Buenos Aires: apoio aos empreendedores é uma das prioridades do governo da cidade (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de abril de 2015 às 12h23.
São Paulo - Durante o Congresso Global do Empreendedorismo, em março passado, a capital argentina foi eleita a cidade do empreendedorismo global.
Quinze anos atrás, isso não era nem um sonho. Para entender melhor tudo o que mudou em Buenos Aires nesses anos e, principalmente, o que o governo local fez para alcançar esse resultado, entrevistamos Mariano Mayer, diretor-geral da agência governamental Buenos Aires Empreende.
Mariano destacou a importância de encarar o empreendedor como agente de mudança e de se articular com outras oganizações do setor público e privado.
Hoje, o apoio aos empreendedores é uma das prioridades do governo de Buenos Aires e dezenas de milhares de pessoas já foram impactadas.
Exemplos de como melhorar o ambiente empreendedor das cidades brasileiras não faltam, agora podemos começar a transformá-las!
Por que o Governo de Buenos Aires decidiu investir esforços na promoção do empreendedorismo?
Mariano Mayer - Estamos convencidos que o empreendedorsimo tem um papel central na geração de riqueza e emprego para a cidade e o país. As políticas que criamos têm uma visão ampla do empreendedor como agente de mudanças e criador de valor econônomico, social e ambiental em qualquer lugar. É com esse foco que criamos nosso Plano de Apoio a Empreendedores.
E quais são as principais iniciativas da cidade nesse sentido? No que elas se diferenciam dos programas de outros governos?
Mariano Mayer - Mesmo antes da administração atual, a Prefeitura de Buenos Aires tinha diversos programas para empreendedores. Parte do Plano de Apoio, lançado no final de 2013, uniu essas iniciativas e as que criamos na nova gestão em três principais eixos de gestão: capital humano, desenvolvimento da comunidade empreendedora e acesso a financiamento.
Já é possível colher resultados das iniciativas?
Mariano Mayer - Em menos de um ano, conseguimos dar sentido estratégico às políticas de promoção ao empreendedorismo, consolidando e alinhando a comunidade empreendedora e o governo local nesse sentido.
Hoje, o apoio aos empreendedores é uma das prioridades do nosso governo. E a colaboração de todo o ecossistema local explica, em grande parte, o prêmio que Buenos Aires ganhou no Global Cities Challenge, em março passado. Também podemos citar, entre os resultados mais importantes, que:
- Capacitamos mais de 10.000 pessoas com educação empreendedora, técnicas de modelos de negócios e metodologias ágeis de solução de problemas na Academia Buenos Aires Empreende. Esses cursos foram feitos não só nos espaços originalmente previstos, como também em escolas públicas da cidade, empresas, organismos públicos e bairros informais;
- Organizamos eventos e encontros para promover a cultura empreendedora, em que participaram mais de 20.000 pessoas;
- Co-investimos, junto a 4 aceleradoras, em 7 empresas;
- “Digitalizamos” o ecossistema empreendedor de Buenos Aires no Mapa Empreendedor, em que se encontram informações sobre mais de 900 stakeholders da cidade, entre empresas, aceleradoras, incubadoras, coworkings, universidades etc.
O que você sugeriria para os governos das cidades brasileiras que queiram impulsionar o empreendedorismo?
Mariano Mayer - Em primeiro lugar, vale destacar a iniciativa do Governo de Buenos Aires como catalizador do ecossistema local e promotor da coordenação dos distintos setores e atores que fazem parte desse ecossistema.
Tudo isso só foi possível por termos feito um trabalho em colaboração com organizações da sociedade civil, universidades, empresas e organizações internacionais.
Depois, ressalto a articulação da nossa agência, a Buenos Aires Empreende, com outras áreas do Governo da cidade que impactam diretamente as ações de apoio aos empreendedores: as Secretarias de Educação, Fazenda, Emprego e Trabalho, Juventude e Cultura, entre outras.
A Academia Buenos Aires Empreende também colocou a cidade na vanguarda dos programas de capacitação e educação empreendedora. A inovação do programa está na seleção dos professores (todos são empreendedores) e o enfoque pedagógico, que prioriza a experiência teórica ao conhecimento técnico.
Foi importante também ter ampliado o enfoque do empreendedor como agente de mudança e gerador de valor econômico, social e/ou ambiental, que expande as ações da iniciativa pública e impacta muito mais gente, especialmente aqueles que tradicionalmente não estão acostumados a processos criativos e inovadores e os bairros mais vulneráveis da cidade.
Por fim, temos uma preocupação forte com a sustentabilidade das iniciativas públicas a longo prazo, complementando e envolvendo diversas organizações que não só governamentais, criando processos para cada uma delas e métricas que monstrassem os impactos das iniciativas.
Quais os novos objetivos do projeto e os desafios que esperam?
Queremos consolidar as iniciativas, medindo seu impacto e buscando uma escala ainda maior. As nossas métricas são extremamente importantes e são um insumo vital para o desenho de novas políticas púbicas, e por isso criamos o Observatório Empreendedor da cidade, que concentra todas as informações e pesquisas sobre o assunto. Além disso, queremos que todas as mudanças que estão acontecendo em Buenos Aires se espalhem por toda a Argentina.
Isso está acontecendo? Você vê que outras cidades, ou até o Governo Federal, estão se inspirando em Buenos Aires? Como?
Estamos trabalhando ativamente para criar pontes com outras cidades do país, da América do Sul e de todo o mundo. As cidades se consolidaram definitivamente como plataformas de apoio aos empreendedores, e a troca de experiência entre as cidades é a chave. Temos muito o que aprender com os outros, e também muito para mostrar.