Lojas Renner: empresa tem uma parceria com o Sebrae desde 2017 para qualificar pequenas empresas da cadeia de moda (Germano Lüders/Exame)
Carolina Ingizza
Publicado em 23 de maio de 2020 às 07h00.
Última atualização em 23 de maio de 2020 às 17h44.
O setor de moda foi um dos que cinco que mais sofreu com a pandemia do novo coronavírus. As quedas de faturamento, segundo pesquisa do Sebrae com a FGV, chegaram a 77% abril e estão em 67% agora em maio. Para auxiliar a cadeia produtiva do setor durante esse período, o Sebrae fechou uma parceria com a Lojas Renner para fornecer consultorias sobre gestão financeira e gerenciamento de crise para 220 pequenos negócios brasileiros.
As aulas estão sendo oferecidas a empresas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que produzem peças para fornecedores da varejista de roupas. Ao todo, a consultoria dura dois meses, com aulas semanais online, pensadas para atender a realidade de cada empresa. Ao todo, serão 12 horas de atendimento com consultores do Sebrae sobre três temas: gestão financeira, linhas de crédito disponíveis no mercado e dispositivos disponíveis para enfrentar a pandemia.
“Uma boa parte da micro e pequenas empresas não sabe os dispositivos que o governo disponibilizou para todo mundo usar. O desafio é orientá-las”, afirma Carlos Melles, presidente do Sebrae. Para ele, uma ação combinada entre pequenas e grandes empresas é uma forma efetiva de ajudar os empreendedores brasileiros. “A Renner depende das pequenas empresas”, diz.
Henry Costa, diretor de produto da Lojas Renner, concorda. “Quase 70% do que a gente vende é da produção local, fabricado no Brasil, por isso precisamos tanto apoiar os empreendedores e cooperativas de costura e preservá-los para manter nossa cadeia interna viva”, afirma Costa.
A varejista reconhece a importância dos parceiros e trabalha desde 2017 junto ao Sebrae para proporcionar a profissionalização da cadeia produtiva. Até hoje, mais de 200 pequenas empresas passaram pelo processo de qualificação empresarial oferecido pela companhia, resultando em um aumento de 23% na produtividade e de 55% na competitividade dos negócios.
A Renner também fez um fundo de 1,5 milhão de reais para ajudar 75 pequenas empresas de confecção. Além disso, a empresa manteve a maior parte dos prazos de pagamento acordados previamente com os fornecedores e não postergou pedidos por causa da pandemia. Agora, conversa com o BNDES para auxiliar os pequenos na tomada de crédito para capital de giro, se colocando como responsável pela garantia do empréstimo e assumindo o papel de distribuir rapidamente o capital para a cadeia.
As pequenas empresas que participam do programa foram selecionadas pela Renner e pelo Sebrae. Todas são pequenas, com faturamento anual de até 4 milhões de reais, têm um número considerável de funcionários e estão localizadas em regiões estratégicas para Renner e com acesso à rede de consultores do Sebrae.
Uma das beneficiadas foi confecção Lisatex, de Ituporanga, em Santa Catarina, da empresária Franciane de Souza. Ela foi surpreendida com a pandemia de coronavírus. Em um primeiro momento, decidiu dar férias aos 15 funcionários, mas depois percebeu que precisaria parar a produção completamente e suspender os contratos. Dois meses depois, a fábrica ainda está parada.
Com o auxílio financeiro da Renner, conseguiu pagar despesas fixas, mas não sabe como fará para sobreviver mais um mês com o negócio fechado. O curso disponibilizado pelo Sebrae a ajuda a pensar no futuro. “Está sendo bom, temos uma visão administrativa e descobrimos novas saídas para as decisões que vamos ter que tomar daqui para frente”, diz Souza.
Jaison Koch, proprietário da Invest Têxtil, em Taió, Santa Catarina, também está achando o processo de consultoria interessante para pensar em formas de lidar com a crise. “A perspectiva para este ano está complicada, não sei se vai voltar ao normal. Estamos sem saber o que fazer”, afirma Koch.
Sua confecção, que emprega 18 pessoas, fabrica roupas masculinas e femininas para um fornecedor da Renner. Quando a pandemia forçou o fechamento das escolas, sua produção precisou parar, já que boa parte das funcionárias não tinha com quem deixar os filhos pequenos. Agora, 80% do pessoal está com contrato suspenso em casa. Na fábrica, as poucas pessoas que trabalham produzem máscaras de proteção facial.
Com o auxílio financeiro recebido da varejista, conseguirá manter a empresa por mais dois ou três meses pagando os custos fixos. “Foi como ganhar na loteria, só acreditei quando vi o dinheiro na conta”, diz.
Para auxiliar outros segmentos produtivos, o Sebrae negocia com grandes empresas brasileiras para operacionalizar parcerias similares. Além da Renner, a entidade fechou uma parceria com o Magazine Luiza no final de abril para permitir o acesso de pequenos empresários ao marketplace da varejista, proporcionando uma nova fonte de renda para os negócios que ainda não tinham presença digital.