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Negócio de publicidade gera R$ 2,5 milhões em renda nas favelas

Empreendedora criou o Outdoor Social, negócio que leva publicidade para comunidades e paga os moradores para divulgá-la.

Emília Rabello, fundadora do Outdoor Social (Foto/Divulgação)

Emília Rabello, fundadora do Outdoor Social (Foto/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 30 de julho de 2017 às 06h00.

Última atualização em 30 de julho de 2017 às 06h00.

São Paulo – O principal objetivo da maioria das empresas é gerar lucro. No entanto, para alguns negócios, só isso é pouco. É claro que ganhar dinheiro é importante, mas eles também estão preocupados em gerar impacto positivo na vida das pessoas que mais precisam – estamos falando dos negócios sociais.

Esse é o caso do Outdoor Social, negócio criado pela empreendedora Emília Rabello e que já gerou 2,5 milhões de reais em renda para moradores de favelas pelo Brasil. A proposta do negócio é divulgar publicidade em outdoors pelas comunidades como forma de comunicar com a população que vive ali. Os moradores das favelas participam de toda a operação e ganham por isso.

“O mercado publicitário precisa falar com as classes C, D e E, mas investe em empresas estabelecidas de mídia, coloca um anúncio no trem ou numa grande rodovia, por exemplo. Nossa proposta é ir dentro da periferia, valorizar aquele espaço da cidade. A ideia é pegar um pedaço pequeno desse orçamento e colocar na mão do público-alvo, gerando renda e identificação da campanha com essas pessoas”, explica Rabello.

A Outdoor Social gera renda para o morador para usar a fachada de sua casa como vitrine e também para os coordenadores – moradores locais que organizam a campanha, instalam e retiram as placas. Um coordenador ganha em média 5 mil reais por projeto. Já quem cedeu espaço para a placa recebe entre 80 e 100 reais.

“Os moradores são nossa força motriz. E eu entrego 35% do faturamento como geração de renda. Tenho ainda um fundo educacional, que recebe de 5% a 10% do orçamento de uma campanha”, explica Rabello.

Além do ganho financeiro, há uma valorização do espaço, afirma a empreendedora. “É uma população marginalizada que vive em locais de gueto, em que às vezes nem a polícia entra. E a publicidade é um símbolo do capitalismo, da riqueza. A gente leva esse símbolo pra periferia, isso transforma aquele espaço. Se o morador vê uma publicidade na Vila Mariana é uma coisa. Mas se a mensagem está na rua dele é diferente. Ele pensa: ‘essa mensagem é para mim’”, diz.

A empreendedora dá o exemplo de uma campanha nacional feita pela Votorantim e que instalou placas publicitárias somente em casas de pedreiros. “Eles perceberam que o pedreiro é um influenciador na hora de escolher a marca de materiais de construção e tiveram um retorno super positivo, viram aumento nas vendas e renovaram a campanha. ”, lembra.

Além de empresas privadas, o negócio atende diversas campanhas públicas, com mensagens sobre prevenção contra a dengue, inscrições para o Enem ou combate à violência doméstica.

Francisca Gracilia Alcantara dos Santos tem 54 anos e mora na comunidade de Pirambu, em Fortaleza, com as quatro filhas já adultas. Na casa, só Francisca e uma das filhas trabalham e cada uma recebe um salário mínimo por mês. Ela já participou de duas campanhas do Outdoor Social e recebeu 80 reais por cada uma.

“Não é muita coisa, mas ajuda demais. Pago a conta de água ou o gás com esse dinheiro. E foi uma experiência boa, sempre tem gente que para e pergunta sobre a propaganda”, conta.

Francisca dos Santos mora em Fortaleza e já recebeu um,a placa duas vezes

Francisca dos Santos mora em Fortaleza e já recebeu um,a placa duas vezes (Foto)

Meta de 1%

No mercado desde 2012, o Outdoor Social surgiu após uma demanda de um cliente. Emília Rabello, que sempre trabalhou com comunicação, atuava levando mensagens publicitárias para lugares de difícil acesso, usando carro de som ou barco de som, no caso de locais na região amazônica.

Até que um cliente pediu que ela fizesse o serviço em favelas do Rio de Janeiro. A falta de segurança, porém, impediu que o carro de som atuasse nessas comunidades, e Rabello começou a pensar numa alternativa. Surgia a ideia do Outdoor Social. Para iniciar o negócio, a empreendedora investiu 600 mil reais do próprio bolso.

De lá para cá, a empresa – que tem 20 funcionários fixos, 150 coordenadores e está presente em todos os estados brasileiros – já gerou renda para 30 mil moradores, num total de 2,5 milhões reais. Em 2016, o faturamento do Outdoor Social foi de 3,5 milhões de reais – a expectativa é chegar em 10 milhões de reais neste ano.

A meta do negócio é abocanhar 1% do que é gasto pelo mercado publicitário em anúncios externos, o que, segundo Rabello, equivale a 28 milhões de reais. “Com isso, conseguiremos gerar R$ 11 milhões em renda”, calcula.

Para ampliar dessa forma, o Outdoor Social está neste momento em busca de investimento. Além da expansão, a ideia é que o dinheiro ajude a alavancar um projeto de educação a distância focado em jovens, mulheres desempregadas há mais de três anos e empreendedores locais – mais uma forma de gerar impacto para as comunidades atendidas pela empresa.

Para Rabello, a tendência dos negócios sociais ainda é incipiente, mas deve crescer nos próximos anos, e quem sabe receber mais reconhecimento do poder público. Afinal, hoje, o  Outdoor Social paga a mesma carga tributária de uma empresa de outdoors comum, lembra a empreendedora.

“Acho que somos o que os orgânicos eram há alguns anos. Ás vezes o cliente fala ‘está caro’, mas eu argumento que entregamos algo completamente diferente. Estou envolvendo pessoas, gerando impacto social, além de entregar a mídia. E muitos anunciantes recebem mensagens de agradecimento das pessoas que participaram, além de perceberem aumento nas vendas”.

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