São Paulo – A economia brasileira está em crise? Não para o mercado pet. Quem investe em produtos para bichinhos de estimação tem visto suas vendas aumentarem mesmo no momento de recessão que o país atravessa. O motivo? “Os bichos hoje são parte da família, então as pessoas não deixam de gastar com eles”, analisa Victor Ramos, um dos sócios da VegPet, empresa que vende ração vegetariana e produtos naturais para animais.
A história da empresa começou já em meio à crise, em 2014. Ramos conta que a ideia surgiu da necessidade dos próprios fundadores: vegetarianos e amantes de bichos, eles perceberam o quanto era difícil encontrar no mercado produtos sem proteína animal para seus cãezinhos.
Surgiu então uma parceria com a empresa holandesa Trouw Nutrition que produz ração vegetariana no interior de São Paulo. “A ração vegetariana melhora a digestão, e as fezes do cão ficam quase sem cheiro. Também é ótima para cães com algum tipo de alergia”, recomenda.
Além do produto, a VegPet hoje vende diversos itens naturais para bicho, como petiscos artesanais e shampoo antialérgico. As vendas acontecem principalmente pela internet, e, no caso da ração vegetariana, também em pontos de venda como Ponto Frio e Pet Z – os sócios estão em busca de novos distribuidores parceiros.
“No começo da operação tínhamos cinco pedidos por mês, hoje são 350”, comemora Ramos. A loja virtual tem cerca de 1.100 clientes ativos e espera fechar 2015 com um faturamento de 350 mil reais – para 2016, a expectativa é triplicar este valor.
Números do mercado
Os números da VegPet refletem a realidade do mercado. De acordo com a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), o setor faturou 16,7 bilhões de reais em 2014. Para 2015, a projeção é de de 17,9 bilhões de reais, um crescimento de 7,4%. O Brasil tem hoje a segunda maior população de cães e gatos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
A disposição do consumidor em gastar com seus bichinhos tem levado outra empresa a faturar. A Petix, que está no mercado há oito anos, espera fechar 2015 com um faturamento de 42 milhões de reais, 35% a mais que os 31 milhões do ano passado. O principal produto da empresa são os tapetes higiênicos para cães.
“Nosso produto ainda é pouco conhecido no Brasil, então ainda temos muito para crescer”, afirma Luiz Fernando Lourenço, um dos donos do negócio. Ele conta que a Petix agora busca investidores para ajudar em sua expansão: a meta da empresa é chegar a um faturamento de 200 milhões de reais nos próximos cinco anos.
Tinder de cães
O tapete higiênico da Petix não é o único produto ainda pouco conhecido no mercado pet. Pensando nisso outra empresa resolveu investir em apresentar essas novidades aos amantes dos animais. Fundada há cerca de dois anos, a DogLikers criou um serviço de assinaturas que leva até a casa do cliente uma caixa com cinco produtos pet diferentes todo mês – é a LikeBox.
“Esse é um mercado que tem crescido muito, e as pessoas nem sempre têm tempo para ir atrás de novidades”, afirma Gustavo Monteiro, um dos fundadores da startup. Hoje, a LikeBox tem cerca de 200 assinantes por mês.
Além da “caixa surpresa”, a startup lançou há cerca de três meses outro produto que tem feito sucesso: é o Au.dote, um aplicativo para adoção de cães que funciona como o Tinder. As organizações de adoção de animais alimentam os perfis dos animaizinhos, e as pessoas interessadas em adotar sinalizam quando gostam de um dos bichos.
O app já tem parceria com 22 ONGs e 1.500 animais cadastrados. A expectativa é chegar a 150 entidades cadastradas em 2016. O aplicativo é gratuito, e a startup busca agora patrocinadores para ajudar a mantê-lo. “O grande objetivo desse projeto é a causa. Hoje existem 20 milhões de cães abandonados no país”, afirma Monteiro.
Assim como VegPet e Petix, a Doglikers também espera crescer neste período de crise. A expectativa da startup é fechar 2015 com faturamento de 220 mil reais e chegar ao final de 2016 com 350 mil. “Num momento como esse, as pessoas deixam de comprar roupas caras, mas não vão economizar com seu cão”, reforça Monteiro.
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1. Da ideia à ação
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São Paulo - Na
crise econômica, montar um negócio pode ser uma forma de fugir do desemprego, ou ainda uma oportunidade de ganhar mais do que com como funcionário. No entanto, o período de incertezas aumenta o medo de o empreendimento ir por água abaixo. Sendo assim, como saber qual
ideia de negócio dá certo numa época em que todas as moedas são contadas? Antes de tudo, é preciso entender que a recessão é uma época em que as pessoas querem se defender de algo. "Toda vez que a gente entra em uma crise, as pessoas se posicionam contra determinadas ameaças. Mas, todas as vezes que elas existem, há também oportunidades de negócio", diz Luiz Arnaldo Biagio, professor da Business School São Paulo (BSP). "Essa é a hora de buscar o que você pode fazer de diferente, e tem muita gente prosperando. Claro que não é fácil, mas a gente não pode se abater: a crise tem que servir como um motivador", afirma Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e professora de empreendedorismo na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no Insper. Por incrível que pareça, a recessão pode ajudar o empreendedor nacional. Isso porque, com a alta do dólar, a importação se torna uma opção mais cara. "Produtores nacionais podem colocar produtos no mercado e se apresentar para grandes empresas", analisa Pedro Vidigal, membro da Fundepar, gestora de investimentos em empresas tecnológicas de universidades. Seja qual for o foco do negócio, um empreendedor em tempos de crise não pode se esquecer da situação de seus clientes, que estão controlando mais os gastos. "As pessoas evitam gastar mais com coisas novas, ou seja, há uma tendência de segurar o dinheiro. Você terá que ser mais certeiro no seu negócio", diz Max Bianchi Godoy, professor de planejamento estratégico do Ibmec/DF. Para acertar esse alvo, a palavra de ordem é estudar muito o mercado e olhar todas as possbilidades. Por isso, os quatro especialistas deram dicas de ideias de negócio que podem dar certo durante a recessão econômica - e por quê. Navegue nas fotos acima e veja algumas dessas ideias.
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2. Venda de cosméticos no varejo
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A vaidade é a
quarta maior economia do mundo, movimentando uma quantia maior que o PIB da Alemanha. No Brasil, é um mercado consolidado. "A possibilidade de negócio nessa área é muito grande, as pessoas não deixam a beleza de lado", diz Biagio. Na crise, o professor afirma que muitas pessoas optam por trocar o salão de beleza pelos cuidados em casa. Sendo assim, uma boa ideia de negócio é apostar em produtos de beleza voltados ao consumidor final, oferecendo uma solução mais barata para quem não pode ou não quer se descuidar da aparência.
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3. Comida prática
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Com crise ou sem crise, o setor de alimentação continua faturando. Mas os consumidores podem poupar idas a restaurantes em prol de opções mais modestas. Por isso, Biagio recomenda buscar algum negócio no setor que facilite a vida do cliente (e que seja financeiramente mais viável). Por exemplo, ao invés de ele ir a restaurante para comer uma salada, o que envolve deslocamento e um preço alto, ofereça uma salada pronta, vendida em supermercados.
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4. Empreendimentos sobre rodas
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4/13 (Creative Commons/Flickr/Todd Lappin)
Muitas pessoas demitidas pegam seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e usam o valor para transformar vans e caminhões em um negócio, diz Godoy. Mas, para que a tendência não vire fracasso, o professor recomenda se especializar em poucos produtos, mas inovadores. "Eles devem ser baratos e atrair as pessoas", afirma. A dica do especialista é buscar algo diferente, e fugir do óbvio "como as comidas gordurosas que sempre existiram na rua". Para regiões que tenham um apelo de "geração saúde", por exemplo, uma ideia é investir em sucos diferenciados, voltados para uma alimentação saudável.
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5. Conserto de produtos
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As roupas descosturam e o smartphone quebra. Quem geralmente iria direto comprar um substituto se depara com um orçamento apertado durante a crise econômica. A alternativa? Procurar um serviço de reparos. "Em geral, o negócio de consertos tende a sobreviver mais na crise, porque as pessoas tendem a conservar mais o que elas já têm.", diz Godoy. Por isso, serviços como costura, carpintaria e assistência técnica, em geral, são mais requisitados nesse momento.
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6. Móveis montáveis
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Comprar um móvel para a casa já implica um grande custo, em especial épocas de crise. Por isso, quem realmente precisa gastar com esses itens irá procurar uma maneira de poupar em gastos adicionais. Nessas horas, oferecer móveis montáveis surge como uma alternativa, já que não há o valor de montagem incluído, recomenda Biagio. A pioneira no serviço é a loja sueca Ikea, mas alguns empreendedores estão criando negócios inovadores com a mesma possibilidade, como
os blocos de Lego da vida real.
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7. Treinamento em vendas e relacionamento com cliente
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Todo negócio procura vender mais durante a recessão. Nessa empreitada, alguns percebem que talvez precisam aprender a arte da negociação comercial. "Na crise, o conhecimento de vendas está sendo muito demandado", diz Ana. "Quem tem esse conhecimento e consegue compartilhá-lo pode montar um negócio sobre ensinar a vender". Mas não se trata somente de vender mais, e sim vender melhor. Por isso, um empreendedor que ensine não só a vender, mas também a fazer o pós-venda, encontra boas oportunidades. "É algo de que muita gente fala, mas existem poucos que conseguem ensinar o relacionamento com o cliente de uma forma direta e assertiva, com ações práticas".
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8. Divulgação e conteúdo para pequenas e médias empresas
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Um ponto de deficiência em muitos empreendimentos iniciais é a falta de uma divulgação eficiente. Por isso, Ana afirma que empreendedores com experiência em comunicação podem encontrar um mercado ainda pouco desenvolvido: o de assessoria especializada no setor das PMEs. O trabalho de marketing se relaciona com o da produção de conteúdo, algo muito requisitado pelos consumidores de um negócio. Não se trata apenas de realizar anúncios publicitários de um produto de beleza, por exemplo, mas também gerar informação que ajude o cliente no seu dia a dia, como os benefícios de cuidar da estética. "Não há muitas pessoas ou negócios que consigam gerar um conteúdo relevante e que, ao mesmo tempo, agrade as pessoas".
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9. Negociação digital entre varejo, empreendedor e consumidor
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9/13 (Pekic/Thinkstock)
Muitas pessoas têm algo que gostariam de vender: roupas usadas, livros já lidos, artesanato ou docinhos. Mas montar um comércio eletrônico próprio é uma tarefa árdua, que gera sucesso para poucos. Por isso, montar o chamado marketplace, que conecta os empreendedores aos consumidores finais, pode se tornar uma boa ideia de negócio. "Tem muita gente com produto, mas que precisa de um canal de vendas, e é isso que falta para o negócio deslanchar", explica Ana. Já Vidigal sugere uma outra nuance dentro da negociação online: conectar empreendedores virtuais não aos seus clientes, mas aos gigantes do setor. A ideia do negócio seria oferecer uma proposta à varejista para comprar produtos dos pequenos empreendedores: vale oferecer um desconto se a gigante comprar em grande quantidade. "No momento de crise, se as pessoas tiverem uma oportunidade de comprar com menor custo, elas deixam de frear as compras para apenas desacelerá-las".
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10. Redução de custo em logística
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Logística é um assunto complicado e que gera gastos enormes, especialmente para os empreendimentos brasileiros. Segundo Vidigal, ter um negócio que proponha a redução de custos na área gera um grande atrativo, especialmente em distribuidoras e indústrias de grande porte. O especialista recomenda oferecer como proposta a otimização dos fluxos logísticos internos do cliente, por meio de recursos tecnológicos e de novidades digitais. O empreendedor poderia tanto trabalhar para outras empresas quanto para serviços públicos.
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11. Economia de energia
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Na mesma linha de poupança de gastos empresariais, reduzir o custo da salgada conta de luz é uma grande preocupação dos negócios. O empreendedor inovador, que tem conhecimento de hardware e de serviços na nuvem, possui uma boa oportunidade de startup nas mãos. Segundo Vidigal, soluções de economia de energia que possam ser acopladas a hospitais, condomínios, universidades e órgãos públicos têm um apelo tanto pela redução de custo, que é o foco da grande maioria dos empresários, quanto pela sustentabilidade.
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12. Franqueamento
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12/13 (Szepy/Thinkstock)
O setor de franquias
cresceu 11,2% neste semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Em comparação com um negócio próprio, o franqueamento costuma ser mais seguro, uma vez que o franqueador já possui o
know-how sobre a área de atuação da franquia. "O grande problema é que há um investimento inicial alto e, às vezes, é preciso buscar um sócio. Mas tem sido um bom negócio", afirma Godoy. Ter uma marca conhecida do público também pode ajudar em épocas de crise. "A pessoa não se arrisca muito nessas horas, então é difícil construir um nome no mercado. A pessoa prefere pagar mais para não ter dor de cabeça no futuro". O docente destaca que, já que o franqueamento é apenas um modelo, é possível ter uma franquia com as ideias de negócio apresentadas anteriormente, aumentando as chances de sucesso na recessão.
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13. Veja agora quem transformou a ideia em realidade:
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13/13 (ThinkStock/sjenner13)