Carro de motorista conveniado da Lyft: bigode de pelúcia cor-de-rosa para identificação (Lyft/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2013 às 06h00.
São Paulo - Os americanos Logan Green e John Zimmer encontraram um jeito de ganhar dinheiro ao cruzar a oferta de assentos vazios em boa parte dos carros que circulam nas grandes cidades com a demanda de habitantes que gostariam de pegar uma carona num deles. A ideia, que faz sentido em teoria, é dificílima de executar, uma vez que os motoristas não sabem que passageiro vai para o mesmo destino e vice-versa.
Os dois sócios juntaram tecnologias móveis que permitem saber quem está onde com um modelo de negócios engenhoso e criaram a Lyft, empresa de São Francisco, nos Estados Unidos, que administra um sistema de caronas pagas. Em seis meses de funcionamento, a Lyft cadastrou mais de 300 motoristas, intermediou 50.000 caronas e conseguiu aportes de mais de 10 milhões de dólares.
O sistema funciona assim: o passageiro se cadastra no banco de dados da Lyft, baixa um aplicativo no celular, fornece seus dados pessoais e o número do cartão de crédito. Quando precisar de uma carona, ele informa à Lyft sua localização e o destino desejado por meio do aplicativo.
A ferramenta mostra a localização dos motoristas mais próximos. O passageiro escolhe qual deles deseja. O aplicativo mostra ao motorista escolhido onde o caronista está. Quando acaba a corrida, o aplicativo sugere um valor a ser doado ao motorista pela carona. O valor é debitado no cartão de crédito do usuário e o motorista recebe 80% do valor. O resto fica com a Lyft.
Nos estudos para avaliar o potencial do mercado da Lyft, Green e Zimmer encontraram estimativas interessantes. Em São Francisco, a segunda cidade mais densamente povoada dos Estados Unidos, há apenas 1.700 táxis. É muito pouco. São quase 4.500 habitantes por táxi. Em Nova York, a primeira cidade mais densamente povoada, há um carro para 630 pessoas.
Se o modelo da Lyft emplacar, há mercado no país todo. A maioria dos automóveis americanos circula com apenas uma pessoa. Nas estradas, 80% dos assentos estão livres. A tendência é aumentar cada vez mais o número de passageiros em potencial. Segundo a ONU, cerca de 200.000 pessoas mudam-se para áreas urbanas a cada dia no mundo todo.
Os sócios começaram vendendo o serviço a universidades, que o oferecem a seus alunos. Hoje, a Lyft já tem como clientes mais de 150 instituições de ensino, além de empresas que se interessaram em oferecer o benefício a seus funcionários.
Para colocar a Lyft em pé, foi necessário romper algumas barreiras. Uma delas foi a segurança. Quem quer andar de carro por aí com um desconhecido? Cada motorista interessado em figurar na lista da Lyft tem seu histórico verificado pelos órgãos de trânsito. A ficha criminal também é checada.
O candidato passa por uma entrevista, seu carro é inspecionado e há ainda uma sessão de 2 horas de treinamento. Ao final, o motorista recebe um enorme bigode de pelúcia cor-de- rosa para ser colocado na frente do capô. "Nossa seleção é mais rigorosa do que a de muitas companhias de táxi", diz Zimmer.
Ao final de cada viagem, o motorista pode dar uma nota ao caronista. Ele é chato? Pagou alguma coisa? Os passageiros também avaliam os motoristas, numa escala que vai de zero a 5. Quem tiver média menor que 4,5 pode ser convidado a se retirar. As notas podem ser consultadas pelos passageiros e pelos motoristas, de forma que os dois lados podem verificar se vale ou não a pena dividir o trajeto com aquela pessoa.
Está dando certo. Há pouco tempo, a Lyft mandou um e-mail para sua comunidade de usuários dizendo que precisaria mudar algumas regras para manter a qualidade do serviço. A empresa organizou uma lista de espera para novos usuários, instituiu uma taxa de 5 dólares para quem chama um carro e desiste e passou a oferecer 100 dólares de crédito a quem indicar um novo motorista. "Como em qualquer mercado novo, é preciso equilibrar a demanda e a oferta o tempo todo", diz Zimmer.
A Lyft não é a única administradora de caronas pagas a atuar em São Francisco. Lançada em junho, depois de vários meses de testes, a SideCar, do empreendedor Sunil Paul, trabalha virtualmente da mesma maneira. Nos dois casos, as caronas saem, em média, 20% menos do que um táxi comum. Há ainda obstáculos pela frente.
Recentemente, os sócios das duas empresas tiveram de dar explicações à California Public Utilities Commission (CPUC), órgão responsável por verificar os serviços utilizados pela população do estado. Em novembro do ano passado, a CPUC multou cada uma em 20.000 dólares por falta de licença para o tipo de serviço que oferecem.
Além das autorizações, a CPUC exige o pagamento de seguro para motoristas e passageiros. As duas empresas negociam com a CPUC para encontrar uma maneira de regularizar seus serviços sem descaracterizá-los.