Centro de distribuição da Total Express em Barueri: investimentos para atender à demanda do comércio eletrônico (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2011 às 07h00.
Na última década, o paulista Pedro Guasti, de 47 anos, tem observado o crescimento do comércio eletrônico no Brasil de um ponto de vista privilegiado. Desde que ajudou a fundar a e-bit, empresa de pesquisa e marketing na internet, em 2001, ele se transformou numa das principais fontes de informação sobre varejo online.
Duas vezes por ano, quando publica um relatório semestral batizado de Webshoppers, distribuído gratuitamente, as estatísticas sobre as vendas online recolhidas pela empresa são tratadas por sites, jornais, revistas e especialistas no setor de tecnologia com importância semelhante à que se dá aos dados da economia real, como os índices de desemprego ou de produção industrial divulgados regularmente pelo IBGE.
"Conheço muitos executivos de grandes companhias de varejo que aguardam nossos relatórios para reajustar o planejamento", diz Guasti.
É um salto e tanto para uma empresa criada praticamente do zero em 2001 por Guasti e três sócios que, como ele, largaram o emprego em instituições financeiras e seguradoras para empreender na internet.
Eles se inspiraram no modelo de negócios de uma empresa americana chamada Bizrate para entrar na cadeia do comércio eletrônico ajudando consumidores e varejistas a compreender melhor o que acontecia nesse mercado.
A lógica, copiada pela e-bit, era atender à necessidade que os clientes tinham de saber quais sites eram mais confiáveis para fazer compras. Ao mesmo tempo, a empresa ajudava os novos varejistas online a compreender melhor o comportamento desses consumidores para planejar suas estratégias na internet.
O modelo ainda é baseado em acordos com sites de comércio eletrônico que apresentam aos consumidores um questionário de avaliação a ser respondido ao final de cada compra. Como incentivo para participar da pesquisa, quem responde ganha créditos para concorrer em sorteios de prêmios — quase sempre pequenos utensílios domésticos, como cafeteiras e fornos microondas.
As lojas mais bem avaliadas recebem um selo de qualidade e um relatório sobre a percepção dos consumidores, que, por sua vez, contam com um aval para evitar lojas picaretas. "O modelo funciona até hoje", diz Guasti. "Não adaptamos praticamente nada ao implantá-lo no Brasil."
Ainda hoje, é desse modelo que vêm as três principais fontes de receita da e-bit. A empresa explora a base de consumidores cadastrados, vendendo as informações para campanhas de marketing na internet. Além disso, a e-bit elabora relatórios mais detalhados sobre o consumidor internauta, encomendados por grandes companhias, como varejistas e instituições financeiras.
Por fim, a empresa obtém receitas com publicidade e comissões sobre a venda de produtos anunciados em seu site. "Para uma loja online, o selo da e-bit é importante para dar segurança ao consumidor", diz Cristiano Rosa, sócio da Grafia, empresa gaúcha que monta sites de comércio eletrônico. "Em média, um site certificado vende 12% mais."
Em 2009, a importância que a e-bit ganhou na cadeia do comércio eletrônico chamou a atenção do empreendedor Romero Rodrigues, fundador do BuscaPé, que começou como um comparador de preços na internet — e evoluiu para um site de comércio eletrônico que reúne de empresas de pesquisa do comportamento do consumidor a sites de pagamento online para tornar as operações de compra e venda mais seguras para os internautas.
O BuscaPé comprou a participação que o Unibanco e a Accor ainda tinham na e-bit, além das ações de Guasti, que passou a ocupar a vice-presidência no grupo. Guasti não revela qual é, hoje, a participação do faturamento da e-bit nos 147 milhões em receitas que o BuscaPé obteve no ano passado.
"É certo que, em receitas, o e-bit não é grande dentro do grupo, até porque o BuscaPé cresceu muito", diz um investidor que conhece a área. "No entanto, seu valor de mercado é inestimável, devido ao tipo de informação exclusiva que gera para o mercado."
Guasti faz parte de uma geração de empreendedores remanescentes da primeira onda de investimentos de tecnologia no Brasil. Ao fundar a e-bit, ele e os sócios tiveram pouco trabalho para captar 2 milhões de dólares de dois grandes investidores — o banco Unibanco e a rede de hotéis Accor — que procuravam oportunidades de investimento na internet.
Pouco depois de a e-bit receber o dinheiro, a primeira bolha da internet estourou, jogando o comércio eletrônico no marasmo. Sem atingir o crescimento esperado, os três sócios de Guasti foram saindo do negócio — ele é o único remanescente. “Foi um período difícil, em que foi necessário encontrar fontes de receitas provisórias”, afirma ele.
A e-bit ganhou importância à medida que o comércio eletrônico se consolidava — fenômeno que a própria empresa ajudou a medir. No ano passado, segundo dados da e-bit, 23,5 milhões de brasileiros gastaram 14,8 bilhões de reais em compras na internet.
Em 2001, quando a e-bit nasceu, pouco mais de 1 milhão de brasileiros fizeram 550 milhões de reais em compras online. "Poucos acreditavam que a e-bit daria certo", diz Guasti.
Hoje em dia o cenário é bem diferente. O mercado tem movimentado os negócios dentro e fora da internet — como o da empresa de logística paulista Total Express, responsável por cerca de 20% das entregas de comércio eletrônico no país.
Em 2010, a Total Express investiu mais de 7 milhões de reais para comprar caminhões, equipamentos e modernizar os sistemas de TI. "Até agora, a e-bit encontrou pouca concorrência", afirma Guasti. "Mas é preciso ficar preparado para a chegada de novos competidores." Um deles pode ser o Ibope, que estaria prestes a lançar um serviço concorrente em sociedade com uma empresa de comércio eletrônico.
Para fazer frente ao desafio, Guasti tem ajudado o BuscaPé numa série de aquisições recentes de empresas que podem complementar o trabalho da e-bit para decifrar o que querem os consumidores, como a eBehavior e a Navegg, que criaram tecnologias para identificar o comportamento deles.
"A palavra de Guasti vale muito nessas negociações", diz Martino Bagini, da empresa de participações Astella, dono de um pedaço da Navegg. "Ele é um executivo que até hoje se comporta como empreendedor."