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Mesmo com coronavírus, pequenas e médias empresas não podem parar

Paralisar atividades afetaria diretamente o pagamento de contas e salários; alternativa é a tomada de crédito com fintechs e bancos tradicionais

Restaurante em São Paulo: brasileiros esperam se reunir com os amigos e sair após a pandemia (El Pampero/Instagram)

Restaurante em São Paulo: brasileiros esperam se reunir com os amigos e sair após a pandemia (El Pampero/Instagram)

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Carolina Ingizza

Publicado em 16 de março de 2020 às 19h00.

Última atualização em 16 de março de 2020 às 20h32.

Os pequenos e médios negócios do país começam a sentir os primeiros efeitos da pandemia de coronavírus. No último sábado, as sete unidades da rede paulista de beleza Espaço Nails tiveram demanda 30% menor do que a média para o dia da semana. Os agendamentos fixos também foram reduzidos pela metade, como medida da presidente Kelly Nogueira para evitar aglomeração nas lojas.  

Na academia e estúdio de pilates de Adriana Segall, que opera no bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo, o impacto foi percebido nesta manhã: as alunas mais velhas cancelaram as aulas. Por ora, os efeitos sobre a receita são mínimos, já que o estúdio vende pacotes mensais e planeja repor as atividades futuramente. “A gente não pode fechar assim, sem saber o que fazer. Estamos tomando os cuidados e aguardando um pouco”, diz Adriana.

Já no restaurante El Pampero, que fica no bairro de Pinheiros, em São Paulo, os primeiros efeitos também foram sentidos nesta segunda-feira 16. O número de clientes começou a cair e alguns produtos foram difíceis de ser encontrados. “Em geral, compro duas caixas de bife de ancho para a semana, mas hoje só tinha uma disponível no fornecedor. A tabela de venda está mais restrita, nunca tinha acontecido isso”, diz Rodrigo Trindade, dono da operação.

Nas redes sociais, o restaurante publicou que seguirá aberto até segunda ordem. A nota reforçou as medidas sanitárias que estão sendo tomadas pela equipe para evitar a transmissão do vírus e fez um apelo aos clientes: "Não deixemos a crise sanitária se transformar em crise econômica. Os pequenos comércios não sobrevivem!! Valorize o pequeno comércio próximo a você!"

Trindade está preocupado caso a situação de crise se agrave, pois não tem capital para pagar os custos fixos caso o restaurante precise fechar por alguns dias. “Tenho oito funcionários e a empresa vive do dia a dia. A única possibilidade de a gente parar é se o governo financiar os custos, ou se for criada uma linha de crédito quase a custo zero”, diz. 

A situação do restaurante é a mesma de outras empresas desse porte. De acordo com dados do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, em fevereiro, antes da crise do coronavírus se intensificar, apenas 11% das micro e pequenas indústrias tinham recursos suficientes de capital de giro. Para o presidente do sindicato, Joseph Cury, uma parada impactaria diretamente o fluxo de caixa das empresas e, por consequência, o pagamento de suas obrigações.

Cury defende também a necessidade de concessão de crédito imediatamente para que essas companhias sobrevivam, bem como a prorrogação do pagamento de impostos e o parcelamento de dívidas já existentes. “Se não houver mudança de postura e de financiamento, o impacto negativo vai ser muito grande”, diz o líder sindical. 

Posição do governo 

No final da tarde desta segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o governo irá injetar 147 bilhões de reais na economia nos próximos três meses para blindar o país dos impactos do avanço do coronavírus.

Para proteger os empregos, o govero planeja tirar das empresas a responsabilidade de pagar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) do trabalhador por três meses. Nessa esteira, as pequenas e médias empresas também ficam pelo mesmo período isentas de pagar o Simples, o que é estimado em 22 bilhões de reais de diferimento.

Além disso, Guedes também anunciou que o Sistema S (Sesi, Sesc, Senai) ficará pelo mesmo período sem 50% das contribuições feitas pelo cidadão.

Procura por crédito aumenta

As PMEs já estão em busca de crédito para passar pela crise. Segundo a fintech BizCapital, fundada em 2016 para oferecer empréstimos online para o setor, houve um aumento de 40% nos pedidos de empréstimo só na última semana — quando a Organização Mundial de Saúde declarou pandemia da doença. Desde a confirmação do primeiro caso no país, as buscas por crédito cresceram 15% na plataforma. 

A empresa, que tem 5.500 clientes com faturamento de até 5 milhões de reais, está em contato com sua base para entender o impacto da crise e planejar mudanças no modelo de crédito. Francisco Ferreira, sócio-fundador da startup, diz que os setores de hotelaria e restaurantes têm reclamado de queda no faturamento, bem como as empresas que vendem produtos importados da China. 

Ele recomenda que as PMEs façam uma análise do possível impacto da crise no seu faturamento e solicitem o crédito antes de ter o negócio impactado. “É mais fácil pegar o dinheiro quando o negócio está bem do que quando as finanças já estão muito abaladas”, explica. No caso da BizCapital, se a documentação da empresa estiver em ordem, pode conseguir até 200.000 reais na conta em até um dia útil, com juros que variam de 1,99% a 6,49% ao mês, carência de 60 dias e prazo de pagamento de até 24 meses

A fintech Weel, que tem 15.000 empresas cadastradas, todas com faturamento médio a partir de 10 milhões de reais, também notou um aumento na procura por linhas de crédito. Nathan Yoles, vice-presidente da companhia, afirma que desde o início da crise do coronavírus na China houve um crescimento de 84% na procura por linhas de crédito para o setor de saúde. No total, a empresa estima que a demanda por capital de giro deva aumentar em 220% somente neste segmento. 

Para atender as empresas diretamente relacionadas com esse setor, a fintech está abrindo um processo de análise específico, mais rápido, com linhas de valor até 250% maior que as de instituições tradicionais. A startup trabalha com antecipação de recebíveis de notas e depósitos, garantindo que as empresas tenham capital de giro.

Operando em modelo similar, a fintech Monkey Exchange também sentiu uma demanda maior. Segundo o fundador Gustavo Muller, neste primeiro trimestre, a companhia financiou mais de 1 bilhão de reais, um crescimento de dez vezes em relação ao mesmo período do ano passado. 

A startup conecta 5.000 empresas fornecedoras de 34 grandes empresas com instituições do mercado financeiro. “Pelo fato de financiar a pequena empresa com risco da grande, a gente consegue um preço bastante aceitável e menor do que o do mercado tradicional”, diz Muller.

Minas Gerais oferece crédito para saúde

Tentando proteger também o setor de saúde, que deve ser muito demandado a partir de agora, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) lançou três linhas de crédito com condições especiais para empresas de todos os portes do setor no estado. Juntas, as linhas somam 500 milhões de reais em crédito. 

Para as micro e pequenas empresas, com faturamento de até 4,8 milhões de reais, será oferecido um produto com juros prefixados a partir de 0,83% ao mês, prazo de pagamento de até 48 meses e até seis meses de carência. Para empresas que faturam entre 4,8 milhões e 30 milhões de reais, o banco lançou uma opção com taxas a partir de 0,83% ao mês indexadas à Selic, prazo de até 60 meses e carência de até seis meses. 

Já para empresas maiores, com faturamento superior a 30 milhões de reais, a linha BDMG Saúde vai oferecer taxas de juro diferenciadas, variando pelo tipo de cliente, com prazo de até 60 meses e carência de 18 meses. 

“Nossa ideia nesse momento inicial é dar um apoio ao setor que mais está sendo afetado”, diz Sérgio Gusmão, presidente do banco. Nos próximos dias, o banco estuda uma nova linha de crédito para empresas dos demais setores que também tiverem suas operações impactadas pelo coronavírus. 

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