Dan Price, CEO da Gravity Payments (Reprodução/Facebook)
Da Redação
Publicado em 17 de agosto de 2015 às 06h00.
São Paulo - Dan Price ficou famoso em todo o mundo esse ano por uma medida fora da curva. O que poderia ter sido diferente?
Três meses atrás, o CEO da Gravity Payments – uma pequena empresa de processamento de pagamentos por cartão de crédito na região de Seattle, nos EUA – mostrou que seus cabelos longos e seu jeitão de boa gente eram sérios.
Em um movimento exótico, Dan Price colocou o próprio salário de quase US$1 milhão na reta e decretou um novo salário mínimo de Us$ 70.000 por ano para cada um dos seus 120 funcionários. A meta é chegar até este objetivo em três anos e a conta, caso fechar, será paga por, além da redução no seu próprio salário, uma redução substancial na distribuição de lucros. Agora, a notícia é de que ele estaria perdendo tanto clientes quanto funcionários.
A notícia gerou um grande barulho na mídia de negócios causando reações de todos os tipos, algumas bem emocionais e reacionárias. Agora a questão é: que resultados podem ser esperados desta ação?
Dan Price é um anjo, um gênio, um idealista, um jogador ou apenas um irresponsável?
Qualquer tentativa de julgar esta ação antes dela gerar resultados (ou não) é apenas fala ideológica. Duvido que alguém tenha capacidade de prever todas as mudanças que isto vai gerar no sistema da Gravity e no ecossistema que ela está inserida.
O que dá para dizer até agora é basicamente isto:
(1) A surpresa da mídia é meio sem sentido. Diversas empresas (principalmente da costa oeste americana) já vêm fazendo experiências de peso em relação a seu modelo de gestão com impactos brutais sobre as premissas normais de autoridade e recompensa. Para quem se interessar por isto, sugiro ler “O Futuro da Administração” do Gary Hamel ou visitar o site oficial sobre holocracia (em inglês). Tem muitas histórias boas. Esta está longe de ser a mais radical. A eliminação do processo de Avaliação de Desempenho pela Accenture, por exemplo, é um tsunami que faz esta experiência parecer uma marola. O Ricardo Semler, aqui no Brasil, já fazia coisas muito mais ousadas 15 anos atrás. Não me lembro de ninguém chamar ele de comunista.
(2) O que me parece é que esta experiência ganhou muita atenção pelos motivos errados. O cara é jovem, cabeludo, mora em Seattle (que tem uma pecha meio hippie, meio grunge), e tem uma fala idealista. Parece uma coisa meio socialista e isto dispara alarmes no sistema. E fica ótimo na TV aberta. Perfeito para criar debates histriônicos nas redes sociais…
(3) A ideia não é ruim. Nem revolucionária. Reduzir a diferença salarial entre o topo e a base da pirâmide é uma tendência antiga. Ele apenas subiu o piso – não eliminou as diferenças. Isto não é nem justo nem injusto. Se isto criou sensação de injustiça entre esforço e remuneração, é porque este problema já estava lá – a medida apenas o evidenciou.
(4) O Dan é péssimo de Change Management (Gestão de Mudanças). Qualquer executivo decente teria pensado dez vezes em como comunicar esta mudança aos vários stakeholders e em como lidar com as reações (esperadas!) deles. E não acredite que foi uma coisa espontânea e ingênua. No evento onde ele comunica a mudança aos funcionários, tinha pelo menos duas câmeras ligadas – uma com foco no rosto dos funcionários para captar sua reação na hora da surpresa. Ele contava com a viralização e a publicidade gratuita que ele ia receber. Acha que eu estou exagerando? Veja o vídeo aqui (em inglês) e tire suas próprias conclusões.
Enfim, ele se deu mal. A atenção excessiva da mídia colocou a Gravity no spotlight da forma errada e ele agora vai ter que gastar uma tonelada de tempo gerindo a crise de comunicação que ele mesmo criou com uma ação atrapalhada e de impacto estratégico duvidoso. Tempo este que seria muito mais útil gerindo o negócio, vendendo, cuidando de cliente, inovando…
Quer entrar mais a fundo? A Entrepreneur acabou de publicar esse artigo aqui sobre o que Dan deveria ter considerado antes da decisão.