PME

SanarMed, da "Netflix" dos médicos, recebe aporte de R$ 60 milhões

Em meio à crise do coronavírus, startup brasileira finalizou rodada de investimento liderada pelos fundos Valor Capital e o DNA Capital

Ubiraci Mercês, presidente da SanarMed: empresa vai usar o investimento para ampliar quadro de funcionários e aperfeiçoar tecnologia (SanarMed/Divulgação)

Ubiraci Mercês, presidente da SanarMed: empresa vai usar o investimento para ampliar quadro de funcionários e aperfeiçoar tecnologia (SanarMed/Divulgação)

CI

Carolina Ingizza

Publicado em 15 de abril de 2020 às 06h00.

Última atualização em 16 de abril de 2020 às 19h31.

O novo coronavírus parou o mundo, mas não totalmente. Durante a crise causada pela pandemia, a startup brasileira SanarMed recebeu um aporte de 60 milhões de reais liderado pelos fundos Valor Capital e DNA Capital. A empresa, que atua na área médica, irá usar os novos recursos para aperfeiçoar suas ferramentas tecnológicas e ampliar seu quadro de funcionários. 

As negociações para a rodada de investimento começaram em novembro e só foram finalizadas em março, no “meio do furacão”, como diz o fundador e presidente da startup, Ubiraci Mercês. Apesar da situação nebulosa no curto prazo, ele acredita que os dois focos da empresa, saúde e educação à distância, vão ficar mais fortes depois da crise. 

A empresa oferece uma plataforma online de conhecimento e informação para médicos e profissionais da saúde. Para cada uma das várias fases de formação do médico, há um produto específico da startup. 

Foi essa possibilidade de atender aos clientes médicos ao longo de suas carreiras que chamou atenção de Antoine Colaco, sócio da Valor Capital Group. Na visão dele, a Sanar “pode transformar a saúde de maneira disruptiva”.

Já Luiz Henrique Noronha, diretor de Venture Capital da DNA Capital, afirma que o fundo decidiu investir na startup por acreditar que a empresa está empurrando “as fronteiras do que é possível ser feito em saúde”.

Em abril de 2018, a companhia havia feito uma rodada de investimentos série A de valor não revelado, liderada pelos fundos e.Bricks Ventures e Vox Capital. Ambos participaram novamente nesta rodada.

"Netflix" dos médicos?

Aos clientes, a SanarMed oferece três grandes produtos. Para a fase de graduação do médico, a empresa tem o SanarFlix: uma plataforma online de educação. Com uma assinatura mensal de 24,50 reais, o estudante consegue acessar milhares de conteúdos em vídeo feitos por professores de medicina. A proposta do produto é auxiliar nos estudos, então há aulas introdutórias e mais aprofundadas sobre cada tema da faculdade.

Depois, a startup oferece um programa para a residência médica, etapa em que o profissional começa a se especializar. O Sanar Residência Médica nada mais é que um curso preparatório à distância que ajuda os alunos a estudar para as provas de seleção da residência. O programa de um ano custa 2.000 reais.

Para a fase em que o médico já está formado e atendendo ao público, existe o Sanar Yellow, que custa 8,90 reais por mês. A plataforma atua como uma enciclopédia online para o profissional. Durante o antedimento, o médico pode consultar rapidamente informações que podem ajudá-lo a tomar decisões mais rápidas e assertivas. 

Todo conteúdo disponível é produzido por médicos e professores de medicina parceiros da SanarMed. São 80 profissionais contratados e mais 2.500 especialistas que auxiliam na comunidade de produção de conteúdo. Ao todo, mais de 150.000 profissionais de saúde já compraram algum dos produtos da startup.

O presidente da SanarMed diz que a empresa entende que dar mais conteúdo para o médico é central para tornar o sistema de saúde mais eficiente e barato. “Nos próximos anos, nossa meta é conseguir entregar conteúdos para toda a vida do profissional”, afirma Mercês.

Negócio nascido no Facebook

A SanarMed foi fundada em 2014 pelos sócios Ubiraci Mercês, Mauricio Lima e Leandro Lima, que se conheceram durante a faculdade de administração na Universidade Federal da Bahia. Depois de formados, eles se reencontraram e decidiram empreender juntos no setor de produção de conhecimento. Quando o médico Caio Nunes, colega do trio, entrou para a sociedade, a empresa se consolidou no segmento de educação médica.

Os sócios acreditavam que havia espaço no Brasil para conteúdo online de qualidade sobre medicina. No início, eles buscaram pessoas que pudessem produzir os primeiros materiais para a empresa e adotaram uma estratégia de marketing de conteúdo. Em páginas diversas do Facebook, a empresa divulgava gratuitamente os primeiros textos sobre medicina. “Em vez de fazer com o nome da Sanar, a gente usava as dores da vida do médico para nomear as páginas”, diz Mercês.

Em determinado ponto, as comunidades administradas pela Sanar na rede social cresceram tanto que se tornaram um produto a parte. O site da startup é uma comunidade online em que profissionais da área podem buscar conteúdo e interagir entre si. Mensalmente, a plataforma é acessada por cerca de 40.000 médicos.

Com as interações dos médicos na plataforma, a equipe da startup consegue acompanhar as demandas desses profissionais e atencipar a produção de vídeos e textos. O conteúdo disponibilizado lá é feito pela equipe e pelos próprios membros do site, que estão dispostos a colaborar com informações sobre as áreas do conhecimento que dominam.

Mercês afirma que foi a partir da observação da comunidade que a empresa percebeu, por exemplo, que havia um desbalanceamento na vida financeira do estudante de medicina no Brasil. Por isso, a startup criou um produto de crédito específico para alunos do último ano da faculdade e residentes de primeiro ano. 

A empresa dá uma mesada de 1.000 reais por mês aos alunos. Os pagamentos só precisam começar a ser feitos seis meses depois da formatura, e podem ser feitos em até 24 meses, com taxa de juros de 2% ao mês. “Não precisa ter garantia, o comprovante de estudo, a performance do currículo e o comportamento na base é que são usados para conceder o empréstimo”, diz o presidente. 

Desafios futuros

A empresa projetava crescimento de 2,5 vezes para 2020, repetindo a taxa alcançada em 2019. Com o coronavírus, o cenário mudou. Por enquanto, o faturamento da companhia foi afetado em cerca de 20% a 30% em relação ao plano original. A empresa também reduziu os planos de contratar mais 150 pessoas para sua equipe, que atualmente tem 200 funcionários. 

Mercês diz que a companhia reduziu investimentos de longo prazo e custos, mas está otimista com os próximos meses. “A Sanar acabou de passar por uma captação e o setor não foi tão afetado pela crise. Estamos ganhando tempo para ter mais informações antes de redirecionar o plano”, afirma. 

Os desafios para a empresa agora, além da pandemia, são conseguir evoluir os seus produtos no tempo necessário para atender as demandas do mercado. Além das editoras de livros, a startup compete com empresas como Pebmed e MedGrupo. Ter uma tecnologia de ponta pode ser o fator que vai diferenciar a Sanar no setor. 

Acompanhe tudo sobre:empresas-de-tecnologiaFundos de investimentoInvestimentos de empresasStartups

Mais de PME

ROI: o que é o indicador que mede o retorno sobre investimento nas empresas?

Qual é o significado de preço e como adicionar valor em cima de um produto?

O que é CNAE e como identificar o mais adequado para a sua empresa?

Design thinking: o que é a metodologia que coloca o usuário em primeiro lugar