Cafeteria em São Paulo: comércio se prepara para reabrir as portas ao público (Leandro Fonseca/Exame)
Juliana Estigarribia
Publicado em 2 de junho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 2 de junho de 2020 às 08h13.
A maioria das cidades brasileiras está trabalhando na reabertura gradual do comércio em meio ao combate ao novo coronavírus. Porém, a falta de informações claras ainda tem gerado apreensão e, enquanto isso, principalmente os pequenos empreendedores estão se virando como podem.
A pizzaria Tratto, de Campinas, região sudeste do estado de São Paulo, planejava sua inauguração justamente para o início da crise do coronavírus no Brasil. Com a pandemia, a casa acabou ficando fechada até a semana passada, quando passou a atender somente por delivery.
“O faturamento diário com o delivery é cerca de 70% menor do que estimávamos arrecadar com o salão aberto. É uma medida para sobreviver à pandemia”, diz João Aversa, sócio do empreendimento.
Para não ficar parada na crise, a empresa desenvolveu um kit com massa e ingredientes embalados separadamente para que o cliente possa preparar a pizza em casa, além de uma indicação de playlist da pizzaria no Spotify, com músicas que tocariam no salão.
“Resolvemos entregar um pouco de experiência na casa do cliente. Se entrássemos no delivery convencional, teríamos de competir com pizzarias de público fiel. Por isso, decidimos entrar com esse modelo que ainda é pouco difundido no Brasil.”
De acordo com Aversa, a Tratto precisou adiar o início do sistema de entregas porque os sócios tiveram que pagar dívidas de fornecedores. “No início, tínhamos planejado uma reserva de 3 meses de capital de giro, mas com a pandemia não tivemos receita e não conseguimos abrir nem para delivery.”
Agora, com a autorização municipal para reabertura do salão no horário do almoço (em um primeiro momento, para evitar grandes aglomerações) a partir da semana que vem, em Campinas, a pizzaria está avaliando criar um cardápio para o brunch - período entre o café da manhã e o almoço - com receitas especiais de pães para servir com café, além do delivery de pizzas à noite, de quinta-feira a domingo.
Na primeira fase, a expectativa é usar somente 30% do salão, com espaçamento mínimo entre as mesas, conforme regras municipais de reabertura. Além disso, os funcionários deverão usar máscaras, luvas e o álcool em gel estará disponível por todo o restaurante.
“Temos uma equipe bastante enxuta e vamos reabrir de forma muito cautelosa. Estamos testando pequeno para errar pequeno”, diz Aversa.
A loja de brownies artesanais Browneria To Go, de Florianópolis, Santa Catarina, está operando parcialmente aberta. Além do delivery, as duas unidades da empresa - uma na capital catarinense e outra no centro de São Paulo - estão funcionando apenas com uma porta aberta, mas os clientes têm que fazer o pedido da calçada e pagam somente por cartão.
“A crise foi um estrago para nós em Florianópolis e, em São Paulo, estamos conseguindo ao menos sobreviver, porque já tínhamos todo o sistema de delivery estruturado antes da pandemia”, afirma Francisco Veiga Salgado, sócio-proprietário da empresa.
A Browneria To Go vendia, em média, 1.800 unidades por dia antes do coronavírus. Agora, esse volume caiu pela metade. Segundo Salgado, um dos desafios é o custo do delivery de plataformas como Ifood, Rappi e Uber Eats.
“Os aplicativos de entregas tiram uma margem muito grande, mas neste momento a alternativa é necessária. Hoje estamos sobrevivendo, não dá lucro nem prejuízo.” O empresário afirma que o custo do delivery gira em torno de 30% da transação.
Embora a abertura do comércio já seja uma realidade em Florianópolis e na capital paulista esteja programada para depois do dia 15, a Browneria To Go só deve reabrir plenamente dentro de dois meses.
“Só vamos voltar a funcionar de portas abertas quando a equipe se sentir segura e tivermos mais orientações sobre o que deve ser feito para termos o mínimo de risco possível”, diz Salgado.
O estúdio de tatuagem Fabiano Ribeiro, de São José dos Campos, interior de São Paulo, precisou fechar as portas no início de março, logo no começo da pandemia no Brasil.
“A receita do estúdio caiu para zero do dia para noite”, afirma Ribeiro, que trabalha sozinho. Ele precisou recorrer às suas economias para continuar pagando aluguel, internet e o mínimo das contas de luz e água do estúdio.
Para se sustentar durante a pandemia, o tatuador reativou um projeto que estava esquecido: passou a produzir, de forma artesanal, pranchas de equilíbrio de madeira. “Anunciei pelo Instagram e logo recebi dezenas de pedidos.”
Ribeiro conta que os estúdios de tatuagens não estão contemplados no decreto municipal de São José, mas ele já está se preparando para reabrir as portas. “Vou ter que descobrir em qual segmento o estúdio se encaixa para saber quando posso reabrir o negócio.”
O empresário relata ainda que alguns fornecedores de materiais saíram do ramo por causa da crise. “Teremos que procurar outros.”
Enquanto isso, Ribeiro sabe que terá custos adicionais para reabrir o estúdio, principalmente com equipamentos de proteção individual (EPIs). Ele terá de usar roupa totalmente descartável para cada atendimento, máscara de acrílico (do tipo face shield), além dos itens que já utilizava, como máscaras cirúrgicas e luvas.
Antes da pandemia, o tatuador costumava atender três clientes por dia. Agora só poderá receber um por dia - sem acompanhantes. “Teremos que readequar todo o estúdio, mas os clientes já estão nos procurando, querendo saber quando poderão voltar."
Para Maria Cibele Crepaldi Affonso, sócia gestora do Costa Tavares Paes Advogados, os empresários terão que se atentar às regras de cada município para reabrir o negócio. Segundo ela, primeiramente os gestores precisarão apresentar protocolos de reabertura para a prefeitura por meio de sua entidade de classe.
Ela destaca, porém, que ainda há uma certa confusão em cidades cujas fronteiras são muito próximas, como acontece na Grande São Paulo. “Muitas vezes, uma rua começa em um município e termina em outro. Ainda não está muito claro como isso vai funcionar na prática.”
Conforme a advogada, a testagem em massa ainda é uma medida extremamente cara e não está disponível em larga escala. “Além disso, o funcionário pode ser testado e se contaminar no dia seguinte.”
Para a empresa
Para os clientes
A especialista alerta que, eventualmente, todas as empresas precisarão voltar às atividades, o que tem gerado preocupação. “É impossível garantir que o coronavírus não irá se espalhar enquanto não tivermos uma vacina. Estes cuidados são apenas para minimizar os riscos de contaminação.”