RODRIGO BARROS: presidente da rede acredita que o nível de consciência do brasileiro por ter uma alimentação de mais qualidade irá aumentar nos próximos anos / Divulgação
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2019 às 08h00.
Última atualização em 3 de agosto de 2019 às 08h00.
O brasileiro quer comer melhor — e já há negócios aproveitando esse desejo. Oito a cada dez brasileiros se esforçam para ter uma alimentação equilibrada, e sete a cada dez preferem produtos mais saudáveis, como mostra pesquisa divulgada em 2018 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Indo ao encontro desta demanda está a rede de franquias Boali, que tem como projeto ambicioso universalizar o acesso à alimentação saudável no país. Com 30 unidades em operação, a marca faturou 35 milhões de reais no último ano. Nos próximos meses, espera chegar a 42 quiosques e lojas e faturar 45 milhões de reais.
A rede foi trazida dos Estados Unidos para o Brasil em 2008 pelos sócios Victor Giansante e Fernando Bueno, colegas de faculdade que decidiram empreender pouco tempo após trabalhar em empresas de consultoria e de análise de crédito.
Na época, a operação era chamada de Salad Creations. Diferentemente do que o nome anterior sugeria, os restaurantes da marca oferecem produtos saudáveis que vão além da tradicional pista de saladas. Há opções de bowls com quinoa, macarrão integral, grelhados e falafel. O cardápio também tem uma linha de wraps, servidos quentes ou frescos, além de opções de chás, sucos e sobremesas.
No final de 2013, o empreendedor Rodrigo Barros entrou para o negócio, ainda enquanto morava no Vale do Silício (Estados Unidos), onde fundou uma plataforma de conteúdo digital. Juntos, os três sócios compraram as franquias brasileiras do grupo norte-americano e fizeram a transição para a marca Boali.
A adoção de um nome mais brasileiro ajudou na expansão da Boali. Hoje, a rede tem 30 unidades operando em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Brasília, Bahia, Alagoas, Pernambuco e Ceará e pretende terminar 2019 com 42. Barros assumiu a presidência em julho, quando Giansante migrou para a diretoria de expansão, e espera que a empresa cresça 29% este ano, 44% em 2020 e 59% em 2021.
Para ele, a aceleração do crescimento vai acontecer gradativamente com o aumento “do nível de consciência do brasileiro por ter uma alimentação de mais qualidade”. Em 2018, a rede faturou 35 milhões de reais e, em 2019, o presidente projeta um faturamento total de 45 milhões.
No próximo ano, a meta é complexa: organicamente dobrar de 42 unidades no final de 2019 para 80 em 2020, quando projeta faturar 65 milhões de reais. Em paralelo, a Boali se organiza para adquirir pelo menos três redes menores do setor, com quatro ou cinco unidades cada, para facilitar sua entrada em regiões do Brasil em que ainda não atua, o que resultaria em um total de cerca de 120 lojas. A empresa está em busca de um investimento entre 15 a 45 milhões de reais para concretizar as aquisições e expansões.
A Boali tem diferentes modelos para quem quiser ser um franqueado. Em média, as unidades têm faturamento mensal de 135 mil reais e margem de lucro de 12% a 15%.
O que requer menor investimento hoje são as dark kitchens (“cozinhas escuras”), que existem somente para atender a demanda de aplicativos de delivery e custam 80 mil reais. Em cerca de 18 meses, o investimento inicial é recuperado.
Depois, há os quiosques de shopping, com investimento de 180 a 200 mil reais, que demoram de 18 a 24 meses para se pagar. O modelo corporativo, instalado em prédios comerciais de São Paulo, custa 350 mil. Em média, o franqueado precisa de 24 a 36 meses para recuperar o investimento. Já o tradicional restaurante de shopping custa 400 mil reais e o payback leva de 30 a 36 meses. As lojas de rua são as mais caras e o franqueado precisa desembolsar de 500 a 550 mil reais e esperar 36 meses para ter o retorno. Fora o valor inicial, as unidades precisam repassar 6% do faturamento para a matriz em royalties.
Depois que o franqueado decide ter uma loja da Boali, leva de 90 a 150 dias para a unidade começar a operar. O processo envolve negociar um ponto de instalação, fazer uma obra de 45 dias em média e treinar os novos funcionários.
O franqueado tem que passar uma semana na loja própria da Boali em São Paulo aprendendo sobre o negócio. Na semana seguinte, uma equipe de implantação vai até a nova unidade treinar os trabalhadores antes das vendas começarem. Por fim, na primeira semana aberta ao público, uma consultoria de campo fica na loja acompanhando a operação.
Quando a unidade da Boali já está instalada, a central fornece os produtos necessários e monitora mensalmente as lojas para garantir qualidade e padrão. Ana Maura Werner, gerente de marketing e operações da rede, afirma que a Boali envia semanalmente vídeos curtos para ajudar no treinamento contínuo de funcionários. Neles, há dicas relembrando como é o processos de preparo dos alimentos ou indicando comportamentos inadequados, como lixar as unhas enquanto atende um consumidor.
O momento parece propício para apostar no crescimento de franquias de alimentação saudável. O segmento alimentício como um todo representou 26,6% do total de faturamento do franchising brasileiro em 2018.
Um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), feito pela ECD Food Service, mostra que dentro da área de food service, as empresas de alimentação saudável obtiveram a maior alta de faturamento, com 25,92% mais ganhos em 2018 que em 2017.
O segmento deve crescer, em média, 4,41% por ano até 2021 no Brasil, de acordo com a agência de pesquisas Euromonitor International. O país hoje é o quarto maior mercado do setor e movimenta, por ano, cerca de 35 bilhões de dólares.
Segundo Lyana Bittencourt, da consultoria empresarial em franchising Grupo Bittencourt, todo o mercado de bem estar e cuidados com a saúde tem estado em alta — e não só no Brasil. “O consumidor tem olhado mais para essa frente e estimulado as redes a atender este mercado.”
O desafio é que a alimentação saudável ainda está ligada a classes mais altas, aponta Lyana. De acordo com a consultora, um tíquete médio de 35 reais, como o da Boali, ainda afasta as classes B e C. “Para quem tem baixas condições, qualquer alimento é alimento. A massa de brasileiros que ainda se sub alimentam é muito grande”.
Rodrigo, presidente da rede, afirma que a Boali sempre tenta ser o mais saudável da forma mais democrática possível. “Não estamos só nos Jardins [bairro de alto padrão na cidade de São Paulo], mas pensamos em aprofundar a presença em regiões como Centro-oeste e Nordeste e ganhar capilaridade. Entendemos o papel social que temos”, afirma.
Disputam com a Boali o mercado de franquias saudáveis marcas como Seletti, Porto do Sabor e DNA Natural. Para Lyana, a chave do sucesso para as redes saudáveis seria deixar o produto mais acessível. Ela afirma que fundos de investimento de private equity querem investir no Brasil, mas não encontram redes grandes o suficiente para fazer o aporte. “O mercado tem muito potencial, mas não existe grandes players, é só uma questão de tempo e escala para essas operações”, diz a consultora.
Para a gerente de marketing e operações Ana Werner, a grande preocupação da Boali ainda está na logística: reduzir o custo e o tempo de entrega para todos os franqueados. “Seria mais barato comprar em escala as massas dos wraps, como uma commodity, mas a qualidade não seria a mesma”, comenta.
O cardápio da rede, muitas vezes, é afetado por questões de infraestrutura brasileira. A dificuldade de encontrar fornecedores que tenham volume para suprir a demanda de todas as lojas não permitiu que a Boali trabalhasse só com saladas orgânicas, por exemplo. “Nós testamos novos ingredientes e depois vamos checar a capacidade de fornecer para todo o país. Tomate cereja, por exemplo, não conseguimos usar porque o Nordeste não produz agora, em época de chuvas”, comenta Ana.
Agora, a empresa está otimista de que os planos de privatizações do governo federal e o investimento prometido em infraestrutura irão melhorar as condições logísticas e trarão mais eficiência para os negócios.
“A gente tem expectativa de que a reforma da previdência traga estabilidade jurídica e econômica. Depois, a reforma tributária deve nos ajudar muito. Os diferentes impostos cobrados em cada estado são um dos grandes desafios de uma rede nacional. Há muita ineficiência fiscal e com certeza a reforma vai melhorar isso”, opina Rodrigo.
Resta saber se essas mudanças na macroeconomia farão os brasileiros desembolsar mais em troca de uma alimentação saudável. Para a Boali, esse novo e crescente comportamento será essencial para seus planos de expansão.