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Como o Nubank e o VivaReal superaram o jeitinho brasileiro

Três empreendedores estrangeiros contaram sua experiência de gerir negócios no Brasil durante o CEO Summit São Paulo 2016.

CEO Summit São Paulo 2016: empreendedores participam de painel sobre gringos que fazem a diferença no país (Divulgação/Endeavor)

CEO Summit São Paulo 2016: empreendedores participam de painel sobre gringos que fazem a diferença no país (Divulgação/Endeavor)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 19 de outubro de 2016 às 06h00.

Última atualização em 17 de novembro de 2017 às 17h08.

São Paulo – Que os brasileiros enfrentam inúmeras dificuldades na hora de empreender não é segredo. Porém, muitas vezes é apenas uma questão de incentivar uma cultura diferente – e a recompensa é alta, em um mercado que possui pouca concorrência para produtos ou serviços de qualidade.

Quem defende tal posição são pessoas que conhecem bem outros ambientes mais favoráveis ao empreendedorismo: os estrangeiros Brian Requarth (VivaReal), David Vélez (Nubank) e Mate Pencz (Printi).

Os empreendedores contaram sua experiência empresarial no país durante o CEO Summit São Paulo 2016. O evento, organizado por Ernest & Young, Endeavor e Sebrae, reúne empreendedores, investidores e grandes empresários.

Pencz, Requarth e Vélez responderam por que quiseram abrir startups aqui, listaram quais as principais dificuldades encontradas e, por fim, defenderam o potencial de empresas surgirem e se expandirem dentro do país.

Chegada ao país

O colombiano David Vélez, do Nubank, chegou ao país como um investidor em negócios na área de tecnologia. “Porém, logo percebi que há muito mais oportunidades para começar negócios do Brasil do que para investir neles”, conta.

Ele pensou em começar seu negócio nos Estados Unidos, porém notou que tinha mais diferenciais em terras brasileiras. “Os EUA são lugar com muita concorrência, muito investimento e muita gente qualificada. No Brasil, havia diversas oportunidades em diversos setores. Vi que, com o conhecimento e experiência que eu tinha, poderia focar em uma ideia e adquirir uma certa margem de diferenciação”. Assim foi fundado o cartão de crédito digital Nubank, em 2013.

Mate Penzc, que co-fundou a gráfica online Printi em 2012, também cita a menor concorrência brasileira como um diferencial em relação aos Estados Unidos – mesmo em grandes setores.

“Olhamos para diversos mercados regionais na hora de expandir e vimos o grande crescimento que o Brasil apresentava, junto com todos os outros BRICS. Então, pensamos que deveria haver alguma forma de trabalhar para resolver problemas reais nessas regiões, melhorando a qualidade de serviço e a experiência do consumidor”, afirma. “Vimos um grande oceano de oportunidades no Brasil, com uma quantidade limitada de competição.”

Já o americano Brian Requarth, do portal de imóveis VivaReal, começou a tornar o processo de compra e aluguel de imóveis mais transparente na Colômbia. Em 2009, decidiu levar a ideia ao Brasil. “Li um artigo que falava sobre o sucesso do MercadoLivre, e vi quão grande era a receita deles no Brasil. Então, decidi ir ao Brasil por uma questão mais prática mesmo, por ter visto uma oportunidade.”

Oportunidade dentro da dificuldade

Vélez fundou o Nubank após passar por uma experiência “incrível” no Brasil, segundo suas próprias palavras: abrir uma conta corrente no banco. Ligar para um call center, fornecer uma série de dados, ir ao banco, colocar seus pertences em uma caixa, passar pela porta giratória e ser encarado por um guarda como se estivesse prestes a fazer algo errado foi uma surpresa para o empreendedor.

“A experiência de um consumidor em um banco é como a de um criminoso. Por que é tão difícil, tão burocrático abrir uma conta no país em que os clientes pagam as maiores taxas de juro do mundo? Como é possível que alguém pague tantas taxas para ser tratado assim?”, indaga.

“O Nubank surgiu para trazer uma experiência mais simples ao consumidor e cortar essas camadas de burocracia. É interessante porque a oportunidade está dentro justamente daquilo que é difícil.”

Requarth conta que também se sentiu como um criminoso no novo país: após vender seu apartamento para investir tudo o que podia em seu negócio no Brasil, ele passou muito tempo sem poder trabalhar legalmente no país. “Mas é justamente isso, como também disse o Vélez: os desafios trazem a oportunidade. Se não houvesse desafio, todos fariam o mesmo que você.”

Afinal, não dá mesmo para empreender no Brasil?

“No Brasil, não dá para abrir um negócio. Os grandes bancos vão engoli-lo. As taxas e os impostos vão matá-lo. Você é gringo, não sabe como funciona aqui.”

Você já ouviu algo parecido quando disse que queria empreender? Os três empreendedores passaram por essa situação mais de uma vez. Mesmo assim, eles não se abateram – e mostraram como era possível fazer diferente.

Por exemplo: Vélez, do Nubank, ouviu que não conseguiria lidar com o hábito brasileiro de chegar atrasado ao trabalho. “Quando nós começamos nossa empresa e estabelecemos uma cultura de chegar na hora e sair na hora, as pessoas começaram a aparecer no tempo correto”, explica o empreendedor. “Há um certo entendimento inconsciente de como são os brasileiros, mas é preciso entender que nada disso é inato. É uma questão de como você estabelece uma cultura, de como você cria incentivos dentro da sua companhia.”

Da mesma forma, Requarth resolver mudar a tendência brasileira de respeitar a hierarquia a ponto de afundar a empresa. “A hierarquia pode ser muito danosa, porque as pessoas que cuidam da operação falam todo dia com o consumidor e sabem o que eles querem. Você está perdendo uma grande oportunidade se só mandar sua equipe fazer o que você acha certo”, diz o empreendedor.

“O que me chateava era que as pessoas faziam o que eu mandava, mesmo não concordando. Um dos nossos valores é ‘não faça coisas que você julga serem estúpidas’, e nós realmente tivemos de reforçar isso com nossos funcionários. É algo que faz falta no Brasil.”

A recompensa para quem consegue superar as dificuldades iniciais são boas, diante de um mercado carente de bons produtos e serviços em diversos segmentos. “Se você souber superar esse obstáculo inicial, verá um mercado em que é possível fazer muito com pouco, além de uma competição bem menor [do que a vista nos Estados Unidos ou na Europa]”, finaliza Penzc, da Printi.

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