Prato do negócio Liv Up, de comida ultracongelada (Liv Up/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 19 de novembro de 2018 às 08h11.
Na Liv Up, os opostos convivem em harmonia, as perguntas sem resposta motivam a busca contínua e o impossível é parte do plano de crescimento. Dessa visão, nasceu a scale-up de tecnologia que entrega mais de 100 mil refeições por mês – e já cresceu cinco vezes de tamanho do ano passado para cá. Uma marca de alimentos que une chefs e nutricionistas com dados e tecnologia, refeições saudáveis e snacks práticos, preço competitivo com ingredientes selecionados e, para completar, uma relação positiva com pequenos produtores orgânicos que suportam a escala e o crescimento acelerado do negócio.
Essa história começou com a inquietação dos empreendedores Victor Santos e Henrique Castellani . Eles sabiam que o mercado de alimentos e bebidas poderia ser diferente!
Há três anos, se uma pessoa quisesse ter uma alimentação mais saudável, tinha poucas alternativas à mesa: enganar-se pelas embalagens do supermercado que prometiam alimentos naturais escondendo o nível de sódio em letras miúdas; ir para a cozinha gastar algumas horas no fogão; ou talvez, adquirir marmitas caseiras sem o sabor desejado pelo consumidor.
Toda vez que o relógio passava do meio-dia e os prédios da Faria Lima se esvaziavam para encher os restaurantes, Victor e Henrique tentavam encontrar uma nova alternativa para se alimentarem bem, sem estourar o vale-refeição. A falta de opções indicou uma grande oportunidade. Nessa busca, entre conversas por Skype e estudos de mercado, os dois chegaram a uma técnica italiana de ultracongelamento que permitiria a produção de alimentos naturais e saudáveis, por um preço justo e acessível.
A proximidade de Henrique com a agricultura do interior de São Paulo, fez surgir também uma parceria que hoje é a principal força da Liv Up: o fornecimento de alimentos frescos e orgânicos produzidos por uma rede de famílias rurais. Ao mesmo tempo em que a scale-up adquire os ingredientes por um preço menor, as famílias também aumentam a margem de lucro da safra, já que não dependem mais de atravessadores do mercado.
Depois de pedirem demissão dos seus antigos empregos, era a hora de levantar dinheiro para colocar o empreendimento de pé. O plano de lançamento foi baseado em R$2,5 milhões vindos de investidores. O problema é que, no último minuto, por conta do cenário econômico da época, o fundo deu para trás. A única alternativa, então, era enxugar o projeto para conseguir tirá-lo do papel.
Foi preciso recorrer ao apoio de amigos e familiares para começar. O time, que inicialmente contaria com mais gente foi reduzido a apenas 5 pessoas, para se adequar ao capital que os empreendedores tinham disponível. Tudo o que eles tinham era uma cozinha de 60 metros quadrados e uma gestão de estoque eficiente: assim começou a Liv Up.
Os empreendedores começaram divulgando a marca entre amigos e familiares e foram expandindo o raio de atuação na cidade de São Paulo, oferecendo amostras para potenciais clientes desde escritórios a grupos de corrida. Três meses depois da primeira refeição vendida, a scale-up já ganhava contornos de escala e percorria curvas aceleradas de crescimento, dobrando de tamanho de três em três meses. Desde o dia um, os empreendedores contavam que esse momento chegaria. Sabiam também que a necessidade de escala nunca superaria a preocupação com a qualidade das refeições. O desafio estava ali: gerenciar a produção de alimentos, mantendo a qualidade e o sabor de comida caseira. Todo mundo perguntava se eles conseguiriam escalar.
Mais uma vez, era preciso buscar um modelo de negócio em que os opostos pudessem coexistir.
Para os empreendedores, a resposta à escala artesanal estava no investimento em processos e tecnologia. “Nós precisamos ser paranoicos por eficiência. Poucas scale-ups têm sido bem-sucedidas no setor de alimentação, justamente porque é desafiador manter o ritmo de crescimento com uma operação complexa. Nós sabíamos, desde o dia um, que seria preciso investir em tecnologia para alcançarmos o tamanho que sonhamos, só não tínhamos os recursos.”, conta Victor.
No início, trabalhar com um grande estoque era impossível porque o capital era contado. Então, com planilhas de Excel e muitos tutoriais de VBA, os empreendedores criaram um sistema de atualização do estoque, a partir das vendas no site. Se um prato de frango com crosta de castanha de caju fosse vendido, os ingredientes eram subtraídos da planilha de estoque, mantendo a operação em funcionamento com baixa necessidade de capital de giro. Considerando um portfólio que altera 10% do cardápio todo mês, a integração entre essas áreas seria fundamental para manter a eficiência.
A necessidade de usar a tecnologia como viabilizadora da escala foi crescendo e tornando-se cada vez mais relevante para o negócio, até a chegada de um CTO no início de 2017. Com ele, o time de Tecnologia e Inteligência de Mercado da Liv Up foi oficialmente montado, abraçando como primeiro desafio a automação das planilhas de Excel, guardiãs da gestão da empresa.
Naqueles primeiros meses, os desenvolvedores transformaram as planilhas em um software próprio que conecta e atualiza, em tempo real, as vendas no site, a gestão da produção, o estoque disponível e os roteiros de entregas. Além disso, o time de Inteligência de Mercado (BI), passou a escalar também os insights vindos dos clientes. Seja em pesquisas de satisfação, comportamento no site, histórico de compras, comentários em mídias sociais ou entrevistas em profundidade, são eles que fazem a máquina girar para a construção de uma empresa que, antes de tudo, é centrada no consumidor.
“O que nós não podemos esquecer nunca é que processos e tecnologia são um meio para entregarmos o que queremos: ajudar as pessoas a se alimentarem melhor. Antes de tudo, nós formamos um time que se importa com quem está do outro lado comprando cada refeição. E, no fundo, a definição de objetivos e processos é uma forma de nos importarmos em escala.”, conta Henrique.
A preocupação é tão genuína que, até hoje, Henrique realiza algumas entregas dos produtos aos clientes. Sempre que podem, os empreendedores também respondem ao SAC, conversam com clientes e, claro, fazem um pedido para sentirem na pele como está evoluindo a experiência completa que estão oferecendo.
“Todo empreendedor deveria ter essa preocupação: como ser mais eficiente no que eu faço, entregando mais valor ao meu cliente, e como os processos e a tecnologia me ajudam nisso?”, diz Henrique Castellani.
Esse mindset único, em um dos mercados mais competitivos do mundo, levou os dois empreendedores ao Painel Internacional de Seleção da Endeavor na Grécia, no final de outubro. O foco nos consumidores, a paranóia pela eficiência, a preocupação com a qualidade do que fazem e o apoio aos produtores orgânicos por meio de incentivos e microcrédito são algumas das razões que levaram Victor Santos e Henrique Castellani a tornarem-se os mais novos Empreendedores Endeavor. “Desde o primeiro ano de faculdade, nós escutamos falar da Endeavor e dos empreendedores que são apoiados.
“A gente olhava e pensava: queremos construir algo como o que essas pessoas estão construindo. E hoje sermos reconhecidos como Empreendedores Endeavor é um marco na evolução da nossa jornada.”
“Agora queremos continuar cada vez mais construindo um negócio que gere impacto positivo na sociedade para que possamos inspirar outras pessoas do mesmo modo como fomos inspirados lá no começo”, diz Victor Santos.
Com um time que supera as 160 pessoas e uma operação que se expande para outros estados do país, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, a cozinha da Liv Up agora é bem maior. Os 60 m² já cresceram mais de 10x para entregar não somente refeições mas também snacks saudáveis e, em breve, outros produtos. O modelo direct-to-consumer com o uso de tecnologia funciona como um híbrido que contém o melhor dos dois mundos: preços mais acessíveis através de uma relação sem intermediários até o consumidor, e a evolução dos produtos por meio de um relacionamento próximo com o cliente.
Texto publicado originalmente no site da Endeavor.