Logo da Aplle é projetado na fachada da Nasdaq, após empresa atingir marca de 1 trilhão de dólares (Mike Segar/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 7 de agosto de 2018 às 06h00.
Última atualização em 7 de agosto de 2018 às 06h00.
São Paulo - A Apple, fabricante do iPhone e dos computadores Mac, tornou-se a primeira empresa do mundo a atingir o valor de mercado de um trilhão de dólares (3,7 trilhões de reais), o equivalente a 56% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A marca foi alcançada na semana passada depois que a empresa informou que o seu lucro líquido subiu 17% no trimestre encerrado em junho contra igual período de 2017, para 53,3 bilhões de dólares, e o lucro avançou 32%, para 11,5 bilhões de dólares. Fundada em 1976 por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne, a empresa de tecnologia quase foi à falência no final da década de 1990, mas a sua impressionante virada para se transformar em ícone moderno oferece preciosas lições para empreendedores de todas as áreas:
Uma empresa que tenha passado muito perto de acabar frequentemente opta por abandonar o risco e apostar em receitas mais conservadoras de negócio. Se tivesse feito isso, a Apple teria aberto mão do processo criativo que deu origem a produtos que mudaram a maneira como o mundo funciona. “Jobs nunca desistiu, e esse é um grande exemplo para outras companhias”, diz Silvio Genesini, conselheiro e mentor de empresas inovadoras e colunista de EXAME. O mais famoso dos fundadores da Apple não desistiu da empresa nem mesmo depois de a empresa ter desistido dele – demitido em 1985, o executivo acabou retornando à companhia em 1997 para liderar a sua reestruturação.
O primeiro iPhone, lançado em 2007, representou uma tremenda inovação no mercado de telecomunicações e mobilidade. Desde então, concorrentes como a coreana Samsung e a chinesa Huawei já criaram modelos com funcionalidades superiores, como telas mais brilhantes e sistemas operacionais mais rápidos. A qualidade do smartphone da Apple, que dificilmente quebra ou trava, porém, é o diferencial que o coloca na frente dos demais, na avaliação de especialistas em tecnologia.
Desde o início, os produtos da Apple têm como apelo a simplicidade – a carcaça do iPhone aboliu o teclado desde o início e exibe poucos botões; o sistema operacional iOS não oferece tantas opções de ajustes e personalização quanto o Android. Assim, consegue atrair também usuários que não são aficionados por tecnologia.
Jobs costumava dizer que os produtos da Apple não teriam alcançado tamanho sucesso sem as aulas de caligrafia que ele fez após deixar a faculdade, em Portland (Oregon). Tendo aprendido sobre os elementos visuais que deixavam as letras mais bonitas e elegantes, o empresário determinou o estilo do design de todos os produtos da companhia. Não só os apetrechos são belos, mas também as interfaces gráficas dos sistemas, fazendo até a experiência de compra nas lojas físicas e virtuais da empresa mais agradáveis.
No começo, os principais usuários dos computadores Mac eram da área de design. Mais do que clientes, eles se diziam fãs da marca, e começaram a se reunir em fóruns e publicações especializadas para trocar dicas de como aproveitar ao máximo os equipamentos. A sensação de pertencimento a um grupo de elite, que aprecia produtos sofisticados e mais caros do que a média, acabou se estendendo pelos outros itens da Apple e explica as longas filas às portas das lojas da empresa nos dias de lançamento de novos modelos.
Computador, tocador de música, smartphone ou TV, todos os produtos da Apple têm a mesma alma: a plataforma iTunes, de onde se pode baixar novos aplicativos, atualizações, músicas e vídeos. Esse ambiente virtual fica tão familiar e confortável para o usuário que o cativa. “A grande tendência para os fabricantes daqui para a frente é justamente construir famílias de produtos em torno dos seus smartphones”, diz Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria de equipamentos para o consumidor da IDC Brasil.
Uma das qualidades que fizeram da Apple uma gigante trilionária também é um dos pontos que mais geram críticas à empresa. A companhia é muito rígida com a seleção dos aplicativos que estão disponíveis em sua loja e somente permite que o cliente use os seus produtos dentro das alternativas pré-estabelecidas. Por exemplo, só é possível baixar músicas para o iPod a partir da iTunes. Enquanto o sistema Android é aberto para contribuições de desenvolvedores, os códigos do iOS são fechados. Esse controle absoluto ajuda na fidelização do consumidor – que pode até reclamar da falta de opção, mas no final escolhe continuar preso dentro do universo da Apple, como os resultados da companhia deixam bem claro.