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Na dose certa em casos de intoxicação

O médico Flávio Zambrone criou um negócio que fatura 5 milhões de reais por ano ao ajudar laboratórios farmacêuticos e indústrias químicas a orientar os consumidores em casos de intoxicação

Flávio Zambrone: "O trabalho da Planitox é ajudar outras empresas a gerenciar informação numa área fundamental para a saúde de seus clientes" (Felipe Gombossy)

Flávio Zambrone: "O trabalho da Planitox é ajudar outras empresas a gerenciar informação numa área fundamental para a saúde de seus clientes" (Felipe Gombossy)

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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2012 às 06h00.

São Paulo - O negócio do médico Flávio Zambrone, de 58 anos, é lidar com um assunto potencialmente incômodo para indústrias químicas, fabricantes de produtos de limpeza e laboratórios de medicamentos — o risco que essas empresas correm de que seus produtos causem intoxicação nos consumidores.

Ele é dono da Planitox, que presta assessoria técnica e científica para clientes como Basf, Unilever e Bayer. No ano passado, seu faturamento chegou a 5 milhões de reais. 

Parte do trabalho da Planitox é avaliar os problemas que substâncias químicas, produtos de limpeza e medicamentos podem causar aos consumidores — e informar seus clientes sobre a melhor forma de orientar os consumidores em casos de intoxicação. Um dos serviços oferecidos é um número 0800 para o qual os consumidores podem ligar em busca de orientação sobre como agir nessas situações. Quem liga é atendido por uma equipe de médicos, enfermeiros e farmacêuticos.

Em média, a central telefônica da Planitox recebe 2 000 ligações por mês de gente em apuros — há desde telefonemas de pessoas que tiveram contato com substâncias tóxicas por acidente até pais desesperados para saber o que fazer com uma criança que ingeriu detergente líquido ou um vidro de xarope. "Nosso trabalho é ajudar outras empresas a gerenciar informações fundamentais para a saúde de seus clientes", diz Zambrone. 


Outra fonte de receitas é a elaboração de dossiês com estudos toxicológicos sobre as substâncias que entram na composição dos produtos dos clientes — uma exigência de órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária que as empresas devem cumprir para receber a autorização para lançar seus produtos. Nos últimos anos, o crescente interesse de multinacionais pelo mercado brasileiro impulsionou o crescimento da Planitox.

"O Brasil tem uma legislação muito rigorosa sobre direitos do consumidor e para o registro de produtos químicos, alimentos e medicamentos", diz Zambrone. Por causa das particularidades dessas regras, a maioria das grandes companhias prefere ter especialistas locais para ajudar suas filiais a lidar com eventuais problemas com os consumidores.

"O mercado brasileiro tem atraído muitos competidores internacionais no setor de saúde, o que torna o cenário bastante promissor para um negócio como o da Planitox", diz o advogado Pedro Cassab, que assessora empresas internacionais do setor interessadas em atuar no Brasil.  

Zambrone fundou a Planitox em 1994, quando decidiu deixar para trás o consultório médico e uma carreira como professor universitário. Seu interesse por toxicologia começou nos anos 80, pouco tempo depois de concluir residência médica em nefrologia.

Na época, ele trabalhava no pronto-socorro municipal de São José dos Campos, no interior de São Paulo, quando um vazamento de gás numa indústria química da cidade causou a morte de oito pessoas. "Foi um episódio que me marcou muito", diz ele. "Percebi que o acidente poderia ter sido menos grave se as pessoas tivessem mais informação sobre como agir naquela situação." 


O caso deu a Zambrone a ideia de criar um centro de informações toxicológicas, para o qual os moradores da cidade pudessem ligar em busca de orientação sobre o que fazer em caso de envenenamento. Ele concebeu uma estrutura que cabia numa salinha do pronto- socorro, onde alguém ficava de plantão para atender os telefonemas.

Para os casos mais difíceis, Zambrone fechou um convênio com um centro de informações toxicológicas de Porto Alegre, que mantinha um banco de dados com informações sobre os procedimentos de emergência a ser tomados dependendo do tipo de substância que havia causado o envenenamento. "Era tudo muito simples, mas funcionava bem", diz Zambrone. "O custo era baixo, e o modelo acabou sendo copiado em diversas cidades do interior paulista."

A experiência levou Zambrone a ser convidado para criar um centro de informações toxicológicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde foi contratado como professor. Foi quando ele percebeu que havia uma oportunidade a ser explorada.

"Vi que poderíamos trabalhar para grandes empresas, que precisavam de alguém que prestasse serviços de orientação aos consumidores em casos de intoxicação", diz ele. A ideia, no entanto, não foi bem recebida na universidade. Zambrone decidiu sair para fazer um doutorado em toxicologia na França. Ao voltar, em 1994, ele criou a Planitox para explorar esse mercado. 

Para manter o crescimento de sua empresa, Zambrone precisa vencer o desafio da falta de mão de obra. "Há poucos profissionais de saúde especializados em toxicologia no país", diz ele. "Preciso formar boa parte de minha mão de obra." Para tentar evitar problemas, Zambrone criou no ano passado o Instituto Brasileiro de Toxicologia, braço de negócios da Planitox para treinar pessoal. "A ideia é formar profissionais para a empresa e para os clientes."

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