Sei Shiroma, imigrante de Nova York que possui uma pizzaria no Rio de Janeiro: “ainda estou me recuperando emocionalmente” (Eduardo Zappia/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2015 às 21h54.
Sei Shiroma é, francamente, um agente minúsculo na economia de US$ 2 trilhões do Brasil.
Aos 29 anos, o imigrante de Nova York tem uma pizzaria no térreo de um antigo edifício de apartamentos perto do centro do Rio de Janeiro.
Quando lotado, o lugar tem capacidade para umas 10 pessoas.
Mas a saga de Shiroma como aspirante a empreendedor e a amargura que essa experiência instilou nele destacam um dos piores males que acometem a maior economia da América Latina.
Abrir – e depois administrar – um negócio no Brasil pode ser extremamente doloroso.
Shiroma se refere aos meses que dedicou no ano passado a supervisionar a construção e rastrear os documentos necessários para abrir o restaurante como a pior época de sua vida.
E profere uma condenação: quando expandir seus negócios, pode ir para algum lugar da Europa antes de tentar abrir outra pizzaria no Brasil.
“Ainda estou me recuperando emocionalmente”, disse Shiroma.
Embora a longa queda do Brasil na pior recessão em 25 anos tenha inúmeras causas de alto nível – da crescente dívida federal ao escândalo que está paralisando o setor petroleiro –, a incapacidade do governo para desemaranhar essa confusão burocrática também é um fator relevante que dificulta o investimento.
Essa é uma das diversas reformas que o país deixou de fazer durante os anos de prosperidade da última década, quando o aumento dos preços das commodities exportadas cobriram os buracos da economia.
Na lista “Doing Business 2015”, do Banco Mundial, o Brasil fica em 120º lugar, entre 189 países. Isso significa que ele está atrás de países como Nicarágua, Suazilândia e Líbano. Leva 103 dias abrir um negócio em São Paulo, mostra o estudo. Na Cidade do México, são seis dias. Quatro em Nova York. Obter um alvará de construção, por sua vez, pode levar 400 dias em São Paulo, mais que o quádruplo do tempo de espera na Cidade do México e em Nova York.
Preço da burocracia
Essa burocracia tem seu preço: em 2013, o investimento equivaleu a apenas 18 por cento do PIB do Brasil, a menor proporção entre as maiores economias em desenvolvimento e menos da metade do valor na China, de acordo com o Banco Mundial.
Apesar de ser muito ruim atualmente, a burocracia já foi pior. Uma reforma de 2006 possibilitou que as pequenas empresas paguem seus impostos com um único formulário.
E, embora o número de procedimentos para começar um novo negócio esteja entre os mais altos dos chamados países do G20, está ficando mais barato, e o custo agora está abaixo da média do grupo, disse a empresa de consultoria Ernst Young LLP em um relatório de 2013.
Shiroma disse que sentiu um grande alívio no dia em que deu as boas-vindas aos primeiros clientes de seu restaurante. “Gratificante é pouco”, disse ele. “Eu quase que não queria viver durante a construção”.