Helena: "Em 2012, vamos dar emprego a mais de 43.000 profissionais" (Daniela Toviansky)
Da Redação
Publicado em 27 de novembro de 2012 às 05h00.
São Paulo - A psicóloga goiana Helena Machado Ribeiro, de 53 anos, costuma ligar para as centrais de atendimento de algumas das principais operadoras de telefonia do país de tempos em tempos — mesmo sem ter nenhuma reclamação a fazer. Ela é a fundadora do Grupo Empreza, de Goiânia, que presta serviços de RH, como seleção e contratação, gerenciamento de programas de trainees e terceirização de mão de obra.
Para companhias telefônicas, como a Oi e a Vivo, o Grupo Empreza fornece mão de obra para as áreas administrativas e os call centers. "Em alguns casos, as empresas nos pagam de acordo com o desempenho de nossos funcionários", diz Helena. "Por isso, gosto de ligar para as centrais de atendimento ao consumidor para ver se o pessoal está trabalhando direitinho".
Neste depoimento a Exame PME, Helena conta como construiu o negócio, que hoje também atua na área de educação superior, e deve fechar 2012 com faturamento superior a 320 milhões de reais.
Nasci em Rio Verde, no interior de Goiás. Quando completei 3 anos de idade, minha família se mudou para Petrópolis, no Rio de Janeiro, onde meu pai abriu um mercadinho. Seis anos depois, ele morreu. Ficamos mais dois anos por lá. Então, minha mãe decidiu voltar a Goiás para morar mais perto dos familiares. Acabamos nos estabelecendo em Goiânia, onde passei minha juventude. Aos 18 anos, comecei a cursar psicologia.
Nunca fui tímida e sempre persegui meus objetivos. Ainda durante a faculdade, iniciei um estágio no principal jornal de Goiânia. A empresa tinha mais de 1.000 funcionários, e meu trabalho era fazer o mapeamento do perfil de cada cargo. Gostei da experiência e tive a certeza de que gostaria de trabalhar com recursos humanos.
Logo depois de me formar, aos 23 anos, fui contratada para ser coordenadora de RH numa empresa de tecnologia e informática. No começo dos anos 80, era difícil encontrar profissionais na área de tecnologia. O jeito era treinar profissionais muito jovens lá mesmo, na empresa. Montei uma espécie de escola-modelo, onde formávamos digitadores, programadores e técnicos em análise de sistemas.
Em 1986, começaram a construir um hotel sofisticado numa área nobre de Goiânia. Antes mesmo de acabarem as obras, os donos do empreendimento começaram a buscar alguém para cuidar do treinamento dos funcionários. Concorri à vaga e fui escolhida entre mais de 30 candidatos.
Enquanto trabalhava no hotel, fiz pós-graduação em gestão de recursos humanos na Fundação Getulio Vargas (FGV) de Brasília. Para fazer meu projeto final de curso, entrevistei donos e gerentes de hotéis de luxo do Brasil inteiro para saber como seus funcionários eram treinados. Acabei desenvolvendo um modelo de gestão de recursos humanos para o setor hoteleiro. Foi depois de concluir a pós-graduação que tive a ideia de criar uma empresa para gerenciar a área de RH de clientes corporativos, especialmente de hotéis.
Tinha 29 anos quando criei o Grupo Empreza. Muita gente me pergunta por que Empreza se escreve com a letra Z, e não com S, como é o correto. O Z veio de Zapp!, um livro sobre motivação de pessoas de bastante sucesso entre os profissionais de RH nas décadas de 80 e 90. Meus primeiros clientes foram as duas empresas onde trabalhei antes de montar meu próprio negócio.
No começo do anos 90, precisei contratar um gerente de serviços para um hotel. Entrevistei vários candidatos — entre eles o Luiz Antônio, que ficou com o emprego. Ele trabalhou no hotel por um tempo. Conversávamos frequentemente, e aconteceu de nos apaixonarmos.
Em 1994, assumimos o namoro e o chamei para ser meu sócio no Grupo Empreza. Antes de conhecê-lo, eu havia sido casada por oito anos e tinha um filho pequeno, o João Pedro. Pouco tempo depois, nós nos casamos e tivemos uma filha, a Isadora. Luiz Antônio também vinha de um primeiro casamento e trouxe para nossa casa seus outros dois filhos, que considero como se fossem meus também.
Nos primeiros anos do Grupo Empreza, havia muitos hotéis de luxo sendo construídos no Centro-Oeste do Brasil. A região estava crescendo, impulsionada pelo agronegócio. Vários desses novos empreendimentos foram meus clientes, para os quais contratei e treinei os primeiros funcionários.
No fim dos anos 90, entrei num novo mercado ao conquistar minha primeira grande conta de terceirização de mão de obra. Era para a Brasil Telecom, que precisava contratar pessoal para seu call center, mas não queria assumir essas pessoas como funcionárias. Então, quem as contratava era a minha empresa.
Hoje, a terceirização de mão de obra é um de meus maiores negócios. Contrato muitos funcionários temporários para trabalhar em clientes do varejo em épocas de grande movimento, como as semanas que antecedem o Natal. Em certos períodos do ano, tenho empregados trabalhando até na colheita de cana-de-açúcar. Em 2012, o Grupo Empreza deve empregar cerca de 43 000 pessoas.
No fim da década de 90, procurei a FGV para trazer para Goiás os cursos de MBA da instituição. Eles não tiveram interesse porque, naquela época, julgavam que a unidade de Brasília já atendia a demanda de nossa região. Por isso, eu mesma busquei bons professores e montei alguns cursos de pós-graduação para executivos, que comecei a oferecer em parceria com a PUC de Goiás.
Quando os cursos que eu oferecia começaram a fazer sucesso, a FGV percebeu que havia um mercado em Goiânia. Para entrar na cidade, eles fizeram um acordo com um investidor da área de educação que já atuava no Nordeste. Não pensei duas vezes: assim que a FGV chegou a Goiânia, marquei uma reunião para oferecer meus serviços de RH.
Fechei contrato para cuidar da área administrativa da FGV e criei vínculos com o parceiro deles em Goiás. Em 2003, fiz uma proposta e ele aceitou vender a operação para mim. Demorou um pouco, mas alcancei mais esse objetivo.
Na pós-graduação, temos hoje 1.600 alunos. Nove turmas já concluíram os cursos de MBA. Em 2006, nós compramos uma faculdade de Goiânia e hoje oferecemos também cursos de graduação. Atualmente, são 350 alunos nos cursos de administração, direito e economia.
No ano passado, os alunos das primeiras turmas de graduação se formaram. Foi uma emoção muito grande. Minha formação é em RH, mas no fundo minha paixão é por treinar gente. Acredito que meu negócio tem tudo a ver com educação e julgo ser essa a contribuição que posso dar como empreendedora.
Em junho deste ano, assinamos um contrato com a Allegis Group Services, uma empresa americana do nosso setor que mantém contratos globais com grandes clientes, como Microsoft e American Express. A Allegis escolheu o Grupo Empreza para entrar no Brasil. Eles não passaram a fazer parte da composição societária da minha empresa, mas dividiremos os resultados dos contratos que firmarmos juntos daqui para a frente. Espero que uma parceria como essa abra muitas portas.
Meu maior investimento agora é na profissionalização do negócio. Contratei recentemente um time de nove executivos que vieram do mercado. Neste ano, passamos a fazer parte do grupo de empresas listadas no Bovespa Mais, o segmento de mercado da BM&F Bovespa para empresas emergentes. Ainda não sei se vamos abrir o capital, vender um pedaço do grupo ou mesmo adquirir outros negócios. Mas quero estar preparada para qualquer um desses cenários.
Quero chegar a 2020 faturando 1 bilhão de reais. Dei até um nome a esse desafio: é o Projeto Empreza 2020. Vou acompanhá-lo de perto, mas não estarei sozinha. Meu filho, João Pedro, que hoje tem 21 anos, já virou trainee da Empreza e em breve deve passar uma temporada nos Estados Unidos para se inspirar e voltar com novas ideias.
Com reportagem de Christian Miguel