Alexandre Eckmann,da Colt: "Revejo os contratos anualmente antes de renová-los" (Daniela Toviansky)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2013 às 06h00.
São Paulo - O dono de uma pequena ou média empresa que precisa comprar ou renovar seguros costuma deparar com uma série de dúvidas. Como proteger ao máximo o negócio sem estourar o orçamento? É melhor negociar seguros específicos para o setor de atuação?
Antes de assinar o contrato, quais cláusulas merecem atenção redobrada? Exame PME consultou especialistas para elucidar esses e outros pontos básicos — Manes Erlichman (sócio da corretora de seguros online Minuto Seguros), Luiz Paladino (diretor de seguros patrimoniais da seguradora Liberty) e Márcio Iavelberg (sócio da consultoria Blue Numbers, especializada em finanças).
"Um bom corretor ajuda a avaliar os riscos do negócio e a escolher a seguradora que faz a proposta mais adequada", diz Paladino. "Mas o empreendedor tem de estar bem informado para tomar a decisão correta." Veja, a seguir, o que eles disseram sobre sete pontos em relação aos quais não deve ficar nenhuma dúvida.
1 De que seguros meu negócio precisa mais?
Seguros contra acidentes como incêndio e explosão são básicos para todas as empresas. As que têm estoque ou equipamentos caros devem se proteger também contra roubo. Em terceiro lugar, vem o seguro de responsabilidade civil, importante para empresas que eventualmente podem causar danos a terceiros durante a produção e a venda de produtos.
De alguns anos para cá, tem crescido a preocupação de muitos empreendedores com a possibilidade de ter prejuízos decorrentes de processos na Justiça. Alguns deles não querem correr esse perigo.
É o caso de Adriano Guimarães, de 41 anos, sócio da empresa mineira Starline, que faz softwares para instituições como PUC Minas e Senai MG. A Starline paga anualmente uma apólice de 5.500 reais que protege os sócios contra perdas financeiras resultantes de ações judiciais.
"Acho que as pequenas e médias empresas estão mais propensas a ser processadas do que antigamente", diz ele. "Vejo que estão se tornando mais frequentes os casos de clientes insatisfeitos que, com ou sem razão, levam suas queixas para a Justiça, como é comum nos Estados Unidos."
Além disso, a Starline paga 2.800 reais por ano com seguros básicos, contra roubo e danos às instalações elétricas.
Saiba mais: Quanto mais detalhada for a descrição da empresa para o corretor, mais condições ele terá de indicar um produto que, talvez, seja bom para ela.
Há seguros, por exemplo, para empresas que têm fachada e paredes de vidro. Se um vidro quebrar, a segurada será ressarcida e poderá usar o dinheiro para substituí-lo por um novo.
2 Minha empresa precisa de seguros específicos para o setor em que atua?
O empreendedor pode contratar seguros de acordo com riscos específicos do mercado em que a empresa está. Várias grandes seguradoras têm planos especiais para alguns setores, como o de bares e restaurantes, o de hotéis e o de pet shops e clínicas veterinárias.
Um restaurante pode tentar se proteger contra um arrastão, por exemplo, e conseguir indenizar os clientes se o pior ocorrer. No caso dos pet shops, é possível se precaver contra a possibilidade de um cachorro se machucar durante o banho ou a tosa.
Se o bichinho precisar de socorro, o pet shop pode acionar o seguro para pagar as despesas médicas, aliviando pelo menos um pouco o sentimento de frustração do dono.
Saiba mais: Há corretores especializados em seguros típicos de determinados setores. Eles podem encontrar, por exemplo, um seguro contra roubo de carga em estradas ou plantações machucadas por chuvas de granizo.
3 Como fazer os seguros caber no orçamento de minha empresa?
Há dois caminhos possíveis. O primeiro é determinar quanto a empresa vai gastar com seguros e direcionar os recursos para as principais preocupações.
Depois, sem perder o foco, tentar economizar por meio de uma análise criteriosa. Vamos supor que a preocupação seja roubo de mercadorias numa rede de lojas. Pode ser que faça mais sentido pagar por uma cobertura alta apenas nas lojas muito movimentadas, nas situadas em bairros perigosos e naquelas que guardam os estoques mais caros — em vez de diluir os recursos em muitos seguros de valor baixo.
O outro jeito de pensar é definir que não se pode correr determinado risco de jeito nenhum, pagar o necessário pelo seguro e tentar economizar no momento da renovação. Na Colt, empresa paulistana de táxi-aéreo, transporte aéreo de cargas e venda e fretamento de aviões, o dinheiro gasto com seguros no ano passado foi cerca de 1 milhão de reais — 2% do faturamento da empresa.
Alexandre Eckmann, de 39 anos, sócio da Colt, precisa que todas, absolutamente todas, as 17 aeronaves da empresa estejam protegidas. O seguro para elas funciona como o de carros — cobre danos a outros aviões e helicópteros e despesas médicas caso ocorra algum acidente.
A Colt transporta, principalmente, medicamentos, alimentos e eletrônicos — e as cargas também precisam ter seguro. Como não há muito como economizar no tipo de seguro, Eckmann tenta manter os custos sob controle. Uma vez por ano, próximo ao momento da renovação, Eckmann faz uma cotação de preços.
"Peço a um corretor que descubra quanto outras seguradoras cobrariam para fazer os seguros que já temos", diz ele. "Se alguma oferecer os mesmos serviços por preços menores, tento negociar ou até chego a trocar de fornecedor."
Saiba mais: O histórico conta na hora da renegociação. Quem acionou o seguro muitas vezes recentemente tem menos chances de obter um desconto.
4 Como as seguradoras fazem para calcular o preço pago pela empresa?
São muitos os fatores dessa conta. Mas pode-se dizer que, na essência, o resultado é uma mistura do montante do possível ressarcimento com a probabilidade de a indenização existir. Se o risco envolvido na situação segurada é grande, o preço sobe.
Se está ao alcance da empresa fazer algo para diminuir o risco, o preço cai (é por isso que seguros contra incêndio são relativamente baixos, pois as empresas são obrigadas a instalar hidrantes e alarmes). Se o valor do ressarcimento é alto, deve ser alto também o preço do seguro.
Assim, entre os principais fatores estão quanto valem todos os bens segurados, quão provável é o risco de acontecer algo ruim com o negócio (uma empresa que fica num prédio perto de um aeroporto, por exemplo, está mais propícia a danos no caso de um grande acidente) e quais sistemas de proteção existem na empresa (como alarmes, cercas elétricas, extintores e equipe de seguranças).
Saiba mais: Aspectos comuns no relacionamento com fornecedores em geral fazem parte da composição do preço final a ser pago. Um deles é o volume. É possível obter melhores preços se houver muitos seguros concentrados numa única companhia.
5 Quais são as cláusulas contratuais em que devo prestar mais atenção?
As cláusulas que discorrem sobre o que é ou não ressarcido merecem toda a atenção. Algumas situações em que não se recebe o dinheiro são bem conhecidas — como aquelas que isentam a seguradora de pagar indenizações em caso de maremotos e outras catástrofes da natureza.
Mas existem situações que não são óbvias. Um exemplo: danos patrimoniais podem não ser ressarcidos se a empresa estiver em reforma — a lógica é que reforma é uma situação que modifica o grau de risco ao qual o patrimônio avaliado fica exposto.
Saiba mais: Cuidado com as regras de depreciação de bens. Se um computador com dois anos de uso for perdido ou roubado, o ressarcimento será feito com base no valor de mercado de um computador fabricado na mesma época — e não no preço de um novo.
6 Como ocorre o processo de liberação do dinheiro da indenização?
Como regra geral, depois de o empreendedor entregar os documentos necessários (eles variam, dependendo da apólice), passam-se 30 dias até o dinheiro ser liberado. Mas há situações em que o prazo depende da complexidade do laudo — ou do documento que cumpra esse papel.
É o caso dos seguros contra lucro cessante — aquele que repõe o lucro que a empresa teria durante um período em que precisou parar de operar. É feito um cálculo contábil do lucro nos meses anteriores ao acidente — um incêndio, por exemplo.
Saiba mais: É importante guardar notas fiscais e manuais de equipamentos. Normalmente, a seguradora não exige provas da existência de todos os bens ao fazer o contrato — mas, na hora da indenização, elas serão necessárias.
7 Em quais casos a seguradora não é obrigada a pagar a indenização?
A maioria dos casos em que a seguradora não indeniza o contratante relaciona-se a riscos que não estavam na apólice — daí a importância de não ficar com nenhuma dúvida nesse quesito.
Furtos simples, quando objetos desaparecem sem que haja sinais de arrombamento ou outros vestígios de crime, não contam. Se o pagamento do seguro estiver atrasado, a seguradora também pode não liberar a indenização. E tentativas de fraude fazem parte da lista, claro. Elas são muito mais frequentes do que se imagina — é que nem todos os casos vão parar na polícia
Saiba mais: Se a atividade declarada não for verdadeira, poderá dar problema. Uma papelaria que também vende fogos de artifício pode não receber nada se houver um incêndio.