Grindr: aplicativo reúne 3,3 milhões de usuários ativos todos os dias (Leon Neal/Getty Images)
Mariana Fonseca
Publicado em 30 de março de 2019 às 08h00.
Última atualização em 30 de março de 2019 às 08h00.
O Grindr, espécie de Tinder para o público LGBT, está procurando dar match com novos donos. A explicação, porém, passa longe das mais vistas no mercado. A venda foi causada pela pressão dos Estados Unidos, que acusam a dona do Grindr de representar um “risco à segurança do país”.
Fundado na Califórnia (Estados Unidos) em 2009, o Grindr possui um exército de 3,3 milhões de usuários ativos diariamente, segundo dados do começo do ano passado. Tais números ainda são pequenos perto da população mundial LGBT, estimada em 500 milhões de habitantes. Mesmo estando em menor número, os solteiros LGBTs usam aplicativos de encontro duas vezes mais do que heterossexuais -- o que explica os bons números do Grindr. Segundo a empresa de pesquisas LGBT Capital, o poder de compra dos LGBTs é estimado em 3,6 trilhões de dólares por ano.
Não faz nem um ano que o aplicativo para encontros entre bissexuais, gays, lésbicas, transgêneros e transexuais foi adquirido pelo grupo chinês Kunlun. A empresa segue a tática do país de se espalhar por diversas verticais, como jogos, internet e serviços financeiros – é também dona de uma participação minoritária do navegador Opera, por exemplo. O Kunlun fechou em janeiro do ano passado a compra de 60% do Grindr, por 245 milhões de dólares.
O Comitê de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos (na sigla original, CFIUS) determinou que o aplicativo ser de propriedade chinesa seria “um risco à segurança nacional”. A decisão veio de preocupações com proteção de dados pessoais, de acordo com a Reuters.
Não é de hoje que o Grindr é alvo de preocupações com a proteção de dados pessoais. Em 2016, uma pesquisa demonstrou que hackers poderiam descobrir a exata localização de quem usa o aplicativo. Dois anos depois, descobriu-se que essas informações geográficas eram compartilhadas com um aplicativo terceiro, que teve acesso sem autorização à API do Grindr.
Também em 2018, o Grindr envolveu-se em um escândalo de compartilhar com terceiros a contaminação ou não de seus usuários pelo vírus HIV -- a empresa afirma que não divulga mais tal informação. No Grindr, é possível inserir informações como resultados positivos e negativos para o vírus, tratamentos realizados e até a data do último exame.
Por fim, o app de encontros estava na lista de aplicativos que enviavam dados ao Facebook, envolvido em diversos questionamentos sobre proteção de dados pessoais.
Por outro lado, o CFIUS possui um histórico contra aquisições chinesas. O comitê bloqueou anteriormente a compra da MoneyGram International, de transferências bancárias, pela gigante Alibaba. O escrutínio aumentou com escândalos recentes, quando a também chinesa Huawei foi proibida de instalar seu 5G em território americano por conta de possíveis espionagens. As decisões ocorrem em um ambiente macroeconômico de tensões comerciais entre China e Estados Unidos, que vão do protecionismo às acusações de roubo de propriedade intelectual.
Agora, o Kunlun procura quem compre o Grindr. A decisão vem meses após rumores de que o grupo chinês estaria preparando uma oferta pública inicial de ações para o Grindr, após três anos de resultados no azul. Os planos de IPO foram mudados para o de vendas. De acordo com o TechCrunch, concorrentes e grupos de investimento estariam de olho no Grindr -- e no potencial do mercado LGBT.