Toda oportunidade começa com o que o cliente quer comprar e não com o que você quer vender (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - Confundir os problemas da empresa com os próprios é muito comum nos pequenos empreendimentos. Para o professor da London Business School, Rupert Merson, esse é um dos motivos que impede o crescimento. "A chave para crescer é reconhecer a mudança, antecipá-la e reagir de acordo com isso", diz.
Autor de diversos livros, Merson é especialista em auxiliar empresas que tem problemas com o desenvolvimento organizacional, governança, estratégias e gestão de pessoas. Nos dias 29 e 30 de abril, o especialista veio ao Brasil ministrar um curso sobre como aprimorar o crescimento das empresas, em Brasília.
Em entrevista exclusiva ao site Exame, ele fala sobre a identificação dos problemas no crescimento do seu negócio e a importância de manter-se sempre atualizado no mercado.
EXAME - Você veio ao país dar um curso sobre como fazer um negócio crescer. Qual a importância dos empresários se manterem atualizados sobre crescimento?
Rupert Merson - Os pequenos empresários normalmente dizem que não podem financiar o treinamento e a educação de sua equipe. Mas, em um mundo competitivo, eles podem pagar por não treiná-los?
O que vale para os funcionários de escalão mais baixo vale também para líderes e empresários. Muitas pessoas que estão no comando de uma empresa argumentam que não tiveram tempo para educar ou treinar, e muitas se arrependem de não ter oferecido treinamento suficiente. Mas não é verdade. Esse aprendizado ininterrupto é um clichê no mundo de hoje. Os funcionários mais novos sempre podem aprender entre si e com os mais experientes. Mas ser chefe pode ser um trabalho muito solitário e os cursos podem ser uma fonte de idéias e experiências que ele não seria capaz de encontrar de outras formas.
EXAME - Assim como na vida, quais os principais problemas que aparecem com o crescimento de uma empresa?
Merson - Esta é uma pergunta pequena para uma resposta enorme. No coração desta resposta precisa estar o reconhecimento de que sucesso traz crescimento e crescimento traz mudanças. Pequenas empresas não são versões reduzidas de grandes empresas - seus problemas não são menores, mas de natureza diferente. À medida que as companhias crescem, ocorrem mudanças na agenda da gestão, nas demandas dos consumidores, no meio competitivo e, é claro, nas pessoas. No fundo, nada muda mais que o papel do fundador. Cursos e treinamentos vão mostrar a ele que muitos dos problemas pelos quais está passando já foram enfrentados por outros que cometeram os mesmo erros. E é possível aprender com eles. A chave para crescer é reconhecer a mudança, antecipá-la e reagir de acordo com isso.
<hr> <p class="pagina"><strong>EXAME -</strong> Como identificar as oportunidades de crescimento?<br><br><strong>Merson - </strong>Toda oportunidade começa com o que o cliente quer comprar e não com o que você quer vender. Empresas de sucesso crescem antecipando e reagindo às mudanças de necessidade de seus atuais e novos consumidores. Elas reconhecem que o mercado nunca permanece o mesmo: o próximo competidor é mais perigoso do que o atual e com o crescimento você descobre novos concorrentes. Companhias interessadas em novas oportunidades fornecem chances para ouvir seus clientes e prestar atenção no seus concorrentes. Portanto, inovação é essencial, mas é preciso manter um pé enraizado naquilo que fez da sua empresa um sucesso.<br><br><strong>EXAME - </strong>Na hora de corrigir os problemas de uma pequena empresa, existem diferenças na gestão entre um negócio familiar e sócios profissionais?<br><br><strong>Merson -</strong> Negócios familiares são normalmente gerenciados pelo dono. Assim como os sócios profissionais. Eles vivenciam os mesmos problemas causados pela tensão entre a propriedade da empresa e a gestão de negócios. Por outro lado, as empresas familiares tem questões adicionais criadas pela presença da família, que traz tanto força quanto fraqueza aos negócios.<br>Entretanto, são benéficas para ambos uma administração e uma estrutura de tomada de decisões que sejam independentes das questões pessoais do dono. Para isso, não é preciso ter uma comissão executiva complexa.<br><br><strong>EXAME -</strong> Em seu último livro, Rules are not enough: the art of governance in the real world (Regras não são suficientes: a arte da governança no mundo real, em tradução livre), você fala sobre como a crise obrigou as empresas e os países a lidarem com a questão da governança. Você acha que é possível aprender essa lição sem dor?<br><br><strong>Merson - </strong>Sim, é possível aprender a lição da importância de uma boa gestão com tranquilidade. É uma pena que as companhias - e também os países - tenham que, repetidamente, aprender do modo mais difícil. Uma empresa que leva a gestão a sério vai tomar decisões que serão mais interessantes no longo prazo, a um círculo maior de envolvidos. Nos últimos tempos, esse é o tipo de atitude que beneficia a todos. </p>