é feito pelas marcas. A empresa então paga funcionários para irem de loja em loja, pegar seu produto que está no estoque e repor na prateleira ao alcance do consumidor. Mas esse modelo não funciona bem nem para o repositor, que ganha pouco, nem para a empresa, pois boa parte do tempo de trabalho desse funcionário é gasto no trajeto entre uma loja e outra.

A solução da Anthor é transformar cada reposição necessária em uma tarefa, que pode ser realizada por qualquer pessoa cadastrada no aplicativo. Assim, o repositor realiza as tarefas apenas na região de sua preferência, sem grandes deslocamentos, e pode atender mais de uma marca ao mesmo tempo.

Para realizar o serviço, o repositor deve baixar o app, comprar uma camiseta de identificação, passar por um treinamento online e pagar uma mensalidade de R$ 1,99 para usar o app. A renda de um repositor Anthor pode chegar a 3 mil reais mensais, segundo a empresa. O profissional trabalha nos horários que preferir.

A cada missão aceita, o repositor recebe um seguro que cobre de duas horas antes a duas horas depois da realização do serviço. O objetivo com isso é dar uma segurança em casos de acidentes no trajeto ou durante o trabalho. “Nossa meta é dar mais qualidade de vida para o repositor. Se não formos atrativos, ele não vai querer usar o aplicativo”, afirma Jackson.

A cada tarefa realizada, o repositor ganha de 10 a 60 reais. Ao chegar ao local da tarefa, o repositor tira uma foto da prateleira antes da reposição, e outra depois. As informações de cada reposição alimentam um algoritmo da Anthor que calcula quando aquele ponto precisará de uma nova visita. Com isso, a expectativa é de redução das vendas perdidas por falta de produto na prateleira. “Essa é uma grande dor do varejo. O produto está no depósito, mas a compra não acontece porque ninguém colocou na loja”, afirma o empreendedor.

A startup começou a desenvolver o aplicativo em 2018. Hoje já tem 120 empresas clientes, dentre elas Coca-Cola, Ambev e Philip Morris. As empresas pagam uma taxa a cada tarefa realizada pelo aplicativo. No total são 16 mil repositores cadastrados, e 900 lojas atendidas, incluindo unidades de redes como Big e Lojas Americanas. O serviço está disponível hoje no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Agora, a empresa se prepara para entrar no mercado de São Paulo em março.

Em janeiro de 2019, a startup recebeu aporte de 1,8 milhão de reais do Curitiba Angels e outros investidores. Com isso, conseguiu iniciar sua operação. Hoje o faturamento é de 185 mil reais por mês, número que vem crescendo cerca de 50% ao mês.

Economia compartilhada

O modelo de negócios da Anthor lembra o de outros aplicativos como Uber, 99 e iFood. Essas empresas fazem parte da chamada economia compartilhada, uma modalidade de negócio que tem sido alvo de discussões recentes sobre vínculo empregatício, condições de trabalho consideradas ruins e pagamentos baixos.

Recentemente, a Justiça Trabalhista de São Paulo decidiu contra uma ação civil pública que pedia o reconhecimento de vínculo empregatício entre o iFood e os entregadores que atuam na plataforma. Na decisão, a juíza Shirley Aparecida de Souza Lobo Escobar, da 37ª Vara do Trabalho de São Paulo, afirmou que os motoboys estão mais próximas da figura de um trabalhador autônomo, que presta serviço a uma outra empresa. Disse ainda que ficou demonstrado que “o trabalhador se coloca a disposição para trabalhar no dia que escolher trabalhar, iniciando e terminando a jornada no momento que decidir”, e também que o entregador pode optar por usar outros aplicativos de concorrentes.

Os debates sobre o tema se intensificaram depois que um entregador da empresa de delivery Rappi teve um ataque cardíaco durante uma entrega e não conseguiu auxílio da empresa. Desde então, a Rappi e o iFood adicionaram um botão de emergência para contato dos entregadores. No final do ano passado, o iFood passou a oferecer seguro contra acidentes aos motociclistas.

Jackson, da Anthor, ressalta que sua empresa já começou a operar com seguro para os repositores. Diz também que uma das metas de seu negócio é melhorar a qualidade de vida desses profissionais. “A renda deles via aplicativo chega a ser o triplo do que um profissional desse ramo consegue via CLT. Ele não fica no trânsito, não perde tempo com deslocamento. É um trabalho de inclusão social”.

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